Conhecido mundialmente pela criação arquitetônica “cidades-esponja”, conceito que explora a relação com o meio ambiente, o arquiteto Kongjian Yu desbravava o Pantanal sul-mato-grossense em busca de novas soluções para o impacto das enchentes. O bioma — a maior planície alagada do mundo — seria material de estudo do documentário com o cineasta Luiz Fernando Feres da Cunha Ferraz. Os dois morreram em uma queda de avião nesta terça-feira (23), na região da fazenda Barra Mansa. O piloto e o fotógrafo Rubens Crispim Júnior também morreram na queda.
Carlos Lucas Mali, conselheiro federal que representa o Estado e do CAU (Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Mato Grosso do Sul), além de ser coordenador da comissão de assuntos internacionais do CAU, encontrou Kongjian Yu recentemente e o aguardava, nesta quarta-feira (24), para debater os conceitos arquitetônicos possíveis no Pantanal.
✅ Clique aqui para seguir o Jornal Midiamax no Instagram
“Nosso contato começou quando ele esteve em Brasília, na Conferência Estacional, entre 4 e 6 de setembro. Tivemos um contato bastante grande e, na semana seguinte, no dia 18, ele fez uma palestra na Bienal de São Paulo. Conversamos bastante, inclusive, conheci o cinegrafista que iria viajar com ele para fazer essa matéria sobre cidades-esponja. Essa era a ideia dele: criar ao longo das cidades alguns locais que pudessem absorver água. É como se fosse um córrego, por exemplo, que, na hora que enchesse, tivesse mais espaço para não ir para a via. A gente ia ter contato com ele depois para ver o resultado e conversar sobre o Pantanal. Trocamos, inclusive, telefones”, descreve.
A inovação através do Pantanal
Mali diz ainda que a proposta do arquiteto era trabalhar pelo mundo, inclusive em Mato Grosso do Sul, aplicar e estudar o conceito “cidades-esponja”.
“Ele é o arquiteto mais bem conceituado nesse assunto. Nós temos algumas cidades que já têm feito isso no Brasil, como em Curitiba, mas não nessa dimensão. Nós iríamos conversar sobre o Pantanal quando ele voltasse, mas isso não vai existir. A conversa sobre o Pantanal seria na volta. Na ida, o cinegrafista disse que eles iam lá fazer essas imagens e que ele ia fazer todo um estudo, conhecer o que acontece no Pantanal, as inundações, tipo de solo. Não conversamos muito sobre o Pantanal porque ele não conhecia.”

Kongjian Yu seria recepcionado no plenário do conselho, em Campo Grande, no previsto retorno, como menciona Mali. Além disso, a categoria preparava trabalhos arquitetônicos para pedir a avaliação do especialista.
“Eu fiquei muito triste. Para nós, de MS, principalmente, foi muito triste. Ele estava fazendo um trabalho por nós no Pantanal, estudando as cidades-esponja, que é o trabalho dele. Nós estávamos iniciando um trabalho com o arquiteto, e esse material se perdeu.”
Abalo na categoria
Criadora de casas para ribeirinhos no Pantanal sul-mato-grossense, a arquiteta Bianca Tupikin também iria recepcioná-lo no retorno para entregar a catalogação sobre as construções ecológicas no bioma. Ela chegou a ter um encontro na conferência internacional de Brasília, no dia 18 de setembro.
“Tive uma breve conversa e falei do meu trabalho no Pantanal. Ele era muito requisitado, sempre havia muita gente ao redor dele. Um dos motivos pelos quais fui à Brasília participar da conferência foi por ele ser um dos palestrantes.”
“Nesse contato, ele disse que se sentia feliz em saber que deixaria um legado. Que muitos abraçaram o conceito de cidades-esponja e que desejava que esse conceito pudesse ser replicado cada vez mais. E que saber que podia contribuir para um mundo melhor era uma sensação de paz. Ele disse que a semente foi plantada e que os novos poderiam continuar o trabalho. Mas que ainda tem muito a fazer.”
‘Partiu no cenário que traduzia a perfeição’
“Morreu enquanto buscava no Pantanal a imagem maior do seu próprio sonho. O arquiteto das ‘cidades-esponja’ partiu no cenário que traduzia com perfeição a sua ideia: a terra que absorve, guarda e devolve a água, em equilíbrio com a vida. É uma perda imensa para o mundo, mas também uma coincidência que ressoa como símbolo. Ele deixou a vida no lugar que melhor expressa a natureza da sua obra, como se o Pantanal tivesse acolhido não apenas o visitante, mas também o criador de uma visão que permanecerá”, encerra Tupikin.
💬 Fale com os jornalistas do Midiamax
Tem alguma denúncia, flagrante, reclamação ou sugestão de pauta para o Jornal Midiamax?
🗣️ Envie direto para nossos jornalistas pelo WhatsApp (67) 99207-4330. O sigilo está garantido na lei.
✅ Clique no nome de qualquer uma das plataformas abaixo para nos encontrar nas redes sociais:
Instagram, Facebook, TikTok, YouTube, WhatsApp, Bluesky e Threads.