Mesmo com uma decisão judicial que garante assistência integral, um homem de 48 anos, acamado e com lesão neurológica grave, tem enfrentado inúmeros obstáculos para conseguir atendimento médico em Campo Grande. A família denuncia negligência, técnicos sem credenciais, abandono de plantões e até roubo por parte de funcionários da empresa responsável pelo home care (atendimento domiciliar).
A irmã, de 62 anos, conta que o paciente é caçula de sete irmãos. Em 2024, ele sofreu uma parada cardíaca de 45 minutos, voltou à consciência, mas ficou com sequelas neurológicas severas. Desde então, precisa de acompanhamentos médicos contínuos.
“Quando ele sofreu o infarto, estava em São Paulo; mas, como a família é toda daqui, fizemos empréstimo de R$ 20 mil para trazer ele na UTI móvel até Campo Grande”.
Sem condições de arcar com os cuidados, a família, por meio da Defensoria Pública, conquistou na Justiça o direito a um pacote completo de cuidados: atendimento médico mensal, fisioterapia diária, fonoaudiologia e técnico de enfermagem 24 horas por dia.
Descumprimento, roubo e negligência
No entanto, conforme a irmã, desde o primeiro dia o serviço não é cumprido integralmente. Ela afirma que técnicos de enfermagem faltam sem aviso, alguns não apresentam credenciais profissionais e outros são flagrados em situações de negligência. Além disso, denuncia que empresa contratada já teria recebido cerca de R$ 150 mil para prestar os serviços.
Em um dos casos relatados, um técnico teria deixado o paciente sujo e sem cuidados básicos enquanto usava o celular para tratar de assuntos pessoais. Em outro, ela afirma ter flagrado o roubo de itens pessoais do paciente e até quem peça pagamento adiantado, mas não comparece ao trabalho.
“Meu irmão urinou em cima da cama enquanto o cuidador tratava de vendas e negócios no celular. Não saiu do celular o dia todo. Tinha técnico que dormia ao invés de cuidar dele, outro tinha histórico de agressão contra a mulher. Uns não tinham nem registro no Coren-MS (Conselho Regional de Enfermagem de Mato Grosso do Sul)”, ressalta.
‘Virou a casa da mãe Joana’
A família diz ainda que precisou arcar com atendimentos emergenciais particulares, como de um bucomaxilofacial para reposicionar a mandíbula do paciente, devido à falta de assistência adequada durante os plantões.
“Colocamos câmera no quarto e registramos tudo. Meu irmão ficou sem atendimento vários dias seguidos. A casa da minha mãe, de 85 anos, e onde meu irmão mora, virou ‘a casa da mãe Joana’. Os técnicos fazem o que querem”, conta.
Para tentar garantir o mínimo de cuidado, a irmã buscou técnicas de enfermagem por conta própria e entrou em contato com profissionais do bairro. Contudo, apesar de indicar os contatos à empresa, ela diz que muitos nem sequer foram acionados.
“O home care não pode abandonar um paciente sozinho, mas é o que tem acontecido. Sou idosa, estou em tratamento de câncer e não estudei a área da saúde, por isso não tenho condições de cuidar dele”, lamenta.
A empresa é a segunda especializada em home care a atender o paciente. Segundo a irmã, a primeira empresa realizou os atendimentos por três meses, mas teve o mesmo problema.
Empresa nega as acusações
Em contrapartida, a empresa nega as acusações e afirma que irá acionar a Defensoria Pública, pois, em 40 dias, dez técnicos passaram pelo local para prestar atendimento ao paciente.
“Já somos o terceiro home care com este paciente. Vamos devolvê-lo, não aguentamos mais”, diz.
O Jornal Midiamax também questionou a Defensoria Pública sobre a execução da decisão judicial e possível aplicação de multa à empresa por não cumprimento integral do atendimento.
Em resposta, a Defensoria orientou que a família busque informações diretamente nas unidades de atendimento da instituição. No entanto, não passou outros detalhes, devido à Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais.
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(Revisão: Dáfini Lisboa)