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Cotidiano

‘Ninguém é de ninguém’: por que monogamia é desafio árduo durante o Carnaval?

Aderir ao modelo de relacionamento não monogâmico exige diálogo entre o casal
Jennifer Ribeiro -
carnaval
Carnaval em Mato Grosso do Sul. (Madu Livramento, Midiamax)

O é um grande laboratório social para novas formas de afeto e desejo. A atmosfera de liberdade e celebração faz com que muitos casais explorem experiências diferentes, incluindo a abertura da relação – ainda que apenas durante os dias de festa.

A ideia de que o Carnaval é um evento carnal e menos propício para o desenvolvimento de afetividade faz com que muitos casais vejam a comemoração como uma chance de entrar em contato com aspectos da sexualidade sem que seu parceiro ou parceira se sinta ameaçado no campo afetivo, como se fosse um lugar “seguro” para essas experimentações.

Mas fica uma dúvida: até que ponto isso é saudável?

Para explicar sobre o assunto, o Jornal Midiamax conversou com a psicóloga e psicanalista Aline Cantini Ibarra. Segundo ela, o que irá definir se a abertura de uma relação – mesmo que temporariamente – é saudável ou não, é o quanto esse casal tem de repertório para passar por uma experiência assim.

Ou seja: antes de partir para o “liberou geral”, é necessário que o casal faça uma avaliação individual e conjugal, questionando quais as motivações para cogitar o novo modelo de relacionamento: é apenas no carnaval ou um ensaio para uma futura relação não monogâmica? A ideia é “esquentar” um relacionamento “morno”, reacender o desejo do casal, ou é para fins individuais, cujo benefício será na esfera subjetiva de cada um?

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Diálogo honesto

Seja qual for a resposta, Aline explica que a melhor opção, caso seja uma primeira experiência não monogâmica, é aquela em que o casal já tateava o terreno de uma relação aberta. Isso porque, nesse contexto, já se tem uma conversa e uma intenção de não monogamia. O assunto já é de familiaridade entre os indivíduos.

“É possível ter essa vivência em um campo individual, em que cada um tem as suas experiências com terceiros, longe das vistas do parceiro ou parceira, o que, obviamente, não exclui a dimensão da conversa e dos acordos pré-estabelecidos. O que não é saudável, de maneira alguma, é usar uma experiência como essa para resolver uma relação em crise, porque aí o tiro pode ‘sair pela culatra’ e acentuar ainda mais as dificuldades do casal”, pondera.

Conforme a psicóloga, é importante ter em mente que uma situação como essa não vai criar problemas relacionais do zero. Ou seja, se presenciar o fato ou saber que seu parceiro ou parceira vai ter contato com outra pessoa acende sentimentos de insegurança, raiva e instabilidade, saiba que estes são sentimentos já existentes dentro de você, e não algo gerado pela abertura do relacionamento.

“Isso não é em si um impeditivo, mas um casal que sabe os seus problemas, que tem repertório de diálogo, que exercita a comunicação e que tem bom histórico de soluções de conflito pode se sair melhor em uma aventura carnavalesca como essa”.

Conhecer os próprios limites

Partindo disso, decidir abrir o relacionamento tão perto do Carnaval pode não ser uma ideia tão interessante para um casal que nunca viveu essa experiência, ou sequer conversou sobre o assunto.

É que este modelo de relacionamento é tão complexo que, mesmo que você conheça seus limites e se sinta bem resolvido com a relação poligâmica, caso não tenha amadurecido essa ideia em sua cabeça tempo suficiente, é capaz de haver uma frustração quando enfim chegar a hora.

“É importante que se possa mudar de ideia a qualquer tempo e que o parceiro ou parceira seja aberto quanto a isso. Não há razão para pressa, até porque pode ser difícil voltar em alguns passos que damos. Como qualquer experiência sexual, é importante que se respeite o limite do outro e que haja a possibilidade de voltar atrás, repensar, mudar de ideia, sem qualquer forma de julgamento ou repressão por parte do outro”, explica Aline.

“Não importa se expectativas foram criadas, se acordos foram firmados. Chegou na hora H e não se sentiu confortável? O outro tem que ser comunicado e respeitar esse limite. Sem o devido diálogo e sem essa abertura, muita coisa pode desandar, no nível individual e conjugal, e uma experiência que poderia fortalecer os laços de intimidade de um casal pode colocar a perder a relação”, acrescenta.

Prós e contras

Ao especular a possibilidade de um relacionamento não monogâmico, é necessário também que o casal discuta os desafios emocionais que podem surgir, como o e a insegurança.

Manejar esses sentimentos sem saber de onde eles vêm e o que eles articulam nas nossas relações, pode ser difícil. Por isso, às vezes, ter um auxílio profissional pode ajudar.

De qualquer forma, como qualquer outra experiência humana, a poligamia tem seus prós e contras a quem decidir segui-la. Já mencionamos que a relação não monogâmica pode acentuar os problemas já existentes que o casal não quer lidar, que prefere “jogar pra debaixo do tapete”.

No entanto, seja no contexto de Carnaval ou não, se for desejo mútuo entre os envolvidos, a experiência pode criar mais intimidade entre o casal, que vai adquirir repertório para solução de conflitos, amadurecer a relação, e criar caminhos para realizar outras e novas fantasias.

Sou contra o relacionamento poligâmico, e agora?

Segundo a psicóloga, para existir um relacionamento, basta haver consentimento. Se ambas as partes estão em concordância, não há nada de errado. Isso porque os afetos não funcionam na ordem que as pessoas querem, e isso é ótimo.

“Cada nova configuração traz um pouco mais da nossa capacidade de amar e é isso que nos enriquece como pessoas. A verdade é que lidamos com o desejo do outro um pouco como lidamos com o nosso próprio. Cada limitação ou caixinha em que enquadramos as pessoas, é os limites e caixinhas que colocamos a nós mesmo”, explica.

“Quando falamos de sexualidade, falamos de um campo muito amplo e diverso. Se alguém não quer ter uma experiência não monogâmica no Carnaval, não tem o menor problema, haverá outro lugar para essa pessoa habitar no campo do sexual e das relações humanas. Além disso, a gente não sabe os acordos que cada um faz na sua intimidade, como é a vida entre quatro paredes de um amigo, familiar ou colega de . Cada um sabe de si, cada um sabe onde é o seu limite ou não, não cabe a quem está de fora ter opiniões sobre isso”, acrescenta.

“Lembrando também que qualquer forma de discriminação é crime em nosso país. Pode ser difícil compreender novos modelos de relacionamento e isso é aceitável, mas o desrespeito, a violência e discriminação, não”.

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