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Cotidiano

Após MS suspender exportação de carne para os EUA, sindicato prevê normalização do mercado em poucos dias

O sindicato aponta esperança em estratégias comerciais e concorda com os produtores sobre um impacto limitado na taxação de Trump
Jennifer Ribeiro, Murilo Medeiros -
carne frigorifico
Carne bovina. (Divulgação, Semadesc)

Na manhã desta quarta-feira (16), os criadores de gado de Mato Grosso do Sul se manifestaram sobre a decisão dos frigoríficos do Estado de suspender a produção de carne bovina que seria destinada aos Estados Unidos, após os importadores americanos recuarem mediante as tarifas de 50% impostas pelo presidente norte-americano Donald Trump, sobre os produtos brasileiros.

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Segundo Paulo Matos, presidente da Nelore-MS (Associação Sul-Mato-Grossense dos Criadores de Nelore), a tarifa dos EUA terá um impacto limitado. Assim, os frigoríficos estariam usando o tema para pressionar o preço do boi no Brasil. “É uma manobra de frigoríficos para forçar criadores a vender o seu animal com preço abaixo da média”, aponta.

“Os EUA compram apenas 8% da carne que exportamos, o que representa 2,3% da produção brasileira. Falar em colapso de mercado interno é, no mínimo, má-fé. É um discurso criado para tentar jogar a conta dessas tarifas em cima do produtor, pagando menos pelo nosso boi”.

Equilíbrio no mercado

Para o vice-presidente do Sincadems (Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados de ), Alberto Sérgio Capucci, a Associação não está totalmente errada quando afirma que o tarifaço terá um impactado limitado. A expectativa é de que, em poucos dias, tudo volte à normalidade. No entanto, pontua que a pressão sobre os produtores não vem diretamente dos frigoríficos.

“A pressão de baixa veio primeiro por parte dos compradores de carne. Por exemplo, todas as grandes redes de supermercados saíram de compra, todos os grandes importadores de carne brasileira também saíram de compra, então o frigorífico está no meio do processo, ele só está repassando a baixa na venda da carne”, explica.

Capucci aponta que as estratégias comerciais que esperam conquistar com outros países compradores possibilitará a normalização do mercado em breve.

“Acredito que a normalização será mais pelas estratégias de abrir novos mercados na , porque o mercado interno já está no limite, não há perspectiva de aumento de consumo no mercado interno”, frisa.

Arroba já baixou

O titular da Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), Jaime Verruck, chama atenção para o risco de desvalorização do preço do boi.

“A gente não consegue colocar esse produto rapidamente em outro mercado internacional. A consequência seria colocar esse produto no mercado interno sul-mato-grossense, mercado interno brasileiro, o que obviamente pode haver um aumento de oferta e também uma redução de preço e, na sequência, até uma redução de preço da arroba do boi aos produtores. Por isso que é tão preocupante esse tarifaço”, explicou Verruck. 

Segundo os dados mais atualizados disponíveis, o valor da arroba do boi gordo já apresentou leva queda em Mato Grosso do Sul após a suspensão da exportação de carne aos Estados Unidos. Conforme a Scot Consultoria, o preço da arroba do boi gordo, à vista, registrou queda na praça de Dourados e ficou em R$ 298,50, na terça-feira (15). Em Campo Grande e em Três Lagoas, os preços se mantiveram estáveis, em R$ 301,50.

No entanto, para a Nelore-MS, os frigoríficos querem ampliar a margem de lucro e utilizam os produtores rurais como “amortecedor dos problemas internacionais”. O mercado norte-americano, segundo a Associação, absorve basicamente cortes desossados congelados, voltados à indústria de hambúrguer e processados, sem peso decisivo na precificação do boi gordo. “A conta é simples: quem vai pagar mais caro pelo hambúrguer são os consumidores americanos, não os produtores brasileiros”, conclui Paulo Matos.

Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul) vê com preocupação o entrave comercial, já que os Estados Unidos são um importante parceiro comercial para Mato Grosso do Sul. “Em 2024, os Estados Unidos foram o segundo maior destino das exportações sul-mato-grossenses. A interrupção das vendas pode representar prejuízos econômicos imediatos, comprometendo a estabilidade e impactando nos preços do mercado da pecuária”, explica o presidente da entidade, Marcelo Bertoni.

Prejuízo

Vale destacar que os frigoríficos não pararam abates, apenas deixaram de enviar a produção ao país norte-americano.

