Pular para o conteúdo
Cotidiano

Políticas públicas para a comunidade LGBT existem, mas falta de dados ainda é fragilidade nacional

A ausência de dados reais sobre a violência contra público LGBT impossibilita estratégias mais diretas de enfrentamento
Jennifer Ribeiro -
Parada LGBT em Campo Grande. (Arquivo, Jornal Midiamax)

Desde 2019, quando o STF (Supremo Tribunal Federal) enfim decidiu a favor da criminalização da LGBTfobia, reconhecendo, assim, que a prática da conduta contra pessoas LGBTI+ se enquadra como crime de racismo, até que o Congresso Nacional elabore uma legislação específica, a LGBTfobia é um crime inafiançável e imprescritível.

No entanto, mesmo com a criminalização, não é incomum, tampouco raro, ver pessoas LGBTQIAPN+ sendo agredidas – seja verbal, física ou psicologicamente – ou então tendo suas vidas interrompidas diariamente.

Conforme o levantamento da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública), só em 2024, Mato Grosso do Sul registrou 47 crimes por motivação de LGBTfobia, sendo 8 por racismo e 39 caracterizado como injúria, já que em 2023, o plenário do STF reconheceu que atos ofensivos praticados contra pessoas da comunidade LGBTQIAPN+ podem ser enquadrados como injúria racial. Em 2023, foram 149 casos.

Apesar dos dados, esta não é a totalidade de vítimas de um cenário violento e cruel. O Brasil segue liderando o ranking de país que mais mata LGBTQIAPN+.

No entanto, ONGs, grupos de apoio e a própria comunidade, ao cobrarem respostas e efetivos na ruptura do ciclo de violência, se esbarram em uma situação: a falta de dados acerca dos crimes contra esta população.

Mato Grosso do Sul lidera ranking

Em 2023, Mato Grosso do Sul liderou o ranking de mortes por violência LGBTIfóbica no país. Segundo o dossiê do Observatório de Mortes e Violências LGBTI+, divulgado na última terça-feira (14), foram registradas 3,26 mortes por milhão de habitantes.

Na pesquisa, o Estado está à frente do Ceará (2,73 morte por milhão) e Alagoas (2,56 morte por milhão). A fonte para o dossiê, no entanto, vem de jornais, publicações de redes sociais e relatos testemunhais, visto a falta de dados governamentais sobre o assunto.

Por este motivo, é possível que muitos casos e dados de violências praticadas contra pessoas LGBTI+ sejam omitidos e/ou distorcidos, considerando ainda uma significativa subnotificação do número de mortes violentas de LGBTI+ no Brasil.

“A falta de dados é uma fragilidade nacional, não só aqui no estado de Mato Grosso do Sul. É uma falha sistêmica, onde não há um recorte, muitas vezes, de gênero e de orientação sexual. Então, esses dados não representam a totalidade, o que torna ainda mais desafiador o nosso trabalho para pensar em estratégias de enfrentamento de LGBTfobia, quando tem uma falha, um vácuo em relação aos dados”, explica Gabrielly Antonietta, coordenadora do Centro Estadual de Cidadania LGBT+.

Segundo a coordenadora, ter acesso a dados mais precisos e íntegros em relação ao cenário de violência contra a população LGBTI+ possibilitaria mais facilidade na identificação dos diversos tipos de violência que a população LGBTI+ sofre, incluindo aquelas que ocorrem em âmbito institucional, e seu enfrentamento.

Vítimas devem denunciar

Para que a comunidade tenha acesso a amparo legal, acolhimento ao fazer uma denúncia, mas também para que o Estado tenha mais conