Nascido e criado no pantanal sul-mato-grossense, Flávio Ricardo, de 28 anos, passou um tempo fora, mas, retornou para a lida no campo aos 17 anos. É de lá o seu sustento e de sua família e é de lá também que ele conta um episódio que guardará em mente para o resto da vida: o momento em que sobreviveu ao ataque de uma onça. O fato ocorreu na última sexta-feira (3) e agora permanece medicado e em repouso, na Santa Casa, em Campo Grande.
Flávio veio de helicóptero graças ao sublime trabalho do Corpo de Bombeiros, que fez um rápido voo noturno, até a região de difícil acesso. Ao chegar na Capital, por volta da meia-noite, recebeu o devido atendimento médico. Ainda agradecendo o milagre e com sotaque corumbaense, conversou com o jornalista Paulo Cruz, que participa de expedições pantaneiras e conhecia a vítima.
‘Foi um milagre’, diz pantaneiro
“Foi um milagre. Foi Deus, tudo foi Deus, porque eu, eu imaginei que eu não ia sair dessa”, inicia. Na ocasião, Flávio e seu companheiro de lida cavalgavam pela Fazenda Milagre, quando se depararam com a carcaça de um animal morto. Nestes casos, é comum o pantaneiro verificar o que pode ter ocorrido, já que ali pode ser um animal da fazenda.
“Todo dia pegamos o cavalo e saímos para olhar um brejo que está secando, uma rez que está doente, aí estava eu e meu companheiro, daí ele saiu para um lado e eu para outro. Aí quando eu avistei uns urubus, cresci com isso já de pantaneiro, você vê um urubu, você já vai ver o que morreu, se é um cavalo, uma vaca, para você ficar ciente o que aconteceu”, contou.
Neste momento, já perto de uma moita e avistando os urubus, Flávio foi atacado pelo felino. “Ela me atacou aqui na perna. Pulou na minha perna e me puxou de cima do cavalo. Aí quando ela me derrubou no chão eu só botava meu braço para proteger e empurrar e, com a outra perna, eu a chutava. Aí que chegou o meu companheiro, gritou com ela e os cachorros latiram e ela largou de mim e foi embora. Daí o meu companheiro ficou sem reação, porque ele me viu todo machucado, aí ele procurou primeiro me atender e o bicho foi embora”, relembra.
‘O bicho é rápido demais’, conta vítima de ataque

Naquele instante, os cachorros permaneceram ao lado dos trabalhadores. “Não teve momento e nem se tivesse com arma não teria momento de reagir, não tinha reação. Foi muito rápido, o bicho é rápido demais. E eu não estava esperando que a onça estaria lá embaixo. Se eu estivesse esperando nem lá eu chegaria”, comentou.
Flávio diz que acredita que a onça estava com alguma carniça por perto. “Não fomos lá depois para ver, porque eu já tive que vir para cá [hospital], mas, eu creio que ela estava com algum animal lá. Mas a gente foi procurar saber o que era porque às vezes é um cavalo, uma vaca de leite. Eu nunca tinha visto ela [onça]. A gente vê batida, pegada, mas assim, ficar frente a frente com ela foi a primeira vez. Eu pensava só em Deus, porque só ele para me tirar dali e eu acho que foi isso”, disse, complementando que “foi coisa de segundos, de cinco a oito segundos”.
Ao jornalista, Flávio conta que foi para a sede, cavalgando por cerca de meia hora, enquanto o seu colega foi caminhando com os cachorros. Ao chegar, sua esposa é quem deu os primeiros socorros, enquanto o atendimento médico iniciou após algumas horas. Na ala de traumas, Flávio precisou passar por cirurgias para a retirada de dentes do felino que ficaram em seu corpo.
Em casos de emergência, os telefones para pedidos de socorro são o 193 e o (67) 99858-0319, que atende também por WhatsApp.
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