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Cotidiano

Agro de MS cresceu 28 vezes em quase 5 décadas e transformou o Estado em ‘celeiro de fartura’

Pesquisas científicas, ajustes no solo e tecnologia foram fundamentais para crescimento da agropecuária de MS
Liana Feitosa -
Pujança do agronegócio de MS colocou o Estado em destaque nacional. (Foto: IA, gerada por Gemini)

“Por muitos anos, por décadas, nós vivemos uma agricultura de subsistência, sem tecnologia nenhuma, e a pecuária era quase extrativista. A situação do agricultor era de isolamento, não tinha vínculo quase nenhum com o Estado, o Estado não existia. O produtor rural era responsável por tudo, pela segurança dele, pela segurança da fronteira e pelo sustento da família com essa agricultura rudimentar”, conta o produtor rural Antônio de Moraes Ribeiro Neto, de 83 anos, profundo conhecedor da agropecuária de MS.

“E assim passaram as primeiras gerações depois da Guerra do Paraguai”, completa o pecuarista e agricultor.

Com grande lucidez e conhecimento, Antônio, mais conhecido como Toninho, recebeu o Jornal Midiamax em seu escritório, localizado no Centro de , para compartilhar um pouco dos muitos momentos que viveu em anos de atividade.

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Profissão essa que era exercida também por seu pai e avô, pessoas que transmitiram relatos do começo da exploração agrícola e pecuária na região, que, há 48 anos, chamamos de Mato Grosso do Sul. 

Este empreendimento, o de MS, cresceu a uma incrível média de 7,39% por ano durante as últimas quatro décadas.

Para se ter dimensão dessa realidade, Mato Grosso do Sul produziu 987 mil toneladas de grãos entre os anos de 1977 e 1978, segundo a Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul). 

Tradicional carro de boi em comitiva por Aquidauana. (Foto: Prefeitura Municipal de Aquidauana – MS)

Já na 2024/2025, 47 anos depois, o Estado produziu 27,79 milhões de toneladas de grãos, conforme o 12º Levantamento da Safra de Grãos 2024/25, elaborado pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).

Esse resultado significa que a produção de grãos de MS cresceu aproximadamente 28 vezes nesses anos.

“O agronegócio é o principal motor da economia sul-mato-grossense, gerando riqueza, emprego e divisas. O PIB (Produto Interno Bruto) do Estado sofre forte influência do setor: entre 2002 e 2021, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o PIB total cresceu nominalmente 765%, enquanto o PIB da agropecuária avançou 768%”, explica o presidente da Famasul, Marcelo Bertoni, entidade que, atualmente, reúne 69 sindicatos rurais.

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Além disso, ainda segundo Bertoni, o Banco do Brasil projeta expansão de 5,3% para o PIB estadual em 2025, o terceiro maior crescimento entre os estados brasileiros e o segundo na região Centro-Oeste, atrás apenas do Mato Grosso, com 6,7%. 

“A agropecuária deve liderar esse avanço, com estimativa de 17,3% de crescimento, puxada pelas principais commodities: soja, milho e carne bovina. A indústria sul-mato-grossense também deve crescer 2,9%, destacando-se a agroindústria, responsável por cerca de metade do parque industrial”, detalha Bertoni.

Agroindústria sul-mato-grossense

É a agroindústria que faz a transformação de matérias-primas de origem agropecuária ou florestal em produtos industrializados ou semielaborados.

Agroindústria de celulose em Mato Grosso do Sul. (Foto: Nathália Alcântara/Jornal Midiamax)

É esse setor que também empurra MS para recordes anuais de vendas ao mercado estrangeiro.

De janeiro a agosto de 2025, o acumulado das exportações atingiu o valor de US$ 7,24 bilhões. Esse valor representa 3,26% de crescimento em relação ao mesmo período de 2024.

Ao se comparar o tanto que o Estado importa com o volume que ele exporta, o resultado é um superávit na balança comercial, ou seja, Mato Grosso do Sul mais vende do que compra.

Assim, de janeiro a agosto de 2025, o saldo acumulado dessa balança é de US$ 5,53 bilhões, 8,41% superior à do ano de 2024, conforme a Carta de Conjuntura Agropecuária n° 11, de outubro de 2025, elaborada pela Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação).

Como se deu esse crescimento?