O Governo do Estado apontou que deve procurar outros destinos para as exportações, mas reconhece que pode ocorrer demora para escoar a produção. Além disso, na opinião do presidente da Acrissul (Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul), Guilherme Bumlai, outro fator que pode amenizar os impactos seria a redução sazonal da oferta de gado para abate nos meses de agosto a setembro. Isto poderia equilibrar o mercado e evitar uma queda mais expressiva nos preços da arroba.

Conforme dados do Agrostat, Mato Grosso do Sul exportou US$ 213,4 milhões em celulose, US$ 46,1 milhões em sebo bovino e US$ 19,9 milhões em açúcar de cana ou beterraba. Em reais, isto corresponde a R$ 1,1 trilhão, R$ 257 milhões e R$ 111 milhões, respectivamente. Além da carne, estes são alguns dos principais produtos enviados aos Estados Unidos por Mato Grosso do Sul.

Para a Famasul, os Estados Unidos representam um parceiro estratégico para o Brasil e para Mato Grosso do Sul, seja na exportação de celulose, seja na carne bovina, em produtos florestais ou outros itens do agro. A decisão do governo norte-americano pode impactar também no aumento do custo de insumos importados e na competitividade das exportações brasileiras.

“O ‘tarifaço’ do Trump e seus desdobramentos vão impactar um conjunto amplo de cadeias produtivas relevantes para a economia de Mato Grosso do Sul. Dessa maneira, o setor produtivo pede uma articulação diplomática inteligente por parte do governo brasileiro, a fim de se reverter a situação grave que está posta”, deseja Bertoni.

O que dizem as empresas do setor?

Em nota, a Minerva Foods esclareceu que a Companhia acessa o mercado dos Estados Unidos por meio de
suas operações no Brasil, na Argentina, no , no Uruguai e na Austrália. Ainda, considerando os resultados dos últimos 12 meses, a exposição consolidada da Companhia ao mercado norte-americano ficou em aproximadamente 16% da receita, com o Brasil representando cerca de 30% dessa exposição. Desse modo, as exportações brasileiras e sujeitas à nova política tributária apresentam impacto potencial máximo ao redor de 5% da receita líquida.

“Em linha com a nossa estratégia de diversificação geográfica, a exposição ao mercado dos EUA também ocorre via nossas operações na Argentina, no Paraguai, no Uruguai e na Austrália, o que permite à Companhia maximizar sua capacidade de arbitrar os mercados, reduzindo riscos, alavancando oportunidades e respondendo com eficiência a mudanças de cenário como essa”, explica.

O Jornal Midiamax acionou também a JBS e a Natura Frig sobre as possibilidades levantadas pelo próprio governo paraguaio. Contudo, até a publicação desta matéria, as empresas não quiseram se pronunciar. O espaço segue aberto para manifestações.

Alternativa viável

Para Mato Grosso do Sul, essa movimentação representa a possibilidade de manter o fluxo de exportações mesmo diante das restrições diretas impostas ao Brasil. A possibilidade de utilização da estrutura paraguaia para escoar a carne produzida em Mato Grosso do Sul ganhou força após declarações de autoridades do país vizinho e as novas sanções de Trump.

Ainda em abril, com as primeiras tarifas anunciadas pelo presidente, o vice-ministro do Comércio e Serviços, Rodrigo Maluff, afirmou que o Paraguai estava acostumado a lidar com mudanças nas regras comerciais internacionais e via uma oportunidade de atrair investimentos estrangeiros.

Segundo ele, a reestruturação tarifária dos EUA, embora impactante, pode ser considerada “gerenciável”. Além disso, abre espaço para que países como o Paraguai se posicionem como alternativa logística e produtiva. “É uma chance de convidar investidores e produtores a transferirem parte de suas operações para cá”, disse a Agência Paraguaia de Informações.

‘Setores devem buscar países com relações comerciais mais estáveis com os EUA’

Na mesma linha, o vice-ministro da Indústria, Marco Riquelme, afirmou que setores com alta capacidade exportadora, como o Brasil, não devem encerrar suas atividades. Para eles, os setores devem buscar países com relações comerciais mais estáveis com os EUA.

Conforme Riquelme, o Paraguai oferece vantagens competitivas, como mão de obra jovem, energia acessível e benefícios tributários, que podem atrair novos negócios.

A estratégia do governo paraguaio inclui reforçar sua posição como plataforma de exportação e incentivar que empresas estrangeiras — incluindo brasileiras — passem a produzir e abater no país para acessar mercados mais exigentes, como o norte-americano.

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