Há 1 mês nas ruas de Campo Grande, família da Venezuela recusa abrigo para não se separar de 8 cachorros
Venezuelanos contam que, além do sofrimento de precisar se separar dos pets, realidade encontrada em centro de acolhimento era pior do que viver na rua
João Ramos, Schimene Weber –
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Família venezuelana composta pelos pais, quatro filhos e oito cachorros prefere viver nas ruas de Campo Grande do que voltar para um abrigo na Capital. Instalados em canteiros de avenidas há 1 mês, eles saíram da Venezuela para tentar uma vida melhor no Brasil, mas, até agora, só encontraram dificuldades.
Nesta quarta-feira (20), a reportagem do Jornal Midiamax reencontrou os refugiados venezuelanos 30 dias após registrar a história da família. Pela manhã, cansados de andar a pé, os pais das crianças pararam para descansar nos arredores do aeroporto, na Avenida Duque de Caxias, antes de seguir caminhando até o novo local onde estão instalados, debaixo de um viaduto no bairro Nova Campo Grande.
Na ocasião, o casal José e Sinai, líderes do clã, conversaram com a equipe e disseram ter se recusado a continuar em um abrigo para não se separar dos oito cachorros que os acompanham, mas também por terem vivido situações degradantes no local de acolhimento.
Nervoso só de lembrar o que passou quando a família aceitou ajuda e se mudou para um desses espaços coletivos destinados a pessoas em situação de rua, o patriarca relata que o ambiente tinha condições insalubres e declara que seus filhos saíram de lá traumatizados.
“No abrigo em que nos instalamos quando aqui chegamos, nos tiraram para fora por causa dos cachorros. Mas depois entramos e os meninos ficaram aterrorizados com o que viram. Pessoas doentes, nuas… Tenho vídeo de tudo o que acontecia lá dentro. Minha família adoeceu lá”, afirma.
Os venezuelanos contam que, além do sofrimento de precisar se separar dos pets que não são aceitos, a realidade encontrada no centro de acolhimento era pior do que a vida na rua.
“Estávamos cansados e tomei a decisão de sair. Lá viviam pessoas com tuberculose dormindo do lado dos meus filhos, como vou deixar eles num lugar assim? Eu e minha esposa dormíamos no chão. Não nos deixavam sair, nós queríamos sair de lá e não permitiam. Sem contar que convivíamos com milhares de baratas“, desabafa José.
A mãe, Sinai, acrescenta que já tentou legalizar a documentação para matricular as crianças em uma escola e para ela e o marido conseguirem se candidatar em vagas de emprego, mas a falta de cópias de outras certidões emperra o processo.
Assim, eles optam por continuar vivendo a céu aberto, sem destino certo, mas também sem desistir dos objetivos que os trouxeram para o Brasil. “Queremos nossa estabilidade, tomar banho, trabalhar…”, finaliza José.
Assistência social diz que tentou ajudar família da Venezuela que vive na rua em Campo Grande
Ao Jornal Midiamax, a Secretaria Municipal de Assistência Social (SAS) informa que a equipe do SEAS (Serviço Especializado em Abordagem Social), composta por educadores, psicólogos e Assistente Sociais, realizou três atendimentos à família de venezuelanos, que não aceitou acolhimento.
Ainda assim, no mês de outubro, os mesmos foram acompanhados até a Polícia Federal para regularizar a documentação e, logo após, foram para a unidade do SEAS, onde foi realizada a acolhida e orientação sobre os cuidados que o acolhimento oferece, sobre os riscos da exposição das crianças e a necessidade dos menores frequentarem a escola.
Porém, o pai e responsável assinou o termo de recusa negando acolhimento. Ele alega que tem uma família na redondeza que presta um suporte em alimentação, banho e higiene. De acordo com a Política de Assistência Social, as equipes da SAS fazem a oferta dos serviços às pessoas em situação de rua, que têm por opção aceitar ou não os serviços da Rede.
As recusas de atendimento são um direito garantido pela Constituição Federal de 1988, em seu Art. 5º, Inciso XV.
Vale reforçar que, além de encaminhamento para emissão de documentação, o Centro POP disponibiliza apoio para as pessoas em situação de rua, onde é possível realizar alimentação, higienização e acompanhamento psico jurídico social, bem como, encaminhamento às unidades de acolhimento institucionais e Comunidades Terapêuticas, caso necessário. A unidade fica localizada na Rua Joel Dibo, 255, Centro.
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