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Cotidiano

Clínica veterinária famosa de Campo Grande é denunciada por negligência e ‘sumiço’ de corpos

Relatos levaram sindicato a encaminhar denúncias formais ao MPT e CRMV/MS
Idaicy Solano -
Gato durante atendimento veterinário. (Foto: Imagem Ilustrativa, Freepik)

De ‘‘ de corpos de animais à estrutura supostamente inadequada para realizar procedimentos, uma clínica veterinária famosa de , localizada no Bairro Vila Murumbi, vem sendo alvo de inúmeros relatos negativos de tutores.

A clínica de atendimento 24h se apresenta em diversos conteúdos publicitários na internet como ‘referência em castração’, além de realizar campanhas pontuais, oferecendo o procedimento a preços acessíveis. No entanto, clientes ouvidos pela reportagem do Jornal Midiamax relatam desde falhas em atendimentos de emergência a descaso após o procedimento de castração. 

Os relatos também levaram o LuteVet/MS (Sindicato dos Médicos Veterinários do ) a encaminhar denúncias formais ao MPT (Ministério Público do Trabalho), ao CRMV/MS (Conselho Regional de Medicina Veterinária de Mato Grosso do Sul) e à Delegacia Regional do Trabalho, que investigam a conduta da empresa. 

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Tutor relata atendimento ‘insensível’

O cientista de dados Guilherme Neves relatou à reportagem que procurou por atendimento na clínica, em janeiro deste ano. Na ocasião, o gato Cheddar estava com dificuldades para respirar, então, ele saiu às pressas com o animal. 

Como o fato aconteceu durante a noite, em um fim de semana, o rapaz procurou na internet onde poderia levar o animal e considerou muita ‘sorte’ a clínica estar a apenas cinco minutos de sua casa. No entanto, ao chegar lá, mesmo que fosse o único cliente aguardando atendimento, relata que se deparou com um atendimento ‘insensível’ e demorado, que custou a vida de seu pet. 

“Eu estava tentando falar para a veterinária que o meu gato estava com dificuldade para respirar, e ela ficava falando ‘Calma, fica tranquilo’, como se não tivesse levando com seriedade o que eu estava falando. E aí, enquanto ela via algumas coisas cadastrais, fazia perguntas que, pra mim, era só perda de tempo, o meu gato começou a ficar cada vez pior, com o rosto, nariz e língua roxo, ele estava desfalecendo na minha frente”, relembra. 

Gatinho Cheddar morreu após demora no atendimento e falta de insumos. (Foto: Arquivo Pessoal)

Guilherme conta que a profissional só deu a devida atenção ao problema quando se deparou com o animal roxo. Nesse momento, ela informou que o gato iria precisar de oxigênio e saiu da sala. Poucos minutos depois, a profissional voltou e informou o tutor de que não havia cilindro de oxigênio, portanto, ele deveria sair dali o mais rápido possível, para tentar atendimento em outro lugar. 

“É uma clínica 24 horas, que faz procedimento, faz cirurgia. Posteriormente, pesquisando, eu descobri que é obrigatório por lei que tenha um cilindro de oxigênio para auxiliar em clínicas que fazem cirurgia, e lá não tinha”, relata, inconformado. 

Guilherme conta que saiu com Cheddar do local e tentou chegar a outra clínica, mas, infelizmente, o animal morreu no caminho, vítima de uma parada respiratória. Abalado, o tutor explica que ainda não decidiu se irá seguir com um processo, pois teme ter de reviver toda a dor da perda novamente. 

“Até hoje, a gente fica muito triste, já faz meses o ocorrido e a gente ainda sofre com isso. O gato era nosso companheiro, a gente adotou durante a pandemia, que foi um período de isolamento, sem proximidade com outras pessoas, e ele ajudou muito a gente nesse processo. Então, é realmente muito sofrimento que a gente acaba passando por causa desse descaso”, desabafa Guilherme. 

Falta de assistência 

O fotojornalista Helder Carvalho afirma ter sido vítima de negligência por parte da equipe, após sua gatinha, Kira, realizar uma castração no local e acabar falecendo, devido às complicações do pós-cirúrgico. Conforme relato, ele levou Kira e Nico, seu outro pet, para realizar o procedimento, pagou toda a medicação exigida e se dedicou a cuidar dos pontos após o procedimento. 

