O grande dia chegou. Após meses de muita espera, a Paróquia São Sebastião, em Campo Grande, foi palco de fé, devoção e emoção. Fiéis madrugaram neste feriado do dia 7 de setembro, para acompanhar a canonização de Carlo Acutis, o ‘padroeiro da internet’, o primeiro santo da geração millennial.
O relógio ainda não marcava 4h da manhã quando a equipe do Jornal Midiamax chegou ao salão social da ‘Capela do Milagre’, na Capital. O evento, presidido pelo Papa Leão XIV, foi acompanhado ao vivo pela transmissão da Vatican Media de Portugal. Enquanto muitos rezavam, jovens registravam o momento pelo celular. Mesas com café da manhã foram preparadas para acolher os presentes, reforçando o caráter comunitário do encontro.
A estudante de psicologia, Valentina Oliveira Xavier, ressalta a força que a canonização tem para Campo Grande, principalmente por ser o local do primeiro milagre.
“O fato de Carlo ser jovem e o primeiro milagre ter acontecido aqui nos faz refletir sobre o cuidado com a saúde mental, principalmente porque Campo Grande tem um alto índice de suicídio. Esse momento traz esperança, é uma luz para a nossa juventude”, disse a estudante.
O estudante de Direito, Nicolas Santos, foi até ‘uniformizado’. Usando uma camiseta com a imagem do novo santo, ele diz ter grande identificação com Carlo.
“É importante termos um santo com a cara da juventude atual. Ele usava a internet, fazia parte do nosso tempo, e isso aproxima os jovens da fé”, explicou.

Entre os testemunhos mais emocionantes, estava o do advogado Nathan Rios, que relatou a experiência com sua filha Catarina. “No primeiro ultrassom, havia a possibilidade dela nascer com alguma síndrome, entre elas a de Down. Quando conheci a história de Carlo Acutis, pedi sua intercessão e fui atendido. Hoje, minha filha é saudável, e esse momento de canonização só aumenta minha gratidão”.

(Nathan Rios. Foto: Taís Cardoso/Midiamax)
A devoção também mobilizou famílias. A tenente do Exército, Lia Beatriz Junqueira, chegou cedo com os filhos, mesmo tendo compromissos relacionados ao feriado de 7 de setembro.