Mas como Mato Grosso do Sul chegou a esses resultados? Qual a fórmula desse sucesso? Entre inúmeros motivos, um deles é a área disponível no território. 

O produtor rural Antônio de Moraes Ribeiro Neto, mais conhecido como Toninho. (Foto: Jornal Midiamax)

Houve um período em que inúmeras áreas foram abertas com a derrubada de árvores e uma grande exploração de recursos naturais; principalmente quando não existia conhecimento especializado, pesquisa e tecnologia suficiente. 

Mas, diferentemente do que se pode pensar, a produção agropecuária de Mato Grosso do Sul nas últimas décadas, especialmente a partir da década de 1970, tem crescido não pela exploração de novas áreas, mas pelo aumento da produtividade, correção de erros do passado, por meio de leis e novas práticas, e adequação da realidade.

Isso significa que o Estado tem obtido mais resultados usando o mesmo espaço de terra há décadas, e isso só é possível graças a pesquisas científicas, investimentos na devida nutrição e equilíbrio do solo, além do avanço de tecnologias.

“Na década de 1970, foi implantada a Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária], que foi o primeiro ‘banho de tecnologia’ que nós tivemos. Foi o primeiro passo em direção a outra realidade, e aí desapareceu aquele agricultor rudimentar. Ou ele quebrou e saiu do mercado, ou ele se adaptou, não teve outra alternativa”, afirma Toninho. 

Nesta época, Toninho tinha 30 anos de idade e já atuava como produtor rural, principalmente na região de , vendo as mudanças causadas pela pesquisa e tecnologia acontecendo no campo.

Primeira sede da Famasul, cujas atividades iniciaram-se em 1978. (Foto: Arquivo Famasul)

“Eu lembro, quando comecei a fazer agricultura, que eu colhia 16 sacos de soja por hectare, 40 sacos de milho, e era uma única cultura [uma safra por ano]. Hoje os agricultores colhem mais ou menos 70 sacos de soja por hectare e em torno de 100 sacos de milho, e fazemos duas safras [numa mesma área], o que aumentou nossa renda, a renda do agricultor”, explica Toninho.

Esse avanço também aconteceu na pecuária. “Quando comecei com meu pai e meu avô, o nosso negócio girava em torno de 16 arrobas [240 kg] para um boi de 4, 5 anos. Hoje, é frequente você encontrar pessoas abatendo bois de 18, 19 arrobas [cerca de 285 kg] com 16 meses”, detalha Toninho.

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O médico-veterinário José Pádua, gerente técnico da Famasul, explica que, 50 anos atrás, MS tinha um rebanho que produzia muito pouco, com eficiência baixa. Assim, o boi demorava muitos anos para alcançar o peso ideal para abate. 

José Pádua, gerente técnico da Famasul. (Foto: Jornal Midiamax)

“Com o passar dos anos, com o processo de melhoramento genético dos animais, se tornou possível abater um boi com menos de dois anos. Hoje, a gente consegue desmamar um bezerro com muito mais de 200 quilos, o que era impensável 50 anos atrás”, pontua Pádua ao Jornal Midiamax.

“Tudo isso trouxe aumento de produtividade e eficiência, o que favorece o desenvolvimento humano e também a sustentabilidade ambiental do mundo”, completa.

Segundo o gerente técnico, essas mudanças não se restringiram aos grandes produtores, como os de soja e milho, mas elas se espalharam por todo o território, chegando até mesmo a pequenos agricultores e pecuaristas, por meio do conhecimento e de novas práticas no campo.

Somado a tudo isso, houve — e ainda há — financiamentos e recursos provenientes do poder público que foram determinantes para subsidiar esses investimentos, como o Plano Safra, criado pelo Governo Federal em 1995 e que, em 2025, teve seu maior volume de recursos ofertado, com R$ 516,2 bilhões para a agricultura empresarial

Para Toninho, portanto, a fase atual é reflexo de inúmeras evoluções do setor, inclusive na ampliação da consciência sobre o meio ambiente e a sustentabilidade da atividade. 

“As nossas terras eram brutas, cheias de pedra, grota, mato, e nós fomos acertando. Removemos o que criava problema e ajustamos a topografia do solo. Depois, fomos para a parte química do solo. Corrigimos o solo com o calcário, com o gesso, com os fertilizantes, para que a terra fosse de fato produtiva”, contextualiza o produtor rural.