No entanto, os dois gatos passaram mal após fazer o procedimento, principalmente Kira, que ficou apática, sem apetite e com inchaço na barriga. Ao tentar contato com a clínica, Helder relata que eles auxiliaram a medicar os dois pets com dipirona. Sem surtir efeito, em um novo contato com a equipe, a clínica orientou a dar outro tipo de medicação. Com isso, Nico melhorou, mas Kira continuou sem apetite. 

Helder diz que, em certo momento, a clínica passou a dizer que ele teria que internar Kira para fazer alguns exames, e que o procedimento seria cobrado. “Eles queriam cobrar um preço absurdo, sendo que era um retorno da cirurgia que eles fizeram. Eles falaram que não tinha como, que eles iam ter que cobrar. E aí eu comecei a mandar mensagem dizendo que ela estava morrendo e eles só visualizaram. A última mensagem que eles mandaram foi ‘sinto muito pela perda’. Só isso”. 

À esquerda, barriguinha de Kira inchada; à direta, gatinha após passar mal. (Foto: Arquivo Pessoal)

Clientes relatam sumiço de corpos  

A clínica citada pelos tutores reúne dezenas de relatos negativos nas redes sociais e nas avaliações do ‘Google’. As situações descritas pelos tutores vão desde negligência a sumiço misterioso do corpo dos animais internados no local. 

Conforme relato de uma cliente da clínica, ela deixou seu gato pela manhã no local, para ser castrado. Poucas horas depois, foi informada, por mensagem, de que o animal faleceu devido a uma parada cardiorrespiratória. Inconformada, a mulher expressa que não teve o direito de ver ou levar o corpo do animal. 

“Levei meu gato bem, forte e nem direito a ver ele uma vez eu tive. O tempo da morte até a ‘coleta’ do corpo foi 40 minutos. E eu tinha avisado que queria buscar ele. Como vou saber o que aconteceu com ele? Se não mataram? Se não maltrataram? Não pude ver ele”, diz parte do relato. 

Relato de clientes nas redes sociais. (Foto: Reprodução)

Em outra avaliação, uma mulher relata que uma amiga deixou o gato na clínica para castrar e, posteriormente, foi informada de que o animal morreu devido a um choque anafilático. Ela também não conseguiu buscar o corpo do animal, igual no relato anterior. “A gente falou que ia buscar o gato, e eles simplesmente sumiram com o corpo do gato e não dão explicação plausível nenhuma”, diz parte da denúncia.

Uma ex-funcionária da clínica, que pediu para ter a identidade preservada, por medo de sofrer retaliações, procurou a reportagem para relatar que o local não tem estruturas para realizar todos os procedimentos que oferece, pois, além da falta de ética com os animais e tutores, o ambiente sofre com falta de higiene e manejo adequado dos animais. 

Ela detalha que, em uma das internações para castração, por falta de cuidado e atenção, a equipe deixou um gato escapar e não conseguiu capturá-lo. Com isso, a clínica optou por omitir para os tutores sobre o falecimento do animal. “Eles contaram para o tutor que o gato tinha morrido por uma complicação da cirurgia, só que não foi isso que aconteceu. Eles falaram para o tutor que a vigilância sanitária foi buscar o corpo e eles tiveram que entregar, sendo que foi totalmente uma mentira”, expressa.

A profissional explica que, de fato, toda clínica possui convênio com a vigilância sanitária para fazer o recolhimento de animais que, eventualmente, venham a falecer durante uma internação ou procedimento. No entanto, a entrega à coleta deve ser feita com consentimento do tutor. “Quando o animal morre dentro de uma clínica veterinária, eles têm que perguntar antes pro tutor se eles querem que a coleta seletiva venha buscar o corpinho ou eles querem levar o corpinho embora, eles não podem simplesmente entregar para coleta”, explica. 

Relato de clientes nas redes sociais. (Foto: Reprodução)

Sindicato recebeu denúncias

Em nota aberta, divulgada pelo LuteVet/MS (Sindicato dos Médicos Veterinários do Mato Grosso do Sul), foi informado que o sindicato encaminhou ofícios ao MPT (Ministério Público do Trabalho), à Delegacia Regional do Trabalho e ao CRMV/MS (Conselho Regional de Medicina Veterinária de Mato Grosso do Sul), com relatos detalhados, incluindo fotos, vídeos e testemunhos de profissionais, sobre a situação que vem acontecendo na clínica.

