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Cotidiano

Novo ataque de onça a humano expõe situação crítica e silenciada no Pantanal

No último sábado (4), o peão Flávio Ricardo, sofreu ferimentos graves após o ataque de uma onça-pintada em Corumbá
Lethycia Anjos -
adotar uma onça em mato grosso do sul
Ilustrativa – Onça Kwara, na Caiman Pantanal, em MS. (Carol Prange)

O novo ataque de uma onça-pintada a um ser humano no Pantanal de Mato Grosso do Sul evidenciou os impactos do avanço humano sobre os ecossistemas e a tensão crescente entre desenvolvimento e preservação ambiental. Isso porque, fatores como desmatamento, expansão do agronegócio e ocupação de áreas naturais tornam cada vez mais frequentes o aparecimento de animais selvagens em áreas urbanas.

No fim da tarde do último sábado (4), o peão Flávio Ricardo, de 28 anos, sofreu ferimentos graves após o ataque de uma onça-pintada. O caso ocorreu em uma fazenda de Corumbá. Cinco meses antes, em abril, o caseiro Jorge Ávalo, de 60 anos, morreu em circunstâncias semelhantes, também no Pantanal.

‘Onças não pegam gosto por humanos’

Médico veterinário e pesquisador de felinos Diego Viana, do IHP (Instituto Homem e Pantaneiro), ressalta que o foco agora é a recuperação de Flávio. Contudo, ele esclarece que ataques de onça-pintada a humanos são raros e, na maioria das vezes, não têm motivação predatória.

“Esses encontros geralmente ocorrem de forma inesperada, em áreas de mata densa, ou quando o animal defende filhotes, carcaças ou está ferido ou estressado. Não por ‘gosto’ da espécie por humanos”, explica.
Segundo o pesquisador, evidências globais sobre grandes carnívoros mostram que a frequência de ataques tende a aumentar em locais onde há maior sobreposição entre humanos e habitats naturais, especialmente em áreas impactadas por mudanças socioambientais.

“No Pantanal, secas severas e incêndios extremos reduziram os habitats. Isso alterou, em diferentes níveis de acordo com o local, padrões de atividade e a forma de ocupar os regiões do Pantanal. Isso aumenta o risco de encontros em determinadas situações”.

Diego explica que as mudanças no habitat, como incêndios e secas prolongadas, reduzem a cobertura vegetal, alteram os recursos hídricos e concentram presas e predadores em áreas remanescentes, aumentando, assim, os encontros com seres humanos.

“Estimativas apontam que, em 2020, as queimadas no Pantanal causaram a morte imediata de cerca de 17 milhões de vertebrados. Quando essas situações se sobrepõem a atividades humanas e há falta de protocolos de segurança, especialmente na pecuária, o risco de encontros com animais aumenta significativamente”, explica.

Além disso, a disponibilidade de presas e atrativos é um fator determinante para mudanças no comportamento das onças. Segundo ele, a escassez de presas naturais e o manejo inadequado de carcaças ou lixo atraem esses animais para áreas produtivas. “A presença de bezerros em maternidades abertas aumenta ainda mais a vulnerabilidade”, completa.

Medidas de prevenção e segurança

Embora haja riscos, o pesquisador explica que é possível conciliar proteção da onça e segurança humana com medidas práticas.

Para pessoas Viana orienta a evitar andar sozinho em áreas de mata, especialmente ao amanhecer e entardecer; fazer barulho ao caminhar; manter crianças próximas; não se aproximar de carcaças e nunca correr diante de uma onça; manter protocolos de comunicação e registro de avistamentos.

No caso dos rebanhos, a orientação é uso de cercas elétricas em currais de fechamento noturno e maternidades; manejo adequado de carcaças; instalação de iluminação e vigilância noturna em pontos estratégicos; planejamento espacial de pastos próximos às sedes e limpos de vegetação densa.

Ataque a peão no Pantanal

onça ataca peão
Onça à espreita e foto tirada pela vítima na fazenda. (Imagens: Reprodução das Redes Sociais)

No momento do ataque, a vítima estava na região da Baía do Mineiro, no Pantanal do Paiaguás. O local fica a aproximadamente 45 km da Base Avançada de Lourdes, em Corumbá. Ele sofreu ferimentos graves na cabeça, braços e pernas, incluindo cortes profundos no crânio e na perna esquerda. 

Flavio recebeu os primeiros socorros prestados pelo Corpo de Bombeiros. No entanto, devido à gravidade do estado, um helicóptero do Exército o transportou de Corumbá até a Santa Casa de Campo Grande, onde chegou por volta da meia-noite de domingo (5). 

Ainda no domingo, familiares confirmaram ao Jornal Midiamax que Flávio já está fora de perigo, mas não detalharam seu estado de saúde.

O socorro contou com o apoio de Ednir de Paula, presidente do Instituto Mulher Negra do Pantanal. Ednir auxilia moradores em situações de ataque de animais silvestres. Segundo ela, em um ano, ajudou no 11 vítimas de ataques de onças na região.

O que fazer em caso de ataque?

Em caso de ataque, a prioridade é o resgate rápido e o acompanhamento médico da vítima, além da investigação e monitoramento da área e do animal, por meio câmeras, vigilância e manejo especializado, quando possível. Contudo, Viana alerta que esses procedimentos raramente são realizados na prática por falta de efetivo e recursos.

“O medo das onças muitas vezes é maior do que o risco real. Informação, educação e protocolos adequados são essenciais para salvar vidas humanas e conservar a espécie, símbolo do Pantanal”, conclui.

Segundo ele, no caso de Flávio a atuação rápida das instituições que prestaram os primeiros socorros ao peão, mesmo durante a noite, foi determinante para ele saísse do local com vida.

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