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Cotidiano

Entenda por que a intoxicação por metanol pode causar cegueira e destruir o nervo óptico

Entre os efeitos dessa substância altamente tóxica para o organismo está o ataque ao nervo óptico, estrutura essencial da visão
Karina Campos -
oftal metanol
Pacientes com suspeita de intoxicação por metanol relatam cegueira (Ilustrativa, Freepik)

Entre os principais sintomas relatados pelas vítimas suspeitas de intoxicação por metanol estão a visão turva e a cegueira. Entre os efeitos dessa substância altamente tóxica para o organismo está o ataque ao nervo óptico, estrutura essencial da visão.

O médico oftalmologista Dr. Ricardo Filippo, graduado em Medicina pela UFRJ (Universidade Federal do ), explica que o nervo óptico é composto por três partes principais: olho, córtex visual (localizado no cérebro) e a via que os conecta.

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Dentro do olho está a retina, que possui células responsáveis por perceber, processar e fazer a transmissão de informações para o cérebro, que, por sua vez, faz a decodificação dos sinais recebidos.

O nervo óptico

Olho e o cérebro precisam estar devidamente conectados mutualmente para que o processo visual ocorra. O nervo óptico age como um tipo de ponte entre os dois, sendo extremamente importante para a nossa visão.

Ele é composto por milhões de fibras e é responsável por promover desde a dilatação e contração das pupilas até como enxergamos as imagens e palavras. O nervo óptico é considerado um nervo aferente, isso porque transmite impulsos visuais.

“Resumidamente, a função do nervo óptico é transmitir os sinais visuais do olho para o cérebro. Por esse motivo, qualquer tipo de lesão nessa estrutura nervosa pode provocar problemas oculares e até mesmo a perda da visão.”

Ação do metanol

O médico nefrologista e presidente do Sindicato dos Médicos de , Dr. Marcelo Santana Silveira, explica que o metanol possui um efeito de degradação extrema no organismo humano e age como um intoxicante, causando efeitos graves.

“Basicamente, no metabolismo do etanol, nosso corpo vai se transformar em acetaldeído, vai ser metabolizado pelo fígado e vai formar o ácido acético, que é muito parecido com um vinagre, na linguagem popular. Vai ser degradado, e o corpo vai eliminar essas substâncias para voltar à normalidade após o consumo da bebida alcoólica.”

“Muitas vezes, durante o consumo do etanol, então, devido principalmente a uma carga alta do acetaldeído, as pessoas costumam apresentar aqueles sintomas chamados de ressaca, né? Dor de cabeça, indisposição, mal-estar. Então, é o corpo trabalhando para que seja metabolizado o acetaldeído pelo fígado, transformado em ácido acético, que é o vinagre, e depois eliminado, processado pelo organismo”, explica o especialista.

No entanto, o metanol tem como principal componente o formaldeído, um agente tóxico. “A gente tem muita dificuldade em lidar com essa substância, pois ela vai se transformar numa outra substância que chama ácido fórmico, que é extremamente perigoso. O acúmulo dele no nosso organismo, na última análise, vai se transformar em água e gás carbônico, mas o componente é bastante nocivo.”

Ainda, Silveira descreve que o ácido fórmico desencadeia “sangue ácido”, que contribui para a deterioração e intoxicação em vários órgãos, como fígado e coração.

Sintomas

Os sintomas da intoxicação por metanol podem ser confundidos com os efeitos da pós-embriaguez, pois podem aparecer entre 12 e 48 horas após o consumo da substância. As vítimas podem apresentar dor de cabeça, dores abdominais, náuseas, vômito e confusão mental.

“O principal fator que tem que ser observado é com relação à alteração visual, devido à ação do metanol no nervo óptico. Então, esse paciente pode apresentar uma cegueira, e essa cegueira pode, muitas vezes, surgir rapidamente. Ela pode voltar — o paciente fica por um período com a cegueira — ou pode ficar permanentemente, ou por períodos mais prolongados. Então, um fato que a gente tem que ficar bastante atento é com relação a essa questão da alteração visual, da cegueira.”

Portanto, após o consumo de uma bebida alcoólica suspeita de alteração, o consumidor deve ficar atento às reações, principalmente com sintomas desproporcionais e intensos.

“No caso de sintomatologia intensa após ingerir bebida alcoólica, principalmente se for uma quantidade pequena e houver reações desproporcionais, tem que se procurar atendimento médico o mais rápido possível, porque aí, sim, o tempo para ser avaliado, para ser atendido, vai contar no tratamento”, alerta.

Notificações no Brasil

Por enquanto, não há notificações em Mato Grosso do Sul. No entanto, o CIEVS Nacional (Centro Nacional de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde) recebeu 43 notificações de intoxicação por metanol no país: 39 casos em — 10 confirmados e 29 em investigação — e 4 em investigação em Pernambuco. Foi registrado um óbito em São Paulo, enquanto outros sete seguem em investigação — cinco em SP e dois em PE. Além disso, foram descartados 4 casos suspeitos.

Logo, há tendência de novos casos surgirem, pois o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, recomendou a notificação imediata ao Ministério em casos de suspeita.

“Nós já temos um guia para orientar os profissionais: como tratar e como diagnosticar. Além disso, também temos no Brasil o antídoto recomendado, o etanol farmacêutico”, explica.

Como medida de prevenção para quem frequenta festas, bares e eventos, o ministro da Saúde orientou a população sobre cuidados essenciais. “Como ministro da Saúde e médico, posso dizer que temos três regras em relação às bebidas alcoólicas: se beber, não dirija; se beber, mantenha-se hidratado e bem alimentado, pois isso reduz os impactos de uma bebida adulterada; e, se for beber, certifique-se da segurança da origem, verificando se o lacre está intacto”, alertou.

Orientações para os profissionais

Ao reconhecer que o paciente foi intoxicado por metanol, o profissional de saúde deve ligar para o CIATox (Centro de Informação e Assistência Toxicológica público) de sua região, para que o serviço de saúde faça a notificação e a investigação do caso.

Investigação

Gin, uísque e vodca entram na mira da segurança pública durante a investigação da origem das bebidas supostamente batizadas com metanol que teriam causado a morte de cinco pessoas em São Paulo e dois em Pernambuco. Só neste ano, o Procon-MS (Secretaria Executiva de Orientação e Defesa do Consumidor de Mato Grosso do Sul) notificou nove estabelecimentos vendendo produtos suspeitos.

Em razão dos casos de contaminação por bebida adulterada, registrados nas regiões Sudeste e Nordeste do Brasil, o recomenda:

  • priorize o consumo em estabelecimentos dos quais tenha referência;
  • desconfie de preços muito baixos, pois podem estar associados à sonegação ou adulteração;
  • verifique se o rótulo apresenta imperfeições como lacres desalinhados, erros de ortografia e ausência de informações como endereço do fabricante ou distribuidor, CNPJ e número do lote;
  • sempre solicite a nota fiscal, pois ela é a garantia do consumidor em eventual reclamação.

Havendo sintomas pós-consumo que resultem em visão turva, dor de cabeça intensa, náusea, tontura ou redução do nível de consciência, busque atenção médica imediatamente. A orientação clínica, nos casos de intoxicação, também está disponível pelo Disque-Intoxicação da Anvisa (0800 722 6001). O serviço é gratuito e atende 24 horas.

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