Como tudo nesse mundo, as portarias de prédios e condomínios estão cada vez mais tecnológicas. Figura importante para os moradores, mas cada vez mais rara em Campo Grande, porteiros têm perdido espaço para portarias eletrônicas – escolhidas como opções mais baratas, e a categoria se preocupa com o desemprego.
Orlando Marcelino da Silva, de 51 anos, trabalha desde 2020 como porteiro de um prédio residencial na rua 13 de maio. Ele já até ouviu falar de portaria eletrônica, mas nunca viu funcionando. “A tecnologia é uma junção que facilita o trabalho, mas acredito que, principalmente para as entregas, facilita muito ter portaria pessoal”, opina.
As portarias eletrônicas, que também podem ser chamadas de digitais ou remotas, funcionam à distância. Há um mecanismo de biometria, tag, cartão ou código QR que permite que moradores e pessoas autorizadas entrem no local. Alguns modelos têm funcionários contratados por empresa de segurança terceirizada em uma central de atendimento, que pode ficar a quilômetros de distância do condomínio, para liberar encomendas e visitantes pelo interfone.
Contudo, esta opção pode ter custos de implantação e manutenção mais baixos que o de um porteiro humano, em longo prazo. O piso salarial da categoria é de R$ 1.600 em Campo Grande, pouco mais que um salário mínimo.
Porteiros eletrônicos: modernidade que gera desemprego
Porteiro de condomínio na região central de Campo Grande, ouvido pelo Jornal Midiamax, afirma que precisou lutar pelo emprego dele e de colegas, quando a administradora do local propôs implantar portaria digital. “Pais de família com mais de 20 anos de serviço iam para a rua, é muito difícil”, lamenta. Muita conversa foi necessária para evitar as demissões e, justamente para manter o emprego, o porteiro preferiu não se identificar à reportagem.
Na Rua 14 de Julho, moradora de um condomínio que há menos de um ano trocou a portaria humana pela digital reprova a novidade. “O principal problema é o desemprego e, além disso, a segurança. Já aconteceu de abrir o portão para carro e entrar uma pessoa a pé. Se tivesse o porteiro ali, ele teria impedido”, opina.
Presidente do Secorciti (Sindicato dos Trabalhadores em Condomínios e Imobiliárias), Marcos Roberto Campos de Souza, também se posiciona frontalmente contrário às portarias eletrônicas. “É um serviço frio. Na maioria das vezes, a portaria virtual não consegue prestar o mesmo serviço, nem em nível de segurança, nem de atendimento aos condôminos”.
Assim, o sindicalista afirma que percebe um movimento contrário entre os condomínios que aderiram à novidade tecnológica. “Temos vários que estão voltando para o físico por problemas na segurança, atendimento a idosos, dificuldade na retirada de encomendas… Se a internet falha, não abre o portão. Isso atrasa a rotina dos moradores e causa insatisfação”, explica.

Portaria além do interfone
Para quem vive disso, a profissão vai muito além de abrir o portão e receber encomendas. “Aqui é minha segunda casa, criei vínculos com o pessoal, fiz amizades. Tudo passa pela portaria primeiro, um condomínio sem porteiro perde muito”, afirma Waldir Laurentino da Silva, de 49 anos, que trabalha em dois condomínios há 30 anos.
Esta é a mesma opinião de Luciene Araújo, de 42 anos, que trabalha na portaria de um prédio comercial há dois anos. “Acho que a portaria 100% eletrônica não funciona. A gente tem que olhar tudo, monitorar as câmeras, levar pacotes. Acaba que conheço todo mundo que passa aqui.”
Para Orlando Marcelino da Silva, sobra até o serviço de manobrista para auxiliar quem precisa. “Ajudamos aqueles moradores com dificuldade para estacionar. A presença do porteiro promove segurança para o prédio, eu gosto muito da minha profissão”.
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