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“E, agora, estamos na fase da biologia do solo. Estamos olhando com mais respeito pelo solo, corrigindo alguns erros que nós cometemos no passado, no período de desbravamento”, destaca Toninho.

“Porque, sim, cometemos erros. Agora, estamos tendo mais cuidado com inúmeras práticas, modificando abordagens, tendo mais cuidado, por exemplo, com o uso do fogo”, expõe Toninho. O objetivo é desenvolver uma atividade mais equilibrada, durável e viável.

Qual o tamanho da área explorada pelo agro em MS?

Números do CAR (Cadastro Ambiental Rural), que mapeia e monitora as propriedades rurais do Brasil do ponto de vista ambiental, indicam que os produtores rurais de Mato Grosso do Sul preservam cerca de 35% do território do Estado com vegetação nativa dentro das propriedades rurais.

Isso significa que, do total de 35,7 milhões de hectares de área territorial, cerca de 70% do Estado corresponde a áreas de pastagem ou agricultura, índice que demonstra o quanto o setor é a base da economia estadual.

O gráfico abaixo, elaborado pelo Siga-MS (Sistema de Informação Geográfica do Agronegócio), da Aprosoja/MS (Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul), mostra o uso e a ocupação do solo do Estado.

Fonte: Siga-MS, da Aprosoja/MS.

Por outro lado, MS é referência na utilização de sistemas integrados, dando um “respiro” na grande utilização do território. Isso significa que, em uma mesma área, pode-se cultivar eucaliptos e criar gado, por exemplo, evitando a abertura de novas áreas e aumentando os ganhos produtivos em um mesmo “pedaço” de terra.

Mato Grosso do Sul lidera nacionalmente nesse quesito, sendo o Estado com maior área com ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta) do país, outro indício de que os avanços são muitos em 48 anos de história.

Se essas mudanças não tivessem ocorrido, e diversos setores do agronegócio não tivessem investido para que houvesse aumento na produção, usando o mesmo espaço de terra, Mato Grosso do Sul teria de abrir novos 4,4 milhões de hectares de área conservada nos últimos 30 anos, para alcançar os resultados que obtém atualmente.

“Desde 1991, foram 4,4 milhões de hectares poupados até a última safra, pelo aumento da produtividade na agricultura. Exemplo na prática da sustentabilidade”, acrescenta Bertoni.  

Quem faz o agro?

E quem é responsável por tudo isso? Todos nós, defendem entidades do setor e produtores. Em alguma instância, toda a população está envolvida com os resultados do agronegócio. 

“De modo geral, o urbano [o cidadão que mora na cidade] tem a impressão de que nós, os agricultores, somos responsáveis por isso, mas não. A agricultura é um conjunto de coisas. Nós evoluímos, mas a agricultura não evoluiu sozinha. Ela tem participação de toda a sociedade”, assegura Toninho.

“Tem o pesquisador da Embrapa, o professor universitário, o vendedor de máquinas e equipamentos, o vendedor de produtos químicos, as fábricas de máquinas e equipamentos, as produtoras e pesquisadoras de sementes, os transportes, o caminhão, cujo frete, sim, onera muito a agricultura, mas ele é partícipe importante da agricultura, sem ele não tem distribuição e não tem agricultura”, enumera o produtor.

Além, é claro, dos consumidores desses produtos, não apenas as carnes e outros grãos, mas produtos que vão desde o hortifrúti até o papel, com a celulose, o combustível, com a cana-de-açúcar, e o vestuário, com o couro e o algodão. 

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Para José Pádua, em se tratando de participação, é importante considerar a atuação das instituições que fazem o fomento desses setores produtivos ligados, direta ou indiretamente, ao campo. 

Para ele, essas diversas entidades desempenharam papel ativo e determinante para que Mato Grosso do Sul se tornasse forte e independente, com uma agropecuária de destaque.

“Com instituições fortes, o anseio do indivíduo vai para o coletivo, e isso se transforma, de fato, em ação. Sozinho a gente não faz nada, então a gente precisa se unir. Essa é uma grande identidade do agro sul-mato-grossense: [a presença de] instituições que fazem uma boa conexão entre os produtores, poder público e sociedade”, finaliza Pádua.

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(Revisão: Dáfini Lisboa)

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