‘Maior sauna do Brasil’: moradores de Porto Murtinho relatam como é viver na cidade mais quente do país
Cidade vive “onda de calor”, com nove dias de temperaturas extremas e sensação térmica diária de 45°C
Graziela Rezende –
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Fui só dar uma pesquisadinha aqui e verifiquei que a temperatura média – de uma sauna úmida – é de 50°C. E a orientação de especialistas é ficar intercalando entre 8 e 15 minutos, sempre prestando atenção aos sinais do corpo para não ficar tonto ou fatigado, no caso de quem se interessar em ir neste ambiente. Só que imagine quem não tem para “onde correr” e está morando em um local do tipo, com sensação térmica diária de 45°C e com pouca umidade. O nome da quentura, meu bem, é Porto Murtinho, e prepare um tereré porque só os depoimentos vão nos transportar para um ambiente muito, muito quente…
Aliás, são nove dias consecutivos de calor extremo, na cidade que fica na fronteira com o Paraguai. Oscilando entre 39,8°C e 41,8°C, desde o dia 7 de janeiro, de acordo com o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), Porto Murtinho promete “ferver” novamente, nesta quinta-feira (16). E é justamente por isso que moradores estão a chamando de “maior sauna do Brasil”.
A arquiteta e servidora da prefeitura da cidade, Fernanda Gonzaga Ferreira, de 42 anos, atua no setor de obras e projetos e disse que hoje, justamente, está sentada no carro, onde está marcando 41°C. “Estamos passando pela onda de calor neste mês de janeiro, com sensação térmica de 45°C e é algo que impacta na vida de todo mundo: de moradores aos trabalhadores de obras, muitos deles temporários na cidade”, comentou.
Conforme Ferreira, que sempre se informa sobre o assunto, o Ministério do Trabalho inclusive está “estudando uma legislação” para o calor em todo o país, seja a obrigação de fornecer protetores solares, chapéu, manga comprida e dominuir a carga horária ou mudar o horário do trabalhador, entrando mais cedo, por exemplo. “São muitas medidas que devem ser pensadas. Aqui, no nosso caso, a gente está na beira do rio, é um calor úmido”, comentou.
Conta de R$ 1 mil para suportar a ‘maior sauna do Brasil’
No último mês, a arquiteta contou que a sua conta de energia veio em torno de R$ 1 mil. “É ventilador, ar-condicionado, a gente recorre a tudo isso. É um calor que a gente fica suando, realmente queima, é como se fosse uma sauna, eu acho que é a maior sauna do Brasil e não tem como não impactar, é uma sensação de calor extremo, tem que se hidratar muito, tomar muita água, a gente fica procurando água a todo momento. É uma sensação de muito calor mesmo, mas é isso, estamos no Pantanal”, argumentou.
O servidor público estadual, Alexandre Carneiro, de 36 anos, é outro que diz estar sofrendo com a realidade climática. Lotado em Porto Murtinho, conta que teve indas e vindas ao município, desde 2008, porém, retornou, definitivamente, em 2020. “Antes, quando conheci, não era tão quente assim, era um ambiente bem suportável, tinha chuva bem regular e acredito que isso contribuía para manter o equilíbrio da balança, digamos assim. Só que eu fui embora, retornei em 2015 e fiquei até 2016, sentindo um calor ainda suportável”, relembrou.
Aumento de temperatura surreal desde 2020, avalia morador
A partir de 2020, no entanto, Carneiro já relata um cenário diferente. “Fui percebendo que o aumento da temperatura agora era diferente, estava grande e foi algo surreal e até então permanece desta forma. No dia a dia, quando a gente tem compromisso, não tem como ficar a vontade em certos lugares na rua, até mesmo na sombra, se não é o calor intenso bate aquele vento, com mormaço, e isso acaba deixando o ambiente bem desconfortável”, lamentou.
Buscando mais explicações para o calor acima da média, o servidor disse que conversou com inúmeras fontes. “O que alguns especialistas explicaram é que o dique ali quebra muito o vento dentro do município, quebra o frescor que vem da natureza, funciona como um sistema de bacia e acaba tendo muito mormaço dentro da cidade, que já não é tão arborizada. Aliás, tem alguns carandás, mas, acabam não refrescando, não tem essa força de refrescar e isso contribui para deixar a cidade bem quente”, disse.
De acordo com o servidor, existe um projeto de arborização do município em andamento. “Tomara que contribua bastante para melhorar a temperatura. Existe outra questão envolvendo o solo aqui também que, quando chove, fica aquela água empossada e, quando o sol bate, contribui ainda mais para aumentar a temperatura. E isso impacta em tudo, inclusive, foi necessário mudar o horário de prática de atividade física, para final da tarde, de noite ou bem no início da manhã. Em outros horário, é sem condições”, comentou.
Recentemente, o servidor disse que recebeu visita da mãe em sua casa, que até brincou com a situação. “Ela fala que a gente vive igual caranguejo: fica em casa durante o dia e só consegue sair de de noite e, às vezes, tem que ser nove, dez da noite, porque tem dias que ainda tá batendo 33°C, 34°C nessas horas, então, a qualidade de vida, em relação ao clima, é bem desconfortável e ali não tem uma área de lazer, o mais perto é Bonito ou Jardim”, afirmou.
