Criado em 1922, o Dia das Crianças nasceu como um evento único, com o intuito de incentivar a sociedade e o poder público a cuidar da educação, da saúde e do bem-estar das crianças. No entanto, com o passar do tempo, a data se tornou feriado nacional e as lojas de brinquedos encontraram uma forma de lucrar com a celebração.
Apesar disso, centenas de crianças e adolescentes em Campo Grande trocariam as bolas e bonecas por um único presente: ganhar uma família.
Duzentas crianças acolhidas
“O afastamento das crianças de sua família só pode acontecer em situações muito graves, né? E nós temos constatado essas situações de grave negligência e de violência contra as crianças”, explicou a juíza da Vara da Infância, da Adolescência e do Idoso de Campo Grande, Katy Braun do Prado.
Atualmente, cerca de 200 crianças e adolescentes estão vivendo em abrigos ou lares de acolhimento. No Lar Infantil Lygia Hans, vivem 16 meninas, com idades entre 0 e 17 anos. “O Lar foi fundado pela família Gunter Hans. E, neste mês de outubro, o abrigo completa 25 anos de trabalho”, explica a coordenadora Kelly Ortega.

Cada acolhida tem uma história, mas todas compartilham algo em comum: em algum momento de suas vidas, tiveram os seus direitos violados. “A Justiça busca qual é o melhor caminho, se reintegrar à família (biológica) ou de repente partir para um lar adotivo. Enquanto isso, elas ficam aqui”, disse Kelly.
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Com uma equipe formada por coordenadora, psicóloga, assistente social, cuidadoras, motoristas e cozinheira, o Lar funciona como uma casa. “As crianças, elas têm uma rotina o mais próximo possível de uma rotina familiar. Então, fazem as refeições juntas, vão para a escola; à tarde, fazem as tarefas escolares, vão para as praças próximas das instituições para brincar. Algumas precisam, às vezes, ir a um médico, um psicólogo, a um dentista”, relata a juíza Katy Braun do Prado.
Acolhimento psicossocial
Além de uma casa e rotina, as crianças e os adolescentes acolhidos também precisam de ajuda psicossocial. “Eles chegam aqui separados da família, imagina como chegam, assustados e envolvidos em conflitos”, avalia a psicóloga do Lar Infantil Lygia Hans, Luana Biano.
A função de Luana é fazer o acolhimento e destinar as meninas, quando necessário, para as terapias específicas. “Eu trabalho com essa parte do psicossocial, ajudar no desenvolvimento, fazer o possível para que doa menos.”

Apesar da infância ser vista por muitos como a fase da Inocência, em que a maldade não tem vez, e as crianças estão livres de traumas, essa não é a realidade de todas. Por isso, quanto antes os sofrimentos forem tratados, mais fácil será a vida adulta dessas meninas.
“Já é difícil para a criança estar aqui, né? E, se não tiver esse suporte, vai ser ainda mais difícil quando chegar na vida adulta, no trabalho, escola. […] então, a psicoterapia vai avaliando o trauma de futuramente, para que a criança possa ser uma adulta funcional”, finaliza.
Datas comemorativas
Seja nas escolas, seja nos programas de televisão, ou até mesmo nos comércios, é quase ‘inevitável’ não ser afetado pelas datas comemorativas. “No caso das crianças que não têm família, que eles não estão presentes, quando tem apresentações nas escolas, uma de nós [funcionárias do Lar] vai representando esse pai ou essa mãe”, disse a coordenadora Kelly Ortega.
A intenção é de que a acolhida continue fazendo parte das celebrações e sendo parte do ambiente. “Para diminuir um pouco o sofrimento delas, a gente costuma promover algumas festas. Então, faz um lanche especial, às vezes pessoas da comunidade vão apresentar um teatro ou levam música, algo assim”, contou a juíza Katy Braun do Prado.

“Tudo o que é pensado na semana da criança é realmente para essa criança se sentir acolhida, se sentir amada, sentir que ela faz parte de algum lugar, nesse caso é do abrigo, né? Que, apesar de ela estar no abrigo e da família estar longe, ela é importante e ela é lembrada”, explicou Kelly.
No entanto, apesar de ressignificarem as datas, o presente que as crianças acolhidas mais desejam é ter uma família. “Então, quando você visita a instituição, elas sempre perguntam: ‘Tia, quando é que eu vou para casa?'”, lamentou Katy.
‘Tia, quando é que eu vou para casa?’
Adotar pode não ser uma possibilidade para todos e, pensando nisso, existem outras duas maneiras de ajudar os acolhidos: com a Família Acolhedora e o Projeto Padrinho.
“A Família Acolhedora é onde a criança vai passar um tempo com essa família, sendo preparada, ou para a reintegração familiar, ou para adoção”, explicou a assistente social Rafaela Rodrigues.

Já a segunda alternativa é o Projeto Padrinho. “Você pode ser um padrinho afetivo, que pode ‘pegar’ a criança e passar o fim de semana com ela, ou pode ser um padrinho doador, que vai doar um material escolar, acesso a um exame ou consulta médica”, disse.
No entanto, se nenhuma dessas opções for viável, o Lar Infantil Lygia Hans aceita doações por meio do CNPJ: 60.833.910/0022-01.



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(Revisão: Dáfini Lisboa)