Vibrante como os alunos que enchem os corredores de vida, a fachada amarela dá as boas-vindas na Escola Municipal Prof. Aldo de Queiroz. Os cartazes produzidos por estudantes e espalhados pelas paredes mostram com orgulho como a arte e o saber conduzem uma geração criativa, curiosa e sedenta por aprendizagem no bairro Cidade Morena, em Campo Grande.
Por trás do sucesso exemplar, a unidade carrega um início humilde. Em 1987, bem antes de acolher seus 1.462 alunos, a escola municipal funcionava no salão paroquial da Igreja Católica Nossa Senhora Aparecida. A estrutura de ensino contava com apenas 4 salas de aula, em 4 turnos: matutino, intermediário, vespertino e noturno.
O nome é uma homenagem a Aldo de Queiroz, homem do povo, professor, advogado, poeta e escritor, que teve vários livros publicados, dentre eles “Com os pés na terra”.
Quase 40 anos depois, a estrutura atende crianças do 1° (educação infantil) ao 9° ano (ensino fundamental), com projetos diversos, como horta escolar, futsal, basquetebol, voleibol, música, ginástica rítmica e projeto de arte e leitura na biblioteca. O objetivo é um só: extrair de cada aluno suas principais habilidades e oferecer a perspectiva de um futuro brilhante.
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Horta
Ter uma horta na escola era um sonho que o diretor Ronaldo Pajeú e a professora de ciências Mariana Cristina Pereira Spina nutriam desde 2019. A ideia era poder aproximar os alunos da natureza e tornar o aprendizado mais dinâmico e interessante. O terreno disponível para abrigar a estrutura da horta, no entanto, não era nada promissor: o mato era alto e a terra arenosa.
Depois de muito cuidarem, o terreno enfim tornou-se produtivo. Porém, com a chegada do novo ano veio a pandemia e colocou todo o projeto de escanteio.
“Foi um balde d’água fria. Tínhamos certeza de que daria certo. Até me emociono, porque queríamos muito colocar essas aulas em prática, ver as crianças produzindo. Só conseguimos retornar com a ideia em 2022, mas tivemos que lidar com a crítica de muitas pessoas que não achavam a horta uma boa ideia. Mas. deu certo! Hoje, [o projeto] é um sucesso e os alunos amam”, contam.

Produções da horta
Atualmente, a horta produz até 4 vezes por ano, a depender das questões meteorológicas. As turmas são dividas em grupos de forma que todos possam plantar e colher.
“A horta é um projeto sem fins lucrativos, então não fica nada para a escola, é tudo para os alunos. Quando produzimos bastante, quando as plantações vingam, deixamos que eles levem para a casa. Se a produção não for tanta, fazemos um saladão aqui na escola para eles comerem, fazemos suco, enfim, é tudo para eles”, explica a professora de ciências Nathália Pestana de Morais Silva, que também atua no laboratório de ciências.
Atualmente a horta tem sido monitorada por alunos do 5° ano, que plantaram couve, alface, tomate e cebolinha.
“Nossa escola é a primeira vinculada à FAC (Fundo de Apoio à Comunidade) e por meio dele e da Prefeitura de Campo Grande recebemos adubos, as mudas… Então não temos custos nesse sentido. E com isso, conseguimos incentivar os alunos à questão da alimentação saudável e, ao mesmo tempo, vincular teoria e prática”, explica o diretor.

Laboratório de Ciências
Paralelo aos trabalhos na horta está o laboratório de ciências, um dos lugares favoritos dos alunos. Além dos diversos exemplares de insetos, aracnídeos e serpentes disponíveis, o espaço também conta com microscópio trinocular e lupa eletrônica com conexão à TV.
“É muito legal porque conseguimos integrar os trabalhos da horta aqui também. Às vezes estamos lá tirando os matinhos e eles encontram insetos que chamam atenção. Trazemos pra cá e analisamos eles. Eles se sentem instigados, ficam curiosos, amam vir aqui porque as aulas são mais práticas e sair da rotina de sala de aula é sempre bom”, pontua Mariana.
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Biblioteca da escola
Do outro lado do corredor está a biblioteca da escola com um acervo múltiplo de livros e materiais artísticos dispostos em mesas e prateleiras. Buscando instigar ainda mais o hábito da leitura nos alunos, além das aulas feitas no espaço, a unidade passou a deixar o acesso livre à biblioteca durante os intervalos.
Hoje, a iniciativa é um sucesso e a maioria dos estudantes participa. Porém, para que a ideia “caísse no gosto da criançada” foi preciso usar uma estratégia criativa: oferecer pintura e jogos pedagógicos. Atualmente, o projeto é desenvolvido pelas professoras Priscila de Lima Rosa e Janete Ferreira Gonçalves.
“Pra gente, o que importa é acolher o aluno para que ele se sinta confortável no espaço. A gente começou aos poucos, organizando os livros, para ficar mais acessível para eles. Depois, pensamos nesse projeto para trazer o aluno pra cá. Eu sou formada em arte, então a gente pensou em mexer com desenho de alguma forma”, explica Priscila.

