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Cotidiano

Brucelose já infectou 16 sul-mato-grossenses em 2025; entenda sintomas e formas de contágio

Nos últimos dez anos, o Estado somou 237 casos de brucelose, sendo 138 em humanos e 99 em animais
Lethycia Anjos -
Rebanho foi encontrado em extrema magreza. (Foto: Reprodução, Inquérito)

Mesmo sem registros recentes da doença em animais, contabilizou 16 casos de brucelose em humanos em 2025. A doença infectocontagiosa, causada por bactérias do gênero Brucella abortus, é uma zoonose — ou seja, pode ser transmitida de animais para pessoas — e representa um risco à saúde pública e à produção pecuária.

Nos últimos dez anos, o Estado somou 237 casos da doença, sendo 138 em humanos e 99 em animais. Os dados constam em levantamento preliminar de um painel — em fase final de construção pela SES (Secretaria de Estado de Saúde de MS) — com dados sobre a brucelose em MS. A ferramenta reúne informações sobre os casos registrados entre 2016 e 2025, com detalhamento por município e espécie afetada (humanos, bovinos e bubalinos), visando ampliar o monitoramento.

“A criação do painel reflete a adoção do conceito de Saúde Única, reconhecendo que a saúde das pessoas está diretamente ligada à saúde dos animais e do meio ambiente. De forma integrada, a plataforma reúne dados relativos à saúde humana, animal e ambiental, todas as variáveis associadas à doença”, explica.

Casos quase triplicaram em um ano

Desde 2021, os casos de brucelose em humanos tiveram uma alta significativa, passando de 8 registros em 2020 para 22 em no ano seguinte. A tendência de crescimento se manteve, com 24 casos em 2022 e 25 em 2023. Em 2024, o Estado atingiu o maior número de confirmações da série histórica, com 30 casos.

Contudo, a SES esclarece que esse aumento ocorre desde 2020, quando a doença passou a ter notificação compulsória em todo o território estadual. A obrigatoriedade permitiu ampliar as ações de vigilância epidemiológica e intensificar as capacitações voltadas aos profissionais de saúde.

“Com essa medida, vemos como natural o crescimento no número de casos notificados, já que, anteriormente, muitos casos recebiam diagnóstico e tratamento, mas não iam para contabilização oficial”, destacou a secretaria.

A SES também ressalta que o crescimento nas notificações já era esperado e reflete um avanço positivo na capacidade do sistema de saúde em identificar e responder de forma mais ágil aos casos da doença, contribuindo para a redução da sua incidência no estado.

Terenos lidera histórico de casos

Os dados evidenciam que, embora não haja registro de surtos, , a 31 km de , lidera o ranking de infecções, com 51 casos confirmados, sendo 29 em humanos e 22 em animais. A Capital aparece na sequência, com 35 registros no total, sendo 13 em humanos e 22 em animais, entre 2016 a 2025. Em seguida, está Porto Murtinho, com 11 casos em humanos e quatro em animais.

Essa contabilização é possível porque todas as suspeitas de casos são notificadas, investigadas e recebem orientação sobre os riscos e as formas de prevenção. No campo da saúde animal, a Iagro (Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal) esclarece que o painel apresenta dados relativos exclusivamente a bovinos e bubalinos, ou seja, não há casos de animais de outras espécies.

Sintomas e impactos

A principal forma de contaminação da brucelose ocorre pelo contato direto ou indireto de animais infectados, ou seus subprodutos contaminados — como carne crua, leite não pasteurizado, fluidos biológicos, secreções e tecidos.

“A infecção ocorre principalmente pela ingestão de leite cru e seus derivados que não passaram por tratamento térmico, assim como pelo consumo de carne crua contendo restos de tecido linfático ou sangue de animais infectados, que podem abrigar bactérias viáveis”.

Bovinos. (Divulgação)

Em humanos, a doença se manifesta com sintomas como febre, fadiga, dores musculares e articulares, podendo evoluir para quadros mais graves se não tratada.

No caso da brucelose bovina, a enfermidade infectocontagiosa é crônica, sendo antropozoonose de distribuição mundial, também causada pela bactéria Brucella abortus. Em fêmeas, os sintomas incluem aborto, especialmente no final da gestação, retenção de placenta, corrimento vaginal e nascimento de animais fracos. Já os machos podem desenvolver inflamação nos testículos (orquite e epididimite) e problemas de articulação, como artrite e bursite, além de infertilidade.

Além de afetar a saúde, a brucelose provoca perdas econômicas significativas, como a redução de 10% a 15% na produção de carne. Um estudo da Embrapa aponta que a doença também aumenta o intervalo entre partos — de 11,5 para 20 meses —, eleva em 30% a taxa de reposição do rebanho, reduz em 15% o nascimento de bezerros e impacta a produção de leite, com queda de 10% a 24%.

Além disso, uma em cada cinco vacas que abortam devido à brucelose pode se tornar estéril.

Brucelose humana

Ainda pouco conhecida no Brasil, a brucelose humana é uma doença infecciosa bacteriana, de notificação rara e diagnóstico complexo, especialmente no contexto da saúde pública. Endêmica em algumas regiões, ela pode afetar diversos órgãos e sistemas do corpo, dificultando a identificação dos casos.

