O ‘Dia do Cabelo Maluco’ se tornou uma febre nas escolas de educação infantil, desafiando os pais a explorarem a criatividade junto aos filhos. Mas o que, para muitos, pode parecer apenas uma brincadeira simples para sair da rotina, aos olhos dos educadores a atividade estimula a criatividade, capacidade de expressão e interação entre os pequenos.
A atividade é realizada com os alunos uma vez por ano, e faz parte do cronograma de ações desenvolvidas por escolas, tanto particulares quanto públicas, geralmente próximo ao Dia das Crianças. O cronograma consiste em uma série de atividades culturais e brincadeiras para celebrar a data.
Em Campo Grande, as 206 unidades escolares da Reme (Rede Municipal de Ensino), têm autonomia para planejar e desenvolver atividades pedagógicas, de acordo com o PPP (Projeto Político-Pedagógico) de cada unidade e seguindo também as diretrizes e bases da Educação definidas pela Semed (Secretaria Municipal de Educação).
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Programação nas escolas
Conforme a secretaria, durante a Semana da Criança, que, este ano, antecede o Dia das Crianças, celebrado no próximo domingo (12), as escolas têm o costume de promover ações lúdicas e recreativas, com intuito de valorizar a criatividade, socialização e protagonismo infantil. Entre as atividades, está o tradicional ‘dia do cabelo maluco’, que se popularizou nos últimos anos.
Segundo a coordenadora pedagógica da Emei (Escola Municipal de Educação Infantil) Clotilde Chaia, Josineide Velasques, as atividades desenvolvidas durante a semana letiva têm caráter pedagógico, pois estimulam a imaginação, o respeito às diferenças e o convívio escolar saudável.
O cronograma foi elaborado em conjunto com os professores de forma estratégica, para que nenhuma criança ficasse de fora da brincadeira, e para que os pais também pudessem ter tempo para se organizar.
As atividades tiveram início nesta segunda-feira (6), com o Dia do Cabelo Maluco ou Fantasia. Já na quarta-feira (8), a escola alugou brinquedos infláveis. A programação termina na sexta-feira (10), com apresentações culturais que serão realizadas pelos próprios alunos.
Já na Escola Municipal Demosthenes Martins, a diretora Kelly Nogueira detalha que a programação conta com atividades também do cabelo maluco, além da mochila maluca, dia do meu time, dia do brinquedo e lanche coletivo com banho de mangueira. Por lá, a semana divertida também teve início na segunda (6), e vaia tésexta-feira (10).
Atividades são elaboradas visando inclusão
Com a popularização do ‘cabelo maluco’, surgiram também as questões com os pais que não possuem tempo ou recursos para caracterizar os filhos. Para driblar esse problema, a coordenadora Josinele Velasques explica que a escolha do dia de cada atividade foi pensada para que os pais pudessem ter tempo hábil de ajudar as crianças.
A escola do cabelo maluco na segunda-feira, por exemplo, foi para que os pais pudessem utilizar o final de semana para elaborar os adereços com os filhos. Já a opção de ‘fantasia’ no lugar do cabelo maluco foi pensada para abrir o leque de opções e também para acolher àqueles que não puderam ir fantasiados de casa.
“A gente entende que no final de semana eles [os pais] têm mais tempo de se organizar do que no decorrer da semana. A gente também não delimitou que fosse só o cabelo maluco, porque às vezes a criança já tem alguma fantasia, e aí a família ficaria à vontade. Também tem aquelas crianças que acabam não vindo de casa porque a família esqueceu, ou aconteceu algum imprevisto. Então aqui na escola a gente tem alguns adereços, fantasias, que a gente disponibiliza para aquelas crianças para elas se sentirem pertencentes também”, explica a coordenadora.
Além disso, as brincadeiras são feitas ao ar livre, possibilitando correr, se expressar e interagir. Também é um momento de muita integração, pois o momento possibilita que crianças de diferentes idades brinquem juntas, estimulando a coletividade e o respeito.
‘Brincar é coisa séria’
Conforme a coordenadora Josineide Velasques, fortalecer o brincar é importante para a infância, porque é por meio da brincadeira e do ‘faz de conta’ que as crianças se expressam e interagem. Além disso, essas atividades estimulam a criatividade, o senso de coletividade, a coordenação motora e as funções cognitivas das crianças.
Mas como tudo isso acontece? Josineide explica: o cronograma das atividades são apresentados aos alunos. Cada turma tem seu horário para participar das brincadeiras e cada atividade tem um horário para acontecer. Dessa forma, os pequenos são estimulados a raciocinar e se organizar, respeitando todas as etapas.
O simples ato de brincar também ajuda na coordenação motora das crianças, e o fato do espaço ser compartilhado com outras turmas, de diferentes idades, estimula a interação, respeito às diferenças e coletividade.
“A gente entende que o que norteia o trabalho da educação infantil são as brincadeiras. Há muita troca, eles aprendem entre si. As crianças aprendem por meio da brincadeira, então assim, o brincar por si só já é algo que vai desenvolver integralmente a criança. A gente tem as diretrizes curriculares, a BNCC, que fala que os eixos estruturantes da educação infantil são as interações e as brincadeiras. Brincar é muito sério”, enfatiza Josineide.

