O prédio histórico do Cedami (Centro de Apoio aos Migrantes), situado na Rua Visconde de Taunay, no Bairro Amambaí, é ponto de convergência a quem precisa de apoio. Assim, ele reúne inúmeras histórias, principalmente imigrantes, que buscam abrigo e acolhimento em Campo Grande.
Entre janeiro e maio deste ano, 312 pessoas foram atendidas, sendo que 176 buscaram acolhimento. Desse total, 67 eram crianças de até 5 anos. No mesmo período, foram servidas 9.831 refeições, incluindo café da manhã, almoço e jantar.
Átila Henrique, coordenador do Cedami, explica que a unidade atende famílias em situação de vulnerabilidade que chegam a Campo Grande sem ter onde ficar. É realizada uma triagem inicial para encaminhamento ao mercado de trabalho, regularização de documentação e acesso à saúde.
Após a triagem, os encaminhamentos são feitos conforme a necessidade de cada indivíduo. Casos que demandam atendimento médico, por exemplo, são direcionados a pediatras, ginecologistas ou clínicos gerais, a partir de parcerias firmadas. Entre elas, estão convênios com unidades de saúde, tais como a UBS (Unidade Básica de Saúde) do Caiçara, a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Aero Rancho, e o PS Serradinho, que se deslocam até a instituição para atender às necessidades básicas de saúde dessas famílias.
Falta de documentação atrasa atendimento médico
A maioria das pessoas atendidas pelo Cedami são imigrantes, principalmente da Venezuela, que chegam ao Brasil via Bolívia, passando por Corumbá e pela Polícia Federal antes de seguir para Campo Grande. Muitos desses imigrantes têm se estabelecido na cidade devido à grande demanda por trabalho e às boas oportunidades no mercado local.
Logo, a documentação atualizada é um obstáculo. Em alguns casos, é necessário que o migrante possua o Cartão do SUS (Sistema Único de Saúde) para ser atendido. Muitos chegam sem conseguir passar pela Polícia Federal e precisam de auxílio imediato para se registrarem legalmente e ter acesso aos benefícios disponíveis no Brasil, como emprego e educação para as crianças.
“Embora a UPA atenda emergências, o encaminhamento para tratamentos específicos pode ser demorado devido à grande demanda. Apesar disso, os migrantes acabam sendo atendidos, mesmo que com espera. De forma geral, quanto à superlotação, eles não estão isentos, mas acabam sendo atendidos”.
Casos de extrema vulnerabilidade, como desnutrição e desidratação, são frequentes. Nessas circunstâncias, o centro aciona imediatamente os órgãos de saúde para garantir o atendimento necessário.

Cedami, abrigo temporário
Apesar de o foco principal ser o acolhimento de imigrantes, o Cedami também atende brasileiros em situação de vulnerabilidade, mas em menor número. Entre eles, estão pessoas do interior do Estado e até de outras capitais, como São Paulo e Brasília, que vêm a Campo Grande em busca de tratamentos médicos especializados não disponíveis em suas cidades de origem. O centro oferece acolhimento durante esse período de transição e tratamento.
Campo Grande, por sua proximidade com a Bolívia e o Paraguai, é uma importante porta de entrada para imigrantes. Muitos entram pela cidade, vindo de outras regiões do país, como Pacaraima, Roraima, ou diretamente dos países vizinhos. A cidade tem se tornado um destino crescente devido à grande demanda de trabalho.
Um desses acolhidos é Avizaid Leira, 28 anos, venezuelano que encontrou abrigo no local há três meses. Ele segue à procura de um trabalho, recebendo ajuda da instituição nos encaminhamentos de entrevistas.
“Aqui no Cedami me deram lugar para dormir e também fornecem refeições. Há muitos imigrantes morando nas ruas. O Brasil recebe os imigrantes muito bem, na minha opinião não há xenofobia, discriminação, o brasileiro recebe todos muito bem. Aqui quero melhorar minha vida e por isso procuro trabalho”.

Atuação
O Cedami atua há 40 anos, desde 1984, acolhendo e auxiliando pessoas em situação de vulnerabilidade. De forma rotativa, o Cedami direciona os indivíduos que chegam com seus objetivos.
A instituição privada é mantida pela Associação de Auxílio e Recuperação dos Hansenianos, que é mantenedora do Hospital São Julião. Atualmente, não recebe apoio ou subsídio municipal, ou federal, dependendo exclusivamente de doações para continuar suas atividades. Essas doações são cruciais para que o Cedami possa oferecer assistência às famílias.
Nisso, o acolhimento fornecido pelo Cedami inclui principalmente as refeições durante o período em que a pessoa está em transição, especialmente para resolver questões de saúde. Além das refeições, a instituição oferece dormitórios masculinos e femininos, com capacidade para 15 pessoas. No entanto, a demanda tem sido alta, chegando a 20 pessoas, o que ocasionalmente causa superlotação e dificulta o atendimento completo devido aos recursos limitados.
A equipe do Cedami é composta por sete profissionais: assistentes sociais (responsáveis por triagem, encaminhamentos e documentação), cozinheiros, duas serventes gerais e dois vigias noturnos.
“Como o centro não possui parceria pública, o financiamento depende inteiramente de recursos próprios da associação e de doações. A visibilidade do trabalho realizado é fundamental para a captação desses recursos. Uma mudança no olhar dos órgãos municipais e federais poderia proporcionar um serviço de maior extensão e alcance, ajudando ainda mais pessoas”.
Ainda segundo Átila, a unidade opera na mesma sede e tem a ambição de expandir sua capacidade de atendimento. No entanto, a falta de visibilidade e, consequentemente, de mais recursos financeiros, impede que esse objetivo seja plenamente alcançado.
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