Espaço para colorir
Por sugestão de Janete, o plano foi deixar desenhos para colorir dispostos nas mesas. Assim, quem não fosse à biblioteca para ler, poderia pintar e, no futuro, quem sabe, se levar pela curiosidade e folhear um livro.
“Hoje, nós temos uma fila na hora do intervalo entregando desenho para as crianças. Elas adoram e a gente sempre procura o desenho da modinha, aquilo que está no cinema, as crianças também sugerem. E aí a gente reveza. Um dia é leitura, outro é pintura, no outro temos os jogos pedagógicos que colocamos na mesa”, explica Priscila.
“A gente já viu diferença nos adolescentes, do 6° ao 9°. Eles frequentam bastante a biblioteca, já sabem mexer, já sabem onde estão os livros que eles mais gostam. Eles pegam e sentam pra ler. Os pequenos sentam juntos e vão se ajudando a juntar as letrinhas, é uma graça!”, acrescenta a professora.
Segundo Janete, o projeto também reforça a preocupação que a escola tem com o meio ambiente. Cada desenho para colorir é impresso em folhas de rascunho. Assim, ao invés de irem para o lixo, os papéis criam murais pelas paredes da biblioteca, coisa que, diga-se de passagem, enche os artistas mirins de alegria.
“Além de reutilizar os papéis, temos a preocupação de selecionar desenhos que eles gostam e que gerem vontade de participar da atividade. E tem os jogos pedagógicos, importantes para eles aprenderem enquanto brincam”, frisa.

Música
A música é um interesse universal, todo mundo gosta. E essa afinidade com melodias nos é despertada quando ainda somos muito novos. Então, por que não investir desde pequeno naquilo que, de um hobby, pode se tornar uma profissão? Pensando nisso, a escola abraçou a DEAC (Divisão de Esporte, Arte e Cultura), da Semed (Secretaria Municipal de Educação), que além das aulas de música oferece futsal, basquetebol, voleibol e ginástica rítmica.
Na Escola Municipal Prof. Aldo de Queiroz, as aulas acontecem no contraturno, facilitando a participação dos alunos, e são coordenadas pelo professor Adisson Afonso. A sala é completa! Tem violão, cajon, teclado, guitarra e microfones para quem se arrisca no vocal. Cerca de 90 alunos participam das aulas, que ocorrem três vezes na semana.
“Eu percebo que há sempre um desenvolvimento muito grande deles e uma devolutiva muito boa em sala de aula. Muitos professores retornam pra mim, falando que a evolução do aluno melhorou, o aprendizado, o comportamento. Então a música contribui nesses aspectos sociais também”, afirma Adisson.
Segundo o professor, vários alunos da escola que participaram do projeto agora estão na faculdade e querem fazer da música sua profissão. “Isso é um retorno e mostro pra eles que há essa possibilidade profissional também. A música pode ser entretenimento, mas tem muitos aqui com perfil para seguir carreira acadêmica”, conta Adisson

Talento na música
Um dos talentos da turma é Kainan Rodrigues Mendonça, aluno do 8° ano. Decidido a aprender sobre os instrumentos que chamam sua atenção, o pequeno prodígio começou na música por hobby, mas espera seguir profissionalmente quando adulto.
“Eu comecei na aula de música tocando ukulele e não sabia muito porque era pequeno. Depois, vi um violão, quis aprender a tocar e comprei um. E aí, chegou um amigo meu aqui na sala com uma guitarra, vi, achei ‘daora’ e quis uma também. Comprei uma guitarra e agora ‘tô’ aqui aprendendo na aula de música. E eu continuo na aula até hoje porque eu gosto de música, eu escuto vários tipos de músicas”, diz o roqueiro mirim.

Ginástica rítmica
No final da tarde, após as aulas, metade do pátio é tomado pelas meninas da ginástica rítmica, todas impecáveis com seus coques na cabeça. O projeto é desempenhado pela professora Dalila Ferreira Nantes.
Neste ano, algumas alunas puderam participar pela primeira vez do Jires (Jogos Infantis da Reme). Vários grupos conquistaram o pódio e garantiram para a escola o 1° e 2° lugar na competição. “É um orgulho muito grande para nós, para as mães e para elas, que ficam felizes em subir no pódio. Mas eu falo pra elas que não é só ganhar, é importante participar”, explica Dalila.
Dentre os grupos enviados para a competição, um não conseguiu conquistar o pódio. Contudo, a determinação é maior que o desânimo e todas voltaram empenhadas para as aulas a fim de melhorarem para os próximos jogos.
“Era a primeira vez, havia nervosismo, ansiedade, a plateia estava cheia. Fiquei com medo de não voltarem, mas elas estão aqui e estão evoluindo. Algumas que estão aqui hoje chegaram sem saber fazer estrelinha e hoje conseguem. É uma felicidade!”, finaliza.

