Times de futebol feminino de Mato Grosso do Sul se uniram em Campo Grande para ato de solidariedade à atleta trans que compete em campeonato amador. O manifesto deste domingo (14) ocorre uma semana após o time da atleta ganhar por WO, quando as adversárias deixaram o campo.
Integrante do Vecent’s Sena, Fernanda Kunzler, 42 anos, organizou a manifestação em prol da atleta do Fênix Futebol Clube. “Nós organizamos uma faixa em apoio a essa situação que ocorreu com a Adriana no último dia 6, que a gente achou muito constrangedora”, disse.
Assim, justificou que “embora tenha sido argumentada dentro de regulamento, da inexistência disso, de informações, nós achamos, acima de tudo, muito excludente, muito discriminatória, muito preconceituosa”. A integrante do time solidário à atleta disse que o futebol feminino não deve ser cenário de preconceito.
“O futebol feminino é um espaço acolhedor, precisa ser um espaço democrático também”, pontuou Fernanda.
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Convites
No mesmo sentido, a técnica do Fênix, Solange Rosa de Jesus, de 40 anos, disse que a atleta trans aguardava a retificação dos documentos para jogar.
“É que, há quatro anos atrás, a gente sempre lutou pra ela entrar em campeonato”, lembrou. Logo, quando Adriana conseguiu o reconhecimento documental do gênero feminino, foi incluída na equipe que disputaria o campeonato.
Apesar da situação, as jogadoras não se abalaram. Solange afirmou que vão “dar um pontapé” no preconceito. “Vamos, com certeza, se Deus quiser, ser a resistência desse preconceito no futebol feminino”, comentou.
Para Solange, a participação de Adriana é aceita para os demais times. “Inclusive outras equipes também já chamaram ela pra jogar futebol e isso a gente fica muito feliz”.

Acolhimento da atleta
Adriana Nigueira, de 24 anos é a atleta que recebeu solidariedade. A jovem joga futebol desde os 9 anos e agradeceu ao ato organizado pelas colegas. “Eu me senti bem acolhida com todos. É muita coisa, é muito forte. Não consigo falar muito”, disse emocionada.
Então, a atleta reforçou que o preconceito existente e a forma como tenta lidar. “Eu sei que a gente quando vira travesti, acaba sendo um alvo de preconceito da população, mas eu estou bem tranquila. Para me tirar eu do sério, vai ter que ser muita coisa, porque é bem difícil”, disse.
Por fim, disse que seguirá no campeonato. “Elas tentaram, mas não conseguiram. A gente vai levando a vida como pode”, finalizou.

Campeonato
O campeonato feminino amadora na Aerna Tony Gol possui 16 times registrados. No domingo (14), duas equipes disputam as partidas.
Assim, o atual campeão do campeonato, Vicent’s Sena (Campo Grande), disputou hoje e venceu por 16 a 1 do Sem Limites. O time de Campo Grande é do Bairro São Conrado.
No mesmo dia , disputam o time FFK Aldeia Tereré (Sidrolândia) – com jogadoras indígenas – contra o Fênix. Arquibancada do local ficou lotada por torcedores e equipes que aguardavam os jogos.
O Campeonato está na primeira fase, começou em agosto e segue até novembro. O time campeão leva R$ 3 mil e o vice leva R$ 2 mil.