Conforme a diretora da Escola Municipal Demosthenes Martins, Kelly Nogueira, o objetivo das brincadeiras é promover uma aprendizagem significativa, integrando as dimensões cognitivas, emocionais, sociais e motoras no desenvolvimento infantil.
Do ponto de vista pedagógico, a diretora explica que promover essas experiências no ambiente escolar permitem que as crianças vivenciem o conhecimento de forma concreta e contextualizada. Além disso, valorizar esses pequenos momentos, em que as crianças saem da rotina para explorar a criatividade, imaginação e interação, é também se comprometer com uma educação humanizada, que valoriza a criança.
“Na perspectiva vigotskiana, essas práticas reconhecem que a aprendizagem ocorre a partir da interação social, da mediação pedagógica, em que o brincar e a construção do conhecimento. Nós elaboramos várias dinâmicas de propostas que favorecem o desenvolvimento das funções executivas, que é atenção, memória, trabalho, planejamento, alta regulação, além de potencializar a criatividade, a linguagem, a autonomia e o pensamento crítico das crianças”, enfatiza kelly.
Semana vai além da brincadeira
Se você pensa que a Semana da Criança se resume apenas a alguns dias fora da sala de aula, longe dos livros, está bastante enganado. Conforme a coordenadora pedagógica Josineide Velasques, as crianças são capazes de discernir quando os adultos à sua volta promovem momentos especiais para elas, que saem do cotidiano.
Além disso, as atividades culturais dentro das escolas, por mais simples que possam parecer, às vezes têm um grande valor na vida do aluno, principalmente daqueles que, por sua vez, possam não ter acesso à lazer e cultura no dia a dia.
“No dia do cabelo maluco e fantasia, fizemos uma festinha no pátio, e uma das crianças falou ‘muito obrigada, tá linda a festa’. Às vezes a gente subestima essas crianças nessa faixa etária, achando que elas não têm entendimento, mas eles têm sim, eles percebem que tá acontecendo algo diferente, e se sentem muito felizes por isso. Por exemplo, os professores organizaram um teatro de faz de conta dos três porquinhos, foi simples, só que é nesse momento que a gente percebe que às vezes aquela criança não tem esse acesso [a cultura e arte]”, expressa a coordenadora.

Na visão da diretora Kelly Nogueira, o impacto da Semana da Criança é bastante positivo para os pequenos, pois as atividades, construidas com base em uma convivência permeada por respeito e empatia, proporcionam vivências afetivas que fortaleceram os vínculos entre as crianças, os professores, todos os sujeitos envolvidos na comunidade interna e externa.
“Essas práticas estimulam as habilidades como autoconfiança, cooperação, regulação emocional, que são essenciais para o desenvolvimento saudável das crianças. Além de que traz uma atmosfera de alegria, de acolhimento, cria memórias afetivas, duradoras, fundamentais para a formação da identidade e do vínculo do ambiente escolar. Então, são um conjunto de experiências que as crianças estão vivenciando, que contribui para o equilíbrio emocional, engajamento nas aprendizagens, fortalecendo assim a visão da escola como um espaço de desenvolvimento pleno de todas as crianças”, expressa.
As ações desenvolvidas com as crianças também causam impacto para as famílias, que, segundo Josineide, sempre aguardam ansiosas pelas atividades. Para a coordenadora, a Semana da Criança também acaba sendo uma forma de dividir com os pais as atividades desenvolvidas dentro do ambiente escolar, e sempre recebe um feedback positivo das famílias.
Este é o caso da merendeira Silmara Monteiro de Arruda, de 37 anos. Ela tem uma filha de quatro anos matriculada na Emei Chlotilde Chaia, e expressa que ações como as desenvolvidas na escola são muito importantes para o desenvolvimento da filha. “Assim como os adultos precisam sair da rotina, eles também precisam. E é incrível ver a animação e a expectativa deles”.
Na opinião de Silmara, as atividades também contribuem para a interação social das crianças e são fundamentais para o desenvolvimento infantil dentro do ambiente escolar. Além disso, toda a correria de procurar referências na internet e os materiais para fazer o penteado maluco, sempre acabam compensando no final. “Quando você vê o sorriso no final, e na hora que ela vai no espelho ver [o resultado], vale muito a pena o esforço”, finaliza.

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