Campo-grandenses enfrentam cada vez mais desafios para garantir qualidade e quantidade dos itens do café da manhã — tradicionalmente, a refeição mais importante do dia. Entre altas acumuladas, variações de mercado e improvisos na mesa, famílias precisam equilibrar as contas para não deixar de começar o dia com alimentação de qualidade.
Levantamento desta semana, feito pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), aponta que a cesta básica custou R$ 775,76 em julho na Capital. O valor colocou Campo Grande no ranking das cestas mais caras do Brasil, ocupando o 6º lugar.
Segundo o Dieese, o valor da cesta exige mais de 112 horas de trabalho para ser comprada, além de comprometer mais da metade do salário mínimo líquido.
Em um comparativo de junho para julho, alguns itens até registraram queda:
- Café em pó (-2,95%);
- Leite integral (-1,52%);
- Manteiga (-0,73%);
- Açúcar cristal (-3,69%).
Contudo, outros continuam subindo. O pão francês, por exemplo, teve alta de 0,97% nesse período. No acumulado de 12 meses, o impacto é ainda maior. Para se ter uma ideia, só o café torrado e moído — item básico do café da manhã dos campo-grandenses — disparou 90,06%.
Ronda feita pelo Jornal Midiamax em supermercados e mercadinhos de bairro mostrou como as diferenças de preços também pesam na decisão de compra. O litro do leite semidesnatado, que custa R$ 4,49 em um atacadista, chega a R$ 5,99 no mercado de bairro, reforçando o encarecimento desses itens.
‘Já deixei de comprar leite para levar pão’
Na casa de Giselle da Silva, mãe de quatro filhos, a alta dos preços já mudou a rotina do café da manhã. Ela admite que, muitas vezes, precisa improvisar. “Já deixei muitas vezes de comprar leite para levar pão, porque tá muito caro”, declara.
Giselle se desdobra para equilibrar o orçamento. Pesquisa preços em diferentes mercados, aproveita promoções e substitui itens caros por alternativas mais baratas. “Então, às vezes, tenho comprado mais pipoca e suco, além do chá, que se manteve no preço”, conta. Para ela, são opções mais práticas que cabem no orçamento.
O impacto não é somente alimentar, mas também emocional. Giselle conta que, volta e meia, precisa conversar com os filhos para tentar explicar a situação — principalmente, quando faltam itens básicos do café da manhã.
“Eles ficam tristes, mas, ao mesmo tempo, eu explico o porquê, falo que é porque a mamãe não trabalhou essa semana, não atendeu ninguém. Só que, como eles são crianças, eles não entendem esse lado”, detalha. “Nos fins de semana, tento fazer algo diferente. Compro um pão doce, uma coca, bolachinha, um danone para eles. Mas tenho que planejar, guardar o dinheirinho, porque tudo é muito caro”, relata.
Para conseguir equilibrar o orçamento, Giselle precisa se planejar bem a cada ida ao mercado. Ela fica de olho nos preços em diferentes lugares e, quando não dá para comprar tudo, troca itens ou leva menos, só para conseguir fazer caber no bolso.
Além de se virar no café da manhã, Giselle conta que mantém uma horta em casa. Nas demais refeições, os filhos comem verduras frescas, direto da terra. Desse modo, a horta ajuda a complementar a alimentação da família, de forma saudável, sem pesar no bolso.
Por que o café da manhã importa?
Começar o dia com energia é muito importante, principalmente para as crianças. É no café da manhã que o corpo recebe combustível e o cérebro se prepara para aprender e se concentrar.
À reportagem, a nutricionista Jéssica Alves Ferreira Brolezi ressalta que muitas famílias enfrentam dificuldades para montar uma refeição completa, devido aos preços altos de itens básicos. Por isso, ela reforça a importância de alternativas simples e acessíveis que ainda garantam nutrientes essenciais.
Jéssica alerta sobre os riscos de substituir alimentos básicos por opções ultraprocessadas, que têm pouco valor nutricional e podem afetar crescimento, concentração e imunidade das crianças. Segundo ela, ovos, tapioca, frutas da estação, vitaminas de frutas com aveia ou pães simples podem compor um café da manhã equilibrado.
Além disso, a nutricionista destaca a importância de políticas públicas e iniciativas comunitárias, como merenda escolar, hortas comunitárias e feiras populares, que ajudam famílias a manter uma alimentação de qualidade.
*Com supervisão de Guilherme Cavalcante.
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(Revisão: Dáfini Lisboa)