À reportagem, o sindicato informou que, por se tratar de processos que correm em sigilo, não poderia divulgar detalhes sobre os relatos ou sobre o andamento das apurações. 

No entanto, a entidade confirmou que, nos últimos meses, recebeu diversas denúncias envolvendo situações relacionadas à atuação de médicos-veterinários do local. “Todas foram formalmente encaminhadas às autoridades competentes, como o Ministério Público, cumprindo nossa missão de proteger e representar a categoria”, diz a nota.

O Jornal Midiamax também procurou a Decat (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Ambientais e de Atendimento ao Turista) e o CRMV/MS, para apurar detalhes sobre as investigações, e aguarda retorno. 

A clínica denunciada pelos leitores também foi procurada, mas não retornou até o fechamento da matéria. O espaço segue aberto para futuras manifestações. 

Clínica passou por vistoria

Conforme documento encaminhado à imprensa, a clínica passou recentemente por uma fiscalização do CRMS (Conselho Regional de Medicina Veterinária de Mato Grosso do Sul). Em relação às condições das baias onde os animais ficam, foi constatado boas condições de higiene, além disso, foi constatado disponibilidade de água e alimento para animais internados. No entanto, foi constatado que a maioria dos animais em pós-operatório não utilizava colar elisabetano ou roupa cirúrgica.

Em relação à esterilização de material cirúrgico, no momento da fiscalização não havia instrumental previamente esterelizado disponível para verificação, mas foi identificado que a clínica utiliza papel grau cirúrgico para indicar materiais que precisam passar pelo procedimento.

Na vistoria também foi encontrada duas pomadas sem data de validade aparente e ampolas violadas vedadas com esparadrapo. Não foi identificada medicação vencida, e a clínica foi orientada sobre o manejo adequado dos medicamentos.

O documento ainda listou uma série de recomendações, incluindo: monitoramento constante do estado clínico dos pacientes; administração correta das medicações precritas; uso de colar elisabetano ou roupa cirurgica, quando indicado; higienização e manutenção adequada do ambiente; e registro completo em produarios sobre condutas e evolução clínica de cada animal; dentre outros.

No documento também consta que foi reforçado com a responsável técnica a obrigatoriedade da presença de médico veterinário durante todo o período de atendimento e internação, além de outras orientações de conduta no local.

‘Pega de surpresa’, diz dona de clínica sobre denúncias

Procurada apela reportagem, a dona da clínica alegou que foi ‘pega de surpresa’ pelos relatos. Ela afirma que trabalha com castratação há mais de oito anos, e não havia recebido feedbacks negativos de clientes e funcionários até então. “Nunca tive nenhuma reclamação, nada do tipo. Então, realmente, me pegou muito de surpresa. Eu mando mensagem para todos os doutores quando a gente castra o animal lá na clínica, no dia seguinte a gente já pergunta como que está o animal. E todos estão bem”.

A proprietária ainda ressaltou que óbitos podem acontecer durante os procedimentos, assim como em qualquer cirurgia, e destacou que por conta das campanhas de castração, a clínica atende muitas ONGs (Ogrnaizações Não Governamentais) e animais de rua, sem histórico prévio desses pets.

“Animais que morreram durante o procedimento de castração, acontece sim, por conta de anestesia, porque a gente atende muita ONG, muitos animais que são de rua, então a gente não sabe o histórico completo do animal. Às vezes o animalzinho vai lá e a gente não sabe o histórico dele, então corre o risco, como qualquer outra cirurgia, não só castração”.

Em relação ao ‘sumiço’ com os corpos de aniamis mortos, a mulher justificou que a clínica possui contrato com uma empresa terceirizada que recolhe os animais mortos. “A clinica via de regra, sempre chama os tutores para dar um ultimo adeus, porém, nesse dia do óbito do Mimizinho, como ele veio a óbito ainda antes de inciarmos a cirurgia, e coincidiu da empresa estar recolhendo os corpos neste momemnto”, relata, sobre o caso citado na reportagem.

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(Revisão: Dáfini Lisboa)

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