Vôlei
Do ladinho do grupo de ginástica, na quadra da escola, outros alunos praticam o vôlei. Ana Beatriz de Araújo, Ana Júlia Garcia e Vitor José da Silva, compõem a turma.
Ana Beatriz começou a praticar vôlei no 6° ano, em 2023. “Escolhi o vôlei porque sempre gostei de atividade física. Me identifiquei com o esporte e continuei por todos esses anos. E sim, pretendo seguir carreira profissional”, conta.
Já Ana Julia começou no esporte por influência da mãe que quando mais nova também competia. “Minha mãe tinha minha idade quando jogava. Eu não tinha um esporte em mente e ela me apresentou o vôlei. Agora também pretendo seguir carreira”.
Vitor, embora goste muito do esporte que pratica desde 2022, não pretende se profissionalizar. Porém, não espera deixar de lado seu hobby favorito. “Eu estava procurando um esporte diferente quando encontrei a oportunidade do vôlei. Não pretendo seguir carreira, mas tenho interesse em competir”.

Sala de recursos
A escola conta ainda com a sala de recursos multifuncional. Lá, eles oferecem suporte aos estudantes que apresentam diagnósticos médicos ou psicopedagógicos, os quais indicam a necessidade de recursos, adaptações e suportes pedagógicos adicionais para garantir acesso à educação e aprendizagem. Na unidade, a responsável é a professora Larissa Maia dos Santos.
“Quando a gente recebe o aluno com laudo, que é o público alvo da educação especial, primeiro a gente faz uma entrevista com a família para verificar toda a situação, histórico do aluno, quais eram as queixas na escola, o que os profissionais de saúde identificaram – se é dificuldade de aprendizado, se foi uma questão da interação social ou da linguagem. Então vem esse laudo, a gente conversa com a família e depois vem o professor de apoio para dar o suporte na sala de aula. Eu faço toda essa orientação com os professores”, explica.
“Depois disso a gente oferece a sala de recurso, que é um direito desses alunos. Eles vêm no contraturno para realizar as atividades e melhorar o desenvolvimento, alcançando todo o potencial desse aluno. A gente faz todo um estudo de caso para saber qual habilidade a gente tem que desenvolver com esse aluno e essa avaliação se faz com o professor regente, que apontará o que deve ser trabalhado com este aluno”, finaliza.

Participação da família na escola
Segundo o diretor Ronaldo e a diretora-adjunta Márcia Regina, todo o sucesso dos projetos é mérito da colaboração que a unidade tem com as famílias dos estudantes. Sem a participação ativa de cada um, a escola não alcançaria o reconhecimento que tem agora.
“Quando eu falo de responsável do aluno, eu tô falando do pai, mãe, vô, avó, tio, tia, todos eles são responsáveis por trazer essa criança para a escola, buscar, educar em casa essa criança, acompanhar o pedagógico, incentivar essas crianças a andarem no caminho certo. Então, a parceria da família, comunidade, escola é o que mais tem dado certo”, afirma.

Socialização entre alunos
Para a administração da escola, além de desenvolver as habilidades dos alunos, os projetos também ajudam na socialização. Isso reflete na maneira como eles lidam um com o outro no dia a dia, diminuindo, drasticamente, o número de brigas na unidade.
“Nos projetos o aluno socializa com outros e voltam para o ambiente da escola um respeitando mais o colega, entendo que um depende do outro, que juntos eles conquistam o sucesso. Depois, quando eles disputam campeonatos, começam a entender a importância termos amigos e ao mesmo tempo, ser colaboradores um do outro. Tanto que esse troféu aqui é resultado da semana passada em que fomos vice-campeão no basquete”, pontua.
Nos próximos meses, dois projetos serão somados à grade de atividades da escola. O primeiro é a rádio, que possibilita aos alunos produzirem materiais que tocarão no pátio da escola ao longo do recreio. O segundo é projeto de filme com alunos do 3° ano. Neste, além das imagens, eles aprenderão a desenvolver roteiro.
“A nossa proposta é fazer a diferença. Desde o início, nós acreditamos que a escola é um lugar que transforma e que poderíamos fazer a diferença na região da Moreninha”.

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Fala Povo: Midiamax nos Bairros
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