Ao buscar um lazer, aliás, o servidor diz que soube somente do Rio Paraguai, mas, não acha confiável. “Acho perigoso, o rio tem a mansidão, só que, do nada, a pessoa pode cair em algum buraco e se afogar. Até tentaram fazer um praiado para o pessoal tomar banho, só que não é um ambiente controlado, enfim, o clima é bem desconfortável e a gente fica dentro do casulo, só aguardando chegar a noite, sentar e tomar um tereré”, brincou.
Prefeito diz que “Porto Murtinho tá sofrendo muito” com o calorão
O prefeito do município, Nelson Cintra (PSDB), também comentou sobre o calorão na cidade. Ao Jornal Midiamax, disse que Porto Murtinho está sofrendo muito. “Está secando as águas, tudo. Não chove, só de vez em quando aparece uma garoinha em meio às altas temperaturas, 41°C, 42°C, então, realmente, está muito quente e a gente está preocupado. Estamos torcendo pela chuva. Nas escolas, temos ar-condicionado para as crianças, mas, tem locais que não e as pessoas estão sofrendo com o calor”, disse.
Helton Benitez da Graça, de 38 anos, que já atuou na política e hoje trabalha em uma empresa privada, ressaltou que as altas temperaturas têm prejudicado muito o dia a dia das pessoas. “Porto Murtinho é considerada mesmo uma cidade muito quente e este diferencial é que nós somos cercados pelo dique. E a gente percebe que as altas temperaturas têm prejudicado quem utiliza bicicleta ou então até mesmo carroça, como meio de locomoção, sem falar quem trabalha no campo e anda a cavalo. Para dar uma amenizada, principalmente no fim de tarde, a gente vê esse pessoal se banhando no rio ou então embaixo das árvores”, disse.
Outra questão, pontuada por Benitez, é que nem todos têm acesso ao ar-condicionado. “Muitos tem poder aquisitivo baixo e usam ventilador, só que tem a questão do ar quente e, com isso, temos muitos casos de idosos procurando o SUS [Sistema Único de Saúde], com mal-estar por conta da alta temperatura e também passou a ser constante a ida de pessoas ao Corpo de Bombeiros pedindo suporte para averiguação de pressão arterial, de tontura, de dor de cabeça. A gente tem esperança de que tudo isso vai passar e amenizar aqui em Porto Murtinho”, ressaltou.
‘Quem vem de fora não aguenta’, diz cozinheira sobre Porto Murtinho
Nascida e criada em Porto Murtinho, a cozinheira Nivia Giselle Ruiz, de 44 anos, está em reabilitação de um AVC (Acidente Vascular Cerebral), no momento, e elegeu o cantinho mais fresco de casa, onde passa a maior parte do dia. “É terrível, um calor fora do normal para quem vem de outros lugares. A pessoa não aguenta. É engraçado que é o mesmo sol para todos, mas, aqui é muito mais quente”, argumentou.
Em sua rotina, Giselle diz que “madruga” às 4 da manhã e, poucas horas depois, o sol já está brilhando e oferecendo um calor intenso. “Nos últimos dias eu ando sentindo calor de noite, abafado. E em Porto Murtinho um ar-condicionado é necessidade, não é fácil não. Quando a gente precisa sair para fazer qualquer coisa, é o dia todo transpirando. A pessoa transpira sentada, não precisa nem fazer muito movimento para tranpirar”, contou.
Por conta dos atendimentos de fisioterapia, em casa, recentemente, Giselle precisou fazer algumas alterações. “Eu fazia dentro do meu quarto, não tenho ar condicionado. Só que segunda-feira estava muito, muito quente. Aí eu falei com o fisioterapeuta e mudamos os horários e o lugar, escolhi ali na varanda, bem cedo. Fora isso o calor já começa a aparece e esquenta todos os ambientes da casa”, finalizou.
Confira aqui o local onde Giselle faz fisioterapia por conta do calor:
A psicóloga Maria Antônia Ramos Estadulho, de 24 anos, disse que sempre “conviveu bem” com o calor, mas, desde 2023, disse que passou a ser refém do ar-condicionado. “Muitas vezes nem refresca muito e os ares acabam dando algum problema. Eu vejo muitas pessoas sentadas na frente de suas casas tomando tereré, embaixo da árvore, praticamente o dia todo, as pessoas ficam tomando tereré, seja em casa ou no serviço”, comentou.
Como cresceu em Porto Murtinho, disse que, até 35°C, ainda dava para suportar, porém, nas últimas semanas, todos andam indispostos e é frequente ver pessoas passando mal por conta das altas temperaturas. “Principalmente idosos e pessoas de fora da cidade, que vêm pra prestar algum serviço ou são recém chegados. Também tem bastante gente indo se refrescar na beira do rio, mesmo sem autorização para tomar banho e algumas duchas foram instaladas na orla, mas, algumas pessoas ainda se arriscam tomando banho no Rio Paraguai”, lamentou.
Como serão os próximos dias em Porto Murtinho?
Conforme previsão do Inmet, de sexta a domingo (17 a 19), as temperaturas máximas podem chegar a 41°C, com leve alívio no domingo (19).
O Cemtec (Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima) explica que as chuvas também são favorecidas pelo deslocamento de cavados e atuação de áreas de baixa pressão atmosférica. Pontualmente, podem ocorrer chuvas mais intensas e tempestades acompanhadas de raios e rajadas de ventos.
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