Nos últimos cinco anos, Mato Grosso do Sul registrou 150 notificações da doença. Diante desse cenário, a SES, por meio das Gerência Técnica de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar, atua de forma contínua com o Ministério da Saúde para capacitar profissionais e promover a educação em saúde, além de ampliar a vigilância, prevenção e o controle da brucelose humana no Estado.

Jacqueline Romero, técnica da área de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar da SES, destaca que o órgão tem investido na sensibilização de profissionais da linha de frente para a brucelose passar a integrar a lista de hipóteses diagnósticas.

“É uma doença pouco conhecida, capaz de causar quadros polimórficos, com sintomas que podem afetar qualquer parte do corpo. Ainda há pouca informação disponível sobre ela, especialmente na saúde humana”, explica.

Além disso, a SES esclarece que, no Estado, a brucelose humana é de notificação compulsória e encontra-se sob controle. No entanto, a doença ainda representa um risco ocupacional para trabalhadores rurais, médicos-veterinários, tratadores, magarefes e vacinadores, especialmente gestantes e pessoas com imunidade comprometida.

“O risco está principalmente no manejo de materiais contaminados, como restos placentários, fluidos fetais, carcaças ou vacinas específicas (como B19 e RB51), que podem ser patogênicas para seres humanos”, explica a pasta.

Vacinação obrigatória

Para garantir a sanidade do rebanho e proteger a saúde pública, a Iagro realiza anualmente a campanha de vacinação contra a brucelose. A imunização é obrigatória para fêmeas bovinas e bubalinas com idade entre 3 e 8 meses e ocorre em duas etapas. Em Mato Grosso do Sul, a aplicação deve ser feita por médico-veterinário cadastrado na Iagro ou por vacinador sob sua supervisão.

Vacinação Brucelose
Vacinação contra brucelose. (Divulgação, Agraer)

Após a vacinação, os animais devem ser devidamente identificados, e o produtor precisa registrar o procedimento no sistema e-Saniagro. Segundo o diretor-presidente da Iagro, Daniel Ingold, a vacinação é essencial para manter a saúde do rebanho e prevenir a transmissão da doença para os seres humanos.

“Propriedades com irregularidades na vacinação ficam impedidas de movimentar os animais, e os produtores estão sujeitos à autuação. A brucelose é uma zoonose e pode causar sérios problemas de saúde. A vacinação é uma das principais medidas de controle e prevenção”, afirma Ingold.

Ainda conforme a Iagro, a não vacinação pode impedir a emissão da GTA (Guia de Trânsito Animal) e gerar outras penalidades administrativas.

Programa nacional de erradicação

No nível federal, o combate à doença ocorre por meio do PNCEBT (Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal), instituído pelo Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). O programa estabelece diretrizes para vigilância epidemiológica, vacinação, controle sanitário e certificação de propriedades livres dessas enfermidades.

No Estado, o PNCEBT está em vigor desde 2002 e, atualmente, segue as diretrizes da Portaria Iagro nº 3.617, de 28 de maio de 2019. O objetivo é reduzir a incidência e a prevalência da brucelose e da tuberculose, garantindo a saúde dos animais, a segurança alimentar e a proteção dos consumidores.

Entre as medidas de controle da brucelose animal em Mato Grosso do Sul, destacam-se:

  • Aplicação da Portaria Iagro MS nº 3.617/2019, que regula o PNCEBT no Estado;
  • Vacinação obrigatória de fêmeas bovinas e bubalinas entre 3 e 8 meses;
  • Controle rigoroso de trânsito animal;
  • Vigilância ativa em propriedades com maior risco;
  • Habilitação de médicos-veterinários da iniciativa privada;
  • Ações contínuas de educação sanitária junto a produtores e à população.

Casos de brucelose canina em Campo Grande

Embora o painel não apresente dados de brucelose em animais domésticos, Campo Grande registrou dois casos de brucelose canina em duas cadelas da mesma tutora. A Prefeitura de Campo Grande confirmou os casos em 28 de junho. Contudo, diferentemente da brucelose em gado e humanos, causada principalmente pela Brucella abortus, a doença que acomete cães ocorre pela bactéria Brucella Canis.

Os casos foram constatados em duas cadelas da mesma tutora, que engravidaram do mesmo . Elas tiveram aborto espontâneo, o que gerou suspeita dos médicos-veterinários da Subea (Superintendência de Bem-Estar Animal), que confirmaram a existência de brucelose canina.

Cachorro abandonado em Campo Grande. (Foto: Henrique Arakaki/Jornal Midiamax)

Diante disso, as cadelas foram encaminhadas à (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) para a retirada dos fetos, mas a situação segue sem atualizações oficiais.

Com a confirmação em cães, a Subea divulgou um alerta a população sobre a doença, que, embora pouco conhecida, é infectocontagiosa. A médica-veterinária Giselle Tavares, da Subea, destaca a importância da castração dos animais de estimação.

“É uma doença silenciosa, que pode afetar gravemente tanto os animais quanto as pessoas. Esses casos reforçam a necessidade de os tutores terem responsabilidade e fazer a castração dos seus pets”, reforça.

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