Mais uma vez, a criação de cães da raça pit bull entra em debate após os recentes ataques em Campo Grande e Corumbá. Na última segunda-feira (1º), dois casos ganharam repercussão diante da gravidade dos ferimentos. Um cão morreu no ataque, e o rosto de um idoso de 62 anos foi desfigurado.
Pelas ruas da Capital, as opiniões sobre a criação desses animais divergem. Enquanto alguns temem a raça, outros argumentam que o manejo negligente é o principal fator responsável pela agressividade.
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Preferindo o anonimato, uma jovem operadora de caixa, de 32 anos, é uma das pessoas que conhecem bem a dor de ser atacada por um cão — no caso, da raça bull terrier, também conhecida por sua fama de agressividade. Ela relembra que, há dois anos, foi visitar um amigo quando o animal teria estranhado a presença dela, que havia ido ao banheiro. Ela guarda uma cicatriz no pé.
“Eu estava de calça e consegui, inicialmente, fazer ele soltar, mas na segunda bocada ele grudou no meu pé. Tive que tomar vacina e fazer acompanhamento. O bull terrier não tinha me estranhado quando cheguei; ele tinha me acompanhado com o dono. Não sabemos o que aconteceu para ele me atacar. Foi um susto, mas estou bem, apesar do trauma.”

Especificamente sobre o pit bull, a trabalhadora conta que familiares possuem um animal da raça que convive com um bebê. Assim, segundo ela, o cão é dócil e não houve episódios de agressividade.
“Ele [o cão] convive muito bem dentro de casa, no meio de todo mundo. Ele já escapou uma vez, mas não atacou ninguém. Na minha opinião, tudo depende da criação. Portão aberto é abertura para qualquer tipo de cachorro”, diz.
‘Jamais teria um’
Ignaldo Gomes da Cruz, de 45 anos, também é testemunha de um ataque da raça pit bull. Um amigo dele foi vítima das mordidas poderosas do animal, no Pará, e sofreu graves ferimentos.
“Era do meu vizinho. Por isso digo que jamais teria um cachorro dessa raça. Acho um animal muito traiçoeiro. Acho corajoso quem tem. Tem que ter muita responsabilidade.”

O engenheiro de produção Gabriel Ferreira, de 25 anos, teve um cão com mistura de raças, inclusive pit bull, que faleceu em decorrência da cinomose. Para ele, o animal era dócil.
“Na casa dos meus pais tem um projeto social. Então, há um ‘entra e sai’ de muita gente. E ele [o cão] ficava solto no quintal, sem problemas. Ele só estranhava quando desconhecidos batiam no portão.”
O passado
A agência de notícias de direitos e saúde animal, a ANDA, aborda uma pesquisa que descreve a origem da raça, utilizada para rinhas de cães. Consequentemente, os animais acabaram sendo explorados de forma violenta com fins de entretenimento. A associação da raça à imagem de lutadores tem raízes na Antiguidade, quando seus ancestrais molossos eram usados em guerras e nas primeiras rinhas.
Entender a origem da agressividade não é tarefa simples e exige um olhar histórico. Há relatos de caçadas a ursos, búfalos e elefantes utilizando bull-and-terriers de apenas 20 kg, registrados no livro de George P. Sanderson, Thirteen Years Among the Wild Beasts of India, de 1870.
Para a veterinária Dra. Gabriely Soares, da Clínica Monte Líbano, a reputação de cão agressivo se deve ao passado da raça em lutas e à sua força física, que pode ser mal utilizada por tutores irresponsáveis. Com socialização e educação adequadas desde cedo, e em um ambiente com treino positivo, o cão pode se tornar um animal de estimação afetuoso, brincalhão e leal, adaptando-se bem à vida em família.
“A medicina veterinária estuda o comportamento dos animais e suas causas, como as genéticas, neurológicas, ambientais e sociais. Pit bulls são frequentemente objeto de estudo por causa da fama de agressividade, para separar o que é mito, genética ou influência do ambiente”, pontua.
“A agressividade em pit bulls não é puramente genética, mas pode haver predisposição. O principal fator é a criação. Com boa socialização, amor, limites claros e estímulo adequado, um pit bull pode ser tão dócil quanto qualquer outra raça.”
Negligência na guarda
Na maioria dos casos de ataques, o fator predominante é a negligência na guarda por parte dos tutores. Os episódios indicam que os animais fogem de casa e acabam atacando outros cães, idosos e até crianças.
De acordo com a CCZ (Coordenadoria de Controle de Zoonoses), em casos de denúncia de animais soltos, são gerados autos de infração, que são analisados pela CJC (Coordenadoria de Julgamento e Consulta). No entanto, a secretaria esclarece que nem toda infração é convertida em multa e que há um trâmite até que haja uma deliberação. Sendo assim, cada caso é analisado individualmente.
Toda denúncia que resulta em auto de infração pode levar a uma advertência ou a multa. Existem vários fatores a serem considerados, como, por exemplo, se o animal é de grande porte, se oferece risco em potencial ou se já atacou anteriormente. Em caso de reincidência, a penalidade é agravada. Assim, o valor da multa previsto no código sanitário varia de R$ 100 a R$ 15 mil.
Legislação
Em Mato Grosso do Sul, a circulação com cães dessa raça possui restrições importantes. Logo, é proibido andar com o animal em vias públicas ou áreas comuns de condomínios, exceto quando sob a tutela de um responsável maior de 18 anos, estando o cão com guia curta, enforcador de aço e focinheira.
É estritamente proibida a permanência do animal em praças, parques, jardins e nas proximidades de unidades de ensino públicas e particulares, mesmo quando acompanhado e utilizando os equipamentos exigidos.
Portanto, apesar de regulamentar o tema, a lei não especifica quais são as sanções aplicadas em caso de descumprimento.
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