“É a verdadeira moreninha das Moreninhas“. É assim que saiu o sorriso fácil da aposentada Francisca Adelina da Silva, de 72 anos, ao contar parte da sua história de pioneirismo no bairro. Quinta moradora, disse que chegou na região em maio de 1976, quando avistava pouquíssimas casas e muito mato, vaca, cavalo e peões, conforme seu depoimento. No entanto, desde o início, sentia que o progresso ia chegar e hoje resolve quase tudo no bairro, passando até cinco meses sem ir ao Centro de Campo Grande.
“Eu nasci e me criei na roça, em Fátima do Sul, interior do Estado. Sou uma das mais velhas de um total de 18 irmãos. Mas aí eu me casei e viemos morar em Campo Grande, nas Moreninhas. Eu não queria viver morando de aluguel e nem viver do jeito que via muitas pessoas, então, falava para ele: ‘Você cuida disso, eu daquilo e aí vamos juntando 50% de cada lado, ainda mais porque não tínhamos filhos na época”, contou Francisca, conhecida como “Neta”.
Conforme a aposentada, em questão de meses, a casa dela e do marido foi construída. “Fui a quinta moradora do bairro Cidade Morena . A gente construiu na BR, na saída para São Paulo. Aqui era tudo fazenda, mato, só tinha o trieiro para o lado da rodovia, era só mato, cavalo, vaca e os peões de fazenda que víamos. Lembro que, uns quatro anos depois, eu já vi muita coisa evoluindo”, relembrou.
Moradora das Moreninhas tinha que ir ao Universitário para pegar ônibus
No início, Francisca diz que os únicos ônibus disponíveis passavam no Universitário. “Eu trabalhava no colégio Auxiliadora e pegava ônibus no bairro Universitário. Meu marido me levava de bicicleta até o ponto. Ele trabalhava perto do cemitério e me deixa no ponto. Com três anos e meio, quatro, começou a entrar as linhas de ônibus. Eu e uma senhora que morava no bairro também pegávamos ônibus perto do Motel Bodoquena. Demorava bastante para chegar no serviço. Eu descia na rua Maracaju, ia a pé para o colégio e a irmã já falava: ‘Está atrasada, vai bater o cartão vai perder tanto'”, contou.
Aos fins de semana, já acompanhada do marido, Francisca retornava ao Centro. “A gente ia de bicicleta, na antiga feirona, a cada 15 dias, para fazer compras. São muitas lembranças, ainda mais agora, que perdi meu esposo recentemente. Fizemos 49 anos juntos e íamos completar 50, aqui na Moreninha, mas, Deus o levou e eu estou continuando aqui. Tivemos um casal de filhos, estou sempre com eles”, ressaltou.

Atuamente, Neta comenta que encontra de tudo nas Moreninhas e, justamente por isso, sai às vezes para caminhar pelas lojas do Centro.
“É mais para dar um passeio, porque fico quatro, cinco meses sem ir lá. Tem tudo aqui. Na época da pandemia, chegamos a ficar seis meses sem ir. Aqui você acha farmácia, posto de saúde, mercado, delegacia, mini hospital, até maternidade tinha. É só cartório mesmo que não tem. Seria uma boa, já aliviava muito”, opinou.
Para quem sentiu o preconceito de perto, Francisca hoje só vê evolução. “Vou falar uma coisa curta e certa pra você: quando a gente ia procurar serviço no Centro, tinha hora que mentia porque tinha família que não aceitava, só depois com o tempo que foi melhorando. Hoje já não é mais assim, mas eu senti o preconceito muitas vezes. Quem trabalhava em casa de família, ninguém aceitava, ainda mais se dizia que era morador das Moreninhas”, finalizou.
‘Moreninho das Moreninhas’ é líder comunitário e ajuda muita gente

Zimer Velasques Ferreira, de 51 anos, é outro morador antigo das Moreninhas e, além de residir há 46 anos no bairro, também é líder comunitário há três décadas e ajuda muitas pessoas na região, com “tabela social”, em seus serviços de elétrica e eletrônica.
“Estou aqui desde o início da década de 80. Não tinha asfalto, a Moreninha era rodeada de mato e hoje é um dos bairros melhores de Campo Grande para se morar, se não for o melhor. Estrutura, polícia militar, guarda municipal, polícia, várias escolas, comércio, é um bairro excelente”, afirmou.
Empresário, Zimer diz que começou seguindo os mesmos passos do pai. “Meu pai é eletricista, trabalhava na antiga Enersul e eu segui os mesmos passos dele. Eu trabalhei lá um tempo também e depois que eu saí montei uma empresa só para prestar serviço na região aqui, mas, acabei atendendo na cidade inteira. Faço tabela social, atendemos várias pessoas, cobramos metade do valor. É uma maneira de ajudar o pessoal das Moreninhas. E também ajudamos várias pessoas, temos grupos de amigos no Whatsapp. Montamos cesta, um dá um feijão, arroz, outra coisa, e assim vai. Isso tem muito tempo já”, finalizou.
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