(Lia Beatriz Junqueira. Foto: Taís Cardoso/Midiamax)
“Eu não podia deixar de trazer meus filhos para este momento. A canonização de Carlo é um exemplo para a juventude. Resolvi vir, rezei com a comunidade e, mesmo precisando sair logo após a oração eucarística, fiz questão de estar presente”.
Carlo Acutis, o santo da Internet e dos jovens
Carlo morreu em 12 de outubro de 2006, aos 15 anos, em decorrência de uma leucemia e ficou conhecido como o “padroeiro da internet” por seu trabalho de evangelização através da web – já que divulgava conteúdo cristão e até criou um site que catalogava milagres.
Acutis foi beatificado em 2020 e será o primeiro santo da geração millennial. Sua dedicação à fé, sua simplicidade e seu amor pela tecnologia o tornaram um modelo de santidade para os jovens de todo o mundo.
A canonização foi autorizada pelo Papa Francisco, após o italiano ter dois milagres reconhecidos pelo Vaticano, sendo um em Mato Grosso do Sul e outro em Florença, na Itália. A cerimônia que torna o “Cyberapóstolo da Eucarista” oficialmente um santo é um marco para a Igreja Católica, especialmente para as novas gerações.
Milagres
Calos deixou um legado de fé e evangelização que, através das redes sociais, alcançou milhões de pessoas. Entre elas, duas famílias brasileiras atendidas pelo Humap (Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian) da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, em Campo Grande, que relatam terem vivido experiências de cura consideradas ‘inexplicáveis’ pela ciência.
Uma dessas histórias pertence ao Matheus Vianna, que nasceu na maternidade do Humap e, desde os primeiros dias de vida, enfrentou um grande desafio, ao ser diagnosticado com uma condição rara chamada pâncreas anular. Por conta disso, ele não conseguia se alimentar sem vomitar, além de sofrer de desnutrição, anemia e infecções constantes.
Enquanto aguardava condições clínicas para a cirurgia, a mãe de Matheus, Luciana, e a avó, Solange Maria, relatam que encontraram na fé um refúgio. Frequentadoras da Paróquia São Sebastião, ela passou a pedir a intercessão de Carlo Acutis. “Chegávamos a ir mais de uma vez por semana. Ele vivia internado para tomar soro”, relembra a avó ao Jornal Midiamax.
O ‘milagre’ veio quando Matheus estava com 4 anos de idade. No dia 12 de outubro de 2013, durante uma missa, Matheus tocou em uma relíquia do jovem italiano e fez um pedido singelo: ‘parar de vomitar’. Naquela mesma noite, surpreendeu a família ao pedir um prato completo de arroz, feijão, bife e batata frita, e, pela primeira vez, não vomitou.
Após o episódio, foram feitos exames com o paciente, que confirmaram que o pâncreas anular havia desaparecido, sem que ele tivesse passado por cirurgia, surpreendendo a todos, inclusive a pediatra Rosângela Rigo, do Humap. “Se é uma doença que só tem cura com cirurgia e ele nunca foi operado, eu considero um milagre. Foi maravilhoso presenciar essa cura”, afirma a profissional.
Este acontecimento foi reconhecido oficialmente pelo Vaticano como o milagre que levou Carlo Acutis à beatificação em 2020.
Segundo milagre
Gabriel Terron Nunzio era um jovem saudável, cheio de energia e projetos. Estava no ensino médio, fazia parte da seleção de handebol da UFMS e tinha uma vida social e comunitária ativa. Na Paróquia São Sebastião, onde frequentava com a família, atuava como cerimoniário, coordenador do grupo jovem ‘Carlanis’ e auxiliar de catequese da primeira comunhão.
A devoção a Carlo Acutis já havia chegado à paróquia por meio do padre Marcelo, que apresentava aos jovens a vida do italiano, reconhecido pela fé e pelo amor à Eucaristia. Gabriel, muito envolvido com a igreja, se identificou de imediato com a história de Carlo.
No entanto, o que Gabriel e sua família não sabiam, era que ele carregava uma condição cardíaca silenciosa. Sem apresentar sintomas prévios, Gabriel sofreu um mal súbito após utilizar Franol, uma substância broncodilatadora que, segundo relatos de colegas, foi consumida para melhorar o desempenho esportivo e facilitar a respiração durante os treinos.
O medicamento desencadeou uma arritmia grave, que culminou em uma parada cardíaca repentina, quando Gabriel aguardava em um ponto de ônibus em frente ao Atacadão da Costa e Silva. No dia em que sofreu a parada cardíaca, já no hospital, Gabriel recebeu a Unção dos Enfermos do padre Marcelo, ministrada com uma relíquia de primeiro grau do beato italiano.
A partir dali, uma grande corrente de oração teve início em Campo Grande e em outras cidades onde familiares e amigos de Gabriel moravam. Foram realizadas caminhadas penitenciais, vigílias, rezas ininterruptas do rosário e ações comunitárias.
A paróquia também se transformou em um espaço de súplica constante pela vida de Gabriel, mobilizando jovens, pastorais e famílias. Mesmo diante do diagnóstico reservado, a família se agarrou à promessa repetida pelo padre Marcelo: ‘Deus não faz milagre pela metade’.
Durante o tratamento, Gabriel ficou internado no Humap, onde recebeu cuidados intensivos. Na época, o prédio passava por reformas, e algumas janelas, inclusive, eram tapadas com papelões. Mesmo assim, a família recorda que o carinho e a dedicação dos profissionais foram fundamentais.
Na UCO (Unidade Coronariana), as enfermeiras davam banho, penteavam o cabelo e perfumavam Gabriel, preservando sua dignidade e aparência. Na UTI, embora o contato direto fosse mais limitado, a equipe oferecia suporte contínuo. E, na clínica médica, médicos, enfermeiros e técnicos criaram vínculos afetivos profundos com a família. “Ao longo do processo, sentimos que havíamos formado uma nova família dentro do hospital”, relata a mãe.
Após 56 dias de internação, Gabriel recebeu alta em estado neurovegetativo, sem possibilidade de evolução clínica, segundo os médicos. Ainda assim, a família e a comunidade mantiveram as orações e pedidos pela intercessão de Carlo Acutis.
Com o tempo, Gabriel começou a apresentar sinais de melhora, reconquistando movimentos, fala e consciência. Para quem acreditava, não se tratava de coincidência, mas da ação direta do ‘santo da internet’.
Emocionada, a mãe conta que a recuperação foi registrada em fotos e vídeos, incluindo uma visita de Gabriel ao Humap, já andando e falando, para reencontrar os profissionais que o haviam cuidado. “A emoção e a alegria no rosto da equipe mostravam que o milagre não era só nosso, mas de todos que acompanharam sua luta”.
O caso de Gabriel não entrou formalmente no processo de canonização de Carlo, já que o milagre ocorreu antes de sua beatificação. Assim, o reconhecimento oficial veio com o caso de Matheus Vianna, também de Campo Grande, cujo prontuário do Humap serviu de base para o Vaticano.
Mas, para a família de Gabriel, isso não diminui a experiência vivida: “O milagre aconteceu em nossa casa, em nossa comunidade. A santificação de Carlo nos deixou mais fortes na fé e espalhamos essa esperança sempre que contamos a nossa história”.
Hoje, ao recordar o caminho percorrido, a mãe resume: “Nos piores momentos é que nos apegamos a Deus. A melhora do Gabriel nos transformou em pessoas melhores, mais cheias de fé e esperança. Aprendemos que tudo acontece no tempo Dele, e não no nosso”.
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(Revisão: Bianca Iglesias)