Com onda de crimes, vizinhança clama por solução para o ‘Carandiru’ em Campo Grande
Vizinhança relata que ocupação irregular gera desvalorização imobiliária, além de problemas de segurança e saúde pública
Osvaldo Sato –
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Furto de fios e uso de drogas são algumas das preocupações de moradores vizinhos ao ‘Carandiru’, na Mata do Jacinto, em Campo Grande. Na quinta-feira (9), Clayton Souza de Lima, de 41 anos, morreu durante uma operação policial que investigava crimes de receptação e venda de produtos furtados.
Um dia depois, o Midiamax foi ao local. Durante a visita, constatou-se uma baixa movimentação, mas a presença de um número significativo de pessoas em situação de rua nas proximidades. No terreno baldio que fica ao lado de um condomínio residencial, que por sua vez é vizinho do ‘Carandiru’, havia um princípio de incêndio, com uma variedade de entulhos sendo queimados.
A reportagem entrevistou um morador do próprio ‘Carandiru’ que relatou que cerca de 100 pessoas vivem no local. Apesar de ser usuário de drogas, ele afirma que sobrevive coletando recicláveis, como papelão e latinhas. Segundo ele, os incêndios naquele terreno baldio ocorrem para queimar entulhos, mas também para extrair cobre de motores.
Assim, seria justamente o cobre uma das principais fontes de recurso para usuários de drogas. Além dos motores, o cobre é furtado por meio de sua retirada de fios telefônicos e de distribuição de internet.
Descarte irregular de lixo
Outro morador da região, que é proprietário de um apartamento, destacou que a rua lateral é usada intensamente por usuários de drogas, devido ao descarte de lixo e à iluminação deficiente. Ele acrescentou que o terreno baldio é frequentemente utilizado para o descarte de materiais de furto, como fios de cobre, agravando a insegurança no local.
Um comerciante local, de 40 anos, afirmou que o descarte irregular de lixo e entulho é o principal problema da região, associado à vulnerabilidade social e à presença de pessoas em situação de rua, aumentando as preocupações quanto à criminalidade.
A reportagem do Jornal Midiamax entrou em contato com a Prefeitura e questionou a quantidade de denúncias recebidas sobre descarte irregular de lixo na região, porém não obteve retorno até o momento desta publicação. O espaço segue aberto para posicionamentos.
No entanto, a Prefeitura já esclareceu que segue com os trâmites junto à Defensoria Pública para resolver a situação do ‘Carandiru’.
Ocupação tem cerca de 30 anos
O ‘Carandiru’ foi ocupado em 1994 depois que a empresa Construtora Degrau Ltda. faliu e paralisou as obras devido à falta de recursos. São três blocos de apartamentos, cada um com 16 unidades habitacionais e que formariam o Residencial Atenas.
Segundo o processo que pede a reintegração de posse dos imóveis pela construtora, aberto em 2013, a empresa ainda finalizou e entregou um dos três blocos aos compradores. Então, eles se mudaram para lá, enquanto outro bloco ficou semi-acabado e o último apenas nos alicerces.
Ainda conforme relatório anexado ao processo, ao menos 40 famílias ocuparam o residencial, totalizando cerca de 200 pessoas. Desde essa época os vizinhos de outros blocos reclamavam de atos de vandalismo, o que provocou a desvalorização dos apartamentos.
Moradores propõem soluções
Diante dos problemas, os moradores tentam se organizar por meio de diversas ações, como abaixo-assinados, protestos e reuniões com autoridades. Os principais problemas apontados são a segurança pública, a desvalorização imobiliária, prejuízo ao comércio local, saúde pública, meio ambiente e sobrecarga dos serviços públicos.
Nos ofícios enviados à Prefeitura, a comunidade não solicita apenas soluções policiais ou a desocupação pura e simples, mas defende uma abordagem que beneficie todos os envolvidos.
Segundo os relatos, todo o problema envolvendo o ‘Carandiru’ gera uma desvalorização imobiliária, com impacto negativo na venda e aluguel de imóveis e dificuldade de atrair investimentos na área. Já na segurança pública, a insegurança afasta clientes e reduz o movimento, gerando inclusive o fechamento de comércios devido aos prejuízos.
Quanto aos problemas na segurança pública, são notórias as consequências, uma vez que verificou-se aumento no número de conflitos e ações policiais frequentes, como a de quinta-feira (9), que resultou na morte de uma pessoa.
Além disso, há ainda as questões da saúde pública, com o acúmulo de resíduos na região, degradação ambiental, incêndios e descarte irregular de lixo, que pode ainda contribuir com a proliferação de vetores de doenças.
Ainda assim, o movimento de moradores da região clama por uma solução que atenda também aos interesses das famílias que ocupam o prédio ‘Carandiru’. Propõem, dentre outras soluções, um programa de moradia popular para realocar as famílias em moradias dignas e seguras, projetos sociais, reforço na segurança e fiscalização.
Homem morreu em confronto com a PM
Na quinta-feira (9), Clayton Souza de Lima, de 41 anos, morreu em confronto com a PM (Polícia Militar), na ocupação do condomínio apelidado de ‘Carandiru’.
Segundo a Polícia, a equipe realizava uma operação na região, quando Clayton teria recebido os militares com um facão nas mãos. Logo, houve confronto com os policiais, e o homem acabou alvejado.
Durante a operação, os policiais apreenderam fios de cobre, drogas e uma arma artesanal. Além disso, conduziram quatro pessoas para a delegacia, para prestarem esclarecimentos.
A polícia ainda constatou no local que Clayton acumulava em torno de 50 passagens em sua ficha criminal. Ele também era usuário de drogas.
Processo de reintegração de posse está parado
Existe um processo de reintegração de posse do prédio condominial. Contudo, a ação foi suspensa no último ano, para que a Defensoria Pública pudesse prestar assistência às famílias ocupantes do local.
A suspensão, que ocorreu entre agosto e dezembro. Este processo já é antigo, mas ganhou destaque após uma operação policial em 2023.
Em 2023, a Polícia Civil, através da 3ª Delegacia, deflagrou uma operação para cumprir mandados no ‘Carandiru’. As investigações iniciaram em agosto de 2022 e estavam focadas em furtos e roubos na região do Prosa.
Com isso, a polícia constatou um verdadeiro ‘Centro de Criminalidade’ no condomínio, com ocorrências que variavam de furtos e roubos a crimes mais graves, como tráfico de drogas, posse ilegal de arma de fogo e homicídios.
As equipes apreenderam armas e dinheiro durante a operação, que contou com a participação de 273 policiais civis do Departamento de Polícia da Capital, Departamento de Polícia Especializada e do Interior. Também participaram policiais militares do 9º BPM, Companhia de Canil do Batalhão.
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