“A gente sempre viu os irmãos dele, viviam na rua, mas ele [Matheus] a gente nunca via, ele ficava dentro de casa e acho que numa dessas, ele pode ter entrado em depressão. Segundo os irmãos, ele bebia demais, inclusive, para dormir”.
O relato acima é de um morador do Jardim Colibri, em Campo Grande, que praticamente viu Matheus Santana Falcão, de 21 anos, crescer. O jovem morreu na noite de quinta-feira (2), após ingerir meia garrafa de Corote. A Polícia investiga se a morte foi provocada por intoxicação de metanol. Para manter a privacidade, o nome do morador não será divulgado.
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O homem conta que Matheus sempre foi uma criança e um adolescente reservado. Porém, quando mais novo, era visto pelos vizinhos, principalmente, quando buscava seu pai, embriagado, no bar do bairro.
“Eu acho que ele começou a ficar mais recluso depois da morte do pai dele. O pai dele na época, há uns 10 anos, vivia na rua bebendo. Às vezes ele saía na rua pra poder trazer o pai pra casa, só que ele ainda era criança. Deve ter pegado um trauma”, pontua.
Segundo o morador, a família de Matheus mora na residência há 20 anos. A casa foi construída pelo pai, que era considerado um “pedreiro de primeira”. E embora o jovem consumisse muita bebida alcoólica, nunca foi considerado pelos vizinhos um “rapaz problema”.
“Ele nunca incomodou, ninguém nunca ouviu ele gritar, brigar ou arrumar confusão, mas todo mundo sabia das questões dele com a bebida. Perto da casa dele tem um bar e, pra falar a verdade, ele raramente ia lá. Se foi, deve ter sido umas três vezes nesse tempo todo que ele mora aqui”, conta.
“Você pode bater em 30 casas do bairro. Ninguém conhecia ele de verdade. Matheus vivia do portão pra dentro”.
Investigação apreende frascos para verificar metanol
A Polícia Civil abriu investigação para descobrir se houve relação com o consumo das bebidas, como as adulteradas com o metanol. Amostras de urina de Matheus e da bebida alcoólica ingerida por ele serão analisadas.
O caso é acompanhado pela Decon (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes contra as Relações de Consumo), segundo a Polícia Civil, que recolheu 13 frascos de bebida na loja onde o produto foi comprado, para análise.
Assim, de acordo com o delegado Wilton Vilas Boas, a morte foi provavelmente causada por uma intoxicação. “Contudo, para comprovação desse fato, teremos que aguardar os laudos de laboratório e o laudo de exame necroscópico. Tendo em vista que essa bebida foi entregue para os próprios familiares na unidade de saúde, nós, por cautela, recolhemos esse produto, para que ele possa ser submetido à perícia. Tudo que está sendo feito é por cautela e uma investigação normal”, disse.
Neste caso, não há confirmação de que tenha alguma relação com os casos de intoxicação por metanol registrados no Brasil, mas exames toxicológicos vão apontar a causa da morte. Segundo o boletim de ocorrência, há a solicitação para “que seja verificada eventual intoxicação, inclusive por metanol, encaminhado o corpo ao IML para exame necroscópico”.
Em nota, a Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública) e a SES (Secretaria de Estado de Saúde) informaram que acompanham o caso.
“O corpo foi encaminhado ao Instituto de Medicina e Odontologia Legal (IMOL), da Polícia Científica de Mato Grosso do Sul, onde passou por exame necroscópico. Amostras foram coletadas e encaminhadas para análise laboratorial aprofundada, que deverá indicar a real causa da morte. O prazo estimado para conclusão dos exames complementares é de aproximadamente 30 dias.
A Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, por meio da Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra as Relações de Consumo (DECON), conduz as investigações, que envolvem os seguintes registros preliminares:
- Formas qualificadas de crime de perigo comum (Art. 258 do Código Penal);
- Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de substância ou produtos alimentícios (Art. 272 do Código Penal);
- Morte decorrente de fato atípico.
A Secretaria de Estado de Saúde também foi formalmente notificada sobre a suspeita de intoxicação por metanol, e atua em conjunto com os órgãos de segurança e vigilância sanitária na apuração do caso. Até o momento, não há confirmação da presença de metanol. A análise pericial segue em andamento.
O Governo do Estado lamenta o ocorrido, se solidariza com os familiares da vítima e reitera que todas as medidas necessárias estão sendo adotadas para o esclarecimento completo dos fatos”.
Casos de intoxicação por metanol
O aumento de notificações de intoxicação por metanol nas regiões Sudeste e Nordeste do Brasil acendeu um alerta em Mato Grosso do Sul, mesmo sem registros semelhantes no Estado. Para quem não abre mão da bebida no fim de semana, a principal recomendação é redobrar os cuidados e desconfiar de produtos vendidos a preços muito abaixo do mercado, que podem indicar sonegação, adulteração ou até risco de contaminação.
Em Mato Grosso do Sul, somente neste ano, o Procon-MS (Secretaria Executiva de Orientação e Defesa do Consumidor) notificou nove estabelecimentos por comercializar produtos suspeitos. A lista inclui principalmente destilados como gin, uísque e vodca.
Até o momento, o país registrou seis mortes e 59 notificações por suspeita de intoxicação por metanol.
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