Enquanto mantém 57 veículos irregulares rodando em Campo Grande, o Consórcio Guaicurus requenta o teste ecológico do ônibus movido a gás natural e biometano — anunciado como novidade na quinta-feira (17). Isso porque, na verdade, ele já rodou por pelo menos outras sete cidades do Brasil e foi fabricado há 7 anos.
“Se quisesse mesmo, o Consórcio já teria comprado esses ônibus movidos a gás. É um teste repetido em várias cidades”, denunciou um dos funcionários do próprio grupo de empresas ao Jornal Midiamax. “Em cada município, muda só o envelopamento, mas o veículo é o mesmo e a circulação é sempre temporária”, completou.
Usuários de transporte público ouvidos pela reportagem acreditam que esta seria uma tentativa de “enganar a população”, em meio à CPI do Consórcio Guaicurus, já que o veículo seria “mais rodado que notícia ruim”.
O Jornal Midiamax encontrou registros de ônibus com a mesma placa circulando em Ponta Grossa (PR), Recife (PE), Curitiba (PR), Goiânia (GO), Senador Canedo (GO), Londrina (PR) e Rio de Janeiro (RJ). Nesta última cidade, o veículo foi utilizado até para viagens intermunicipais.
Na verdade, a circulação do ônibus a gás em Campo Grande trata-se de um projeto da Scania (marca fabricante de ônibus e caminhões), que cede os ônibus sustentáveis para uma espécie de test drive. A intenção da marca é vender os veículos ao fim da demonstração, mas até agora o Consórcio Guaicurus não teria demonstrado intenção de, de fato, adquirir o ônibus.
Além disso, o mesmíssimo ônibus já passou por Campo Grande em outubro de 2024 e foi fotografado em frente ao Bioparque Pantanal. O veículo teria circulado na linha 082 (Aero Rancho/Shopping) por apenas três dias, antes de seguir viagem para Goiânia, conforme fontes ouvidas pela reportagem.

Só 30 dias
No Rio de Janeiro, o veículo cobriu as rotas Rio de Janeiro x Barra Mansa e Duque de Caxias x Barra da Tijuca. A diferença é que, em terras cariocas, o anúncio do teste veio com a promessa de uma frota sustentável até 2027 e o lançamento de R$ 125 milhões em investimentos para viabilizar o plano.
Já no Paraná, o ônibus rodou mais de 280 km, diariamente por um mês, entre São José dos Pinhais e Curitiba, segundo a imprensa local. Por lá, também foi anunciada a ideia de expandir a frota de veículos com ônibus que utilizem o gás natural. Em Goiânia, também houve o anúncio de estudos da “possibilidade de ampliar a frota movida pelo biocombustível”.
Por outro lado, em Campo Grande, o Consórcio Guaicurus não deu nenhuma sinalização de que o projeto pode se tornar permanente. Em postagem nas redes sociais, o grupo empresarial responsável pelo transporte público da Capital limitou-se a comemorar: “Com ar condicionado, o busão vai circular por 30 dias na linha 061”. Uma das principais críticas de usuários ouvidos pela CPI que investiga o Consórcio é justamente a falta de refrigeração adequada na frota da Capital.
Ao Jornal Midiamax, a assessoria da Scania afirmou que “nesses casos comuns de demonstração, é muito normal quem está recebendo a demonstração esperar o período todo para ver os resultados e seguir para o próximo passo”. Mesmo assim, a empresa diz estar otimista.
Renovação de frota
Ao Jornal Midiamax, Fábio Rezende, gerente da P.B. Lopes, concessionária da Scania em Campo Grande, informou que o veículo foi emprestado ao Consórcio por iniciativa da montadora. “A ideia da demonstração é que, tirando conclusões positivas, o consórcio leve em consideração os veículos movido a gás na renovação de frota que está precisando fazer agora”, afirma.
A Solurb, empresa responsável pela coleta de lixo de Campo Grande, também recebeu caminhões da marca movidos a gás natural há uma semana, em 11 de julho. Porém, segundo o gerente, neste caso a iniciativa foi da empresa contratada pela Prefeitura de Campo Grande, e não da concessionária de veículos. “Porque eles têm o aterro sanitário e a possibilidade de fazer a geração do biometano e ter um custo menor na operação”, diz Fábio Rezende.
Ainda conforme o representante da Scania, o veículo sustentável é benéfico aos passageiros. “É mais confortável para o usuário, porque ele é mais silencioso e viria já com ar condicionado. Enfim, é um projeto que visa tanto a emissão de poluentes quanto o conforto do passageiro”. Assim, poderia ser uma boa opção para substituir os 98 ônibus velhos que a Agereg (Agência Municipal de Regulação dos Serviços Públicos) mandou tirar de circulação na Capital.
Ônibus irregulares
Além disso, a Agetran identificou na última semana 57 ônibus em situação de irregularidade, com inspeção veicular vencida. Portanto, a pasta determinou a autuação e interdição destes veículos, que representam 12,39% da frota de 460 ônibus. Contudo, o número de ônibus que circulam diariamente nas ruas chega a ser menor, de 417.
Dirigentes do Consórcio Guaicurus reconheceram na CPI que parte da frota está velha, mas não deram perspectiva ou prazo para a renovação. A última entrega de frota foi realizada em 2023. Na época, Campo Grande recebeu 71 veículos. Os representantes do grupo com contrato bilionário com a Capital também chegaram a admitir, na CPI, que o sucateamento da frota eleva os custos de operação.
O Jornal Midiamax solicitou esclarecimentos ao Consórcio sobre as alegações de que esta seria uma tentativa de simular a inclusão de um veículo novo à frota, omitindo a informação de que é um ônibus antigo, e também do porquê o veículo voltou à cidade agora, após a CPI. No entanto, a empresa não respondeu. O espaço segue aberto.
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