Máscaras, frascos de álcool em gel espalhados pelo bolsa e a pausa obrigatória para aferir a temperatura antes de entrar em um dos poucos lugares que permaneceram de portas abertas. Há exatos cinco anos, Mato Grosso do Sul vivenciava à chegada do “novo normal”, com a confirmação do primeiro caso de Covid-19 no Estado. Naquele março de 2020, parecia que aquela realidade iria perdurar por muito tempo.
A pandemia redesenhou rotinas, impôs distâncias e fez do medo um sentimento cotidiano. Mas o tempo passou, e a vida seguiu adiante. Aos poucos, o “antigo normal” retornou, possibilitado, principalmente, pela chegada da vacinação em massa.
Ainda assim, Mato Grosso do Sul mostra que memórias podem ser curtas, visto que 448 mil pessoas seguem sem completar o esquema primário (duas doses) da vacinação, enquanto uma nova alta de mortes desde o início de 2025 – 24 óbitos e 1.825 casos notificados – reforça um alerta já conhecido. Se a pandemia ensinou algo, a julgar pelos números, talvez MS tenha escolhido esquecer.
O primeiro caso e a descrença inicial

Na véspera da confirmação oficial, em 13 de março de 2020, Campo Grande já estava em alerta. A suspeita de que uma jovem havia contraído o vírus em uma balada da Avenida Afonso Pena gerou um frenesi entre os frequentadores do local. No dia seguinte, a SES (Secretaria de Estado de Saúde) confirmou que a mulher de 23 anos havia sido infectada após ter contato com o namorado, que testou positivo em São Paulo e compartilhou a informação nas redes sociais.
Apesar da repercussão, a chegada da Covid-19 foi encarada com descrença por grande parte da população. O aumento exponencial de casos reforçou a desconfiança entre os sul-mato-grossenses, até que, menos de um mês depois, o temor se concretizou. Em 31 de março, o Estado registrou a primeira morte pela doença. Eleuzi Nascimento, de 64 anos, faleceu em Dourados, intensificando o alerta e gerando pânico entre os moradores.
Apesar do choque, a cada novo caso ou morte noticiada, uma onda de comentários surgiam, expressando incredulidade quanto à pandemia e questionando a credibilidade da imprensa.

Crhistinne Maymone, secretária-adjunta da SES, destaca que, em meio à disseminação de fake news, a comunicação em saúde foi essencial para combater o negacionismo e incentivar a adesão às vacinas e às medidas de prevenção.
“Durante os 20 a 24 meses da pandemia, realizamos lives diárias, sempre trazendo as informações mais precisas e relevantes para a população. Mas o Estado lidou com esse desafio de maneira clara e transparente, fundamentando todas as ações na ciência e no conhecimento técnico”, explica.
Do caos à contenção: a resposta do estado

Diante de uma crise sanitária sem precedentes, o Governo do Estado junto aos municípios tiveram que reagir rapidamente. Crhistinne afirma que, como em qualquer lugar do mundo, a pandemia trouxe uma sensação de medo e incerteza, o que obrigou o Estado a implementar políticas públicas eficazes.
“Em um primeiro momento, ninguém sabia como lidar com a situação, visto que o planeta não havia enfrentado uma pandemia antes. No entanto, esse medo não nos paralisou. Em tempo oportuno, conseguimos mobilizar diversas instituições, reunindo-nos no COE (Centro de Operações de Emergências) e estabelecendo diretrizes organizacionais estruturadas no plano de contingência.”
Um dos principais destaques foi a criação do Prosseguir (Programa de Saúde e Segurança da Economia), com o apoio da OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde). Segundo ela, o programa buscou equilibrar a preservação da saúde pública com a manutenção das atividades econômicas.
“O Prosseguir foi uma grande inovação, especialmente com o apoio da OPAS e da Secretaria de Governo. Tivemos uma experiência de aprendizado e sucesso, e as ações tomadas foram fundamentais para o enfrentamento da pandemia”, afirma Crhistinne.
Além disso, a secretária-adjunta ressalta que todas as medidas restritivas basearam-se em cálculos matemáticos e evidências científicas para garantir o equilíbrio necessário e proteger a população sem causar danos secundários.
Quase meio milhão de não vacinados e os desafios da imunização

Com a chegada das vacinas, Mato Grosso do Sul se destacou nacionalmente, liderando o ranking de imunização por dez meses consecutivos. Assim, a vacinação em massa resultou em uma queda expressiva de casos e mortes. Em 2024, o Estado registrou 11.998 casos confirmados e 135 óbitos, números bem menores que os registrados em anos anteriores. No entanto, o principal desafio segue sendo a adesão da população às doses, em especial as de reforço.
Atualmente, quase meio milhão de sul-mato-grossenses não completaram o esquema vacinal primário (duas doses). Dados do Ministério da Saúde mostram que, de um total de 2.731.810 moradores em MS, 2.283.503 completaram o esquema vacinal, ou seja, 448.307 pessoas seguem com a imunização incompleta.
O menor percentual de vacinados corresponde a 4ª dose, com 446.612 pessoas imunizadas, cerca de 16,3% do público alvo. Já em relação à 3ª dose, MS contabilizou uma cobertura de 49,3%, o que corresponde a 1.347.189 vacinados.
“Mesmo não estando mais em pandemia, ainda temos a responsabilidade de nos cuidar. O grande desafio, portanto, é conscientizar as pessoas”, destaca Crhistinne.
Mesmo com a evidência comprovada, o negacionismo em torno das vacinas ainda persiste em 2025. Em todo o Estado, mais de 300 mil pessoas não tomaram sequer a primeira dose. Enquanto isso, 11.341 vidas foram perdidas ao longo dos últimos cinco anos.
Impacto social e econômico

Além da crise sanitária, a Covid-19 deixou marcas profundas na economia e na saúde mental da população. O isolamento social, o medo da doença e a sobrecarga dos serviços de saúde afetaram o bem-estar psicológico de milhares de pessoas.
“Adotamos diversas medidas para apoiar a saúde mental dos profissionais de saúde, visando ajudá-los a enfrentar o estresse e as demandas intensas desse período tão difícil. Essa temática sempre foi relevante, especialmente devido ao impacto do medo do desconhecido e das perdas enfrentadas.”
Crhistinne afirma que, nos últimos anos, muitos municípios investiram na ampliação do atendimento psicológico na Atenção Primária, por meio de ações voltadas à recuperação emocional da população. Paralelamente, as políticas econômicas do Governo Estadual, guiadas pelo Prosseguir, garantiram o equilíbrio entre restrições e a manutenção da atividade produtiva.
“A pandemia trouxe para o setor de saúde um sentimento de possibilidade – de enfrentar desafios com união e determinação. Vimos que, por meio da colaboração, da dedicação, da atuação intersetorial e de uma liderança forte, fomos capazes de superar grandes obstáculos”, acrescenta.
Diferente de outros estados, a secretária-adjunta destaca que Mato Grosso do Sul nunca enfrentou problemas críticos, como a falta de EPIs, anestésicos e outros recursos essenciais.
Cinco anos depois: qual o legado da pandemia?

Passados cinco anos desde o primeiro caso de Covid-19 em Mato Grosso do Sul, a pandemia deixou lições valiosas sobre saúde pública, gestão de crises e resiliência social. No entanto, os desafios persistem.
Para Crhistinne, a adesão à vacinação, o risco de novas variantes e a necessidade de manter uma vigilância epidemiológica ativa são questões que ainda exigem atenção.
“Após a pandemia, surgiu um movimento global voltado para a preparação para futuras pandemias. Estudos indicam a possibilidade de uma nova crise sanitária nos próximos 20 anos, possivelmente relacionada a um vírus respiratório. Precisamos nos manter alinhados aos movimentos internacionais e fortalecer nossos mecanismos de detecção precoce e diagnóstico.”
Nesse cenário, a secretária-adjunta reforça que a experiência com a Covid-19 destacou a importância do planejamento estratégico e da resposta rápida diante de futuras ameaças. Contudo, o legado da pandemia dependerá da capacidade do Estado e da população de manter o compromisso com a ciência e a prevenção — para que, no futuro, a história não precise se repetir.
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