Nesta segunda-feira, 28 de julho, é celebrado o Dia Mundial de Luta Contra as Hepatites Virais. A data marca uma importante mobilização nacional e internacional para ampliar o acesso ao diagnóstico, tratamento e prevenção dessas infecções silenciosas que comprometem o fígado e podem evoluir para casos graves, como cirrose e câncer hepático.
No Brasil, as hepatites mais comuns são causadas pelos vírus A, B e C. Há ainda os vírus D, mais frequente na região Norte, e E, com baixa circulação no país. Segundo o Ministério da Saúde, essas infecções causam aproximadamente 1,4 milhão de mortes por ano no mundo, por complicações como infecção aguda, cirrose e câncer de fígado. A hepatite C, por exemplo, tem taxa de mortalidade comparável ao HIV e à tuberculose.
Em Mato Grosso do Sul, os dados mais recentes do Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais apontam avanços significativos. Entre 2014 e 2024, houve redução de 67% nos óbitos por hepatite B (de 31 para 10) e de 72% nos óbitos por hepatite C (de 11 para 3).
Apesar da melhora, o Ministério da Saúde reforça a necessidade de ampliar a testagem e o início precoce do tratamento, especialmente nos casos de hepatite B.
Tipos de hepatite viral
Hepatite A
Transmitida por água e alimentos contaminados, a hepatite A costuma ter evolução benigna e curta duração. A letalidade aumenta com a idade. A principal forma de prevenção é a vacinação, oferecida em dose única aos 15 meses de idade. Em grupos com condições clínicas especiais, o esquema é de duas doses.
Hepatite B
Classificada como uma infecção crônica de relevância em saúde pública, é causada pelo vírus HBV e transmitida por sangue contaminado, relações sexuais desprotegidas e de mãe para filho. Muitas vezes silenciosa, pode evoluir para insuficiência hepática, cirrose e câncer.
A prevenção é feita com vacina, disponível em quatro doses para crianças e três para adultos não vacinados, e com medidas como uso de preservativos e não compartilhamento de objetos cortantes. O tratamento inclui medicamentos como tenofovir, entecavir, alfapeginterferona e TAF.
Hepatite C
Causada pelo vírus HCV, é transmitida principalmente por contato com sangue contaminado. A forma crônica é a mais comum e pode evoluir por décadas sem sintomas. O tratamento é feito com antivirais de ação direta (DAA), que têm taxa de cura superior a 95%.
Hepatite D (Delta)
O vírus HDV depende da presença do HBV para infectar o organismo. A infecção pode ocorrer simultaneamente (coinfecção) ou em indivíduos com hepatite B crônica (superinfecção). A vacinação contra hepatite B também protege contra a hepatite D.
Hepatite E
Transmitida por via fecal-oral, é mais comum em regiões da Ásia e África. No Brasil, os casos são esporádicos. A infecção geralmente é autolimitada, mas pode evoluir para hepatite fulminante em casos raros.
Panorama da testagem e tratamento
De forma inédita, o Ministério da Saúde lançou uma plataforma que permite acompanhar, por estado e município, quantas pessoas foram diagnosticadas com hepatites B e C, quantas iniciaram tratamento e o tempo médio de cuidado.
Inspirado na estratégia de enfrentamento ao HIV, o sistema permite busca ativa e acompanhamento da adesão.
Em 2024, 115,3 mil pessoas receberam indicação para tratamento contra a hepatite B no país. Destas, 58,8 mil iniciaram e 14,8 mil interromperam o acompanhamento.
Em Mato Grosso do Sul, 1.188 pessoas foram indicadas ao tratamento, com 430 iniciando o processo. Já em relação à hepatite C, das 12,5 mil pessoas indicadas, 9,1 mil iniciaram o cuidado. Em MS, 130 pessoas tiveram indicação e 96 receberam tratamento.
A meta do Ministério da Saúde é dobrar o número de pessoas em tratamento para hepatite B até alcançar 80% de cobertura, conforme orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Campanha “Um teste pode mudar tudo”
Durante o Julho Amarelo, o Ministério da Saúde lançou a campanha “Um teste pode mudar tudo”, incentivando a testagem gratuita, disponível nas Unidades Básicas de Saúde.
O exame pode ser feito por meio de testes rápidos ou laboratoriais, conforme a indicação clínica. A recomendação é que todas as pessoas com mais de 20 anos façam o teste ao menos uma vez na vida.
“A hepatite B ainda não tem cura, mas pode ser controlada com a vacina, que é segura, eficaz e ofertada gratuitamente pelo SUS. As vacinas no Brasil são certificadas pela Anvisa e têm eficácia comprovada por estudos”, afirmou a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente, Mariângela Simão.
Queda expressiva entre crianças
Desde a introdução da vacina contra hepatite A no SUS, em 2014, os casos vêm diminuindo de forma expressiva. Entre menores de 5 anos, a queda foi de 97,3% entre 2013 e 2023. Na faixa dos 5 aos 9 anos, a redução foi de 99,1%. Considerando todas as idades, o país registrou 6.261 casos em 2013 e apenas 437 em 2021.
Também foi lançado o Guia de Eliminação das Hepatites Virais, com orientações técnicas a estados e municípios. A iniciativa prevê a concessão de selos Ouro, Prata e Bronze conforme o cumprimento de metas. Dezoito municípios brasileiros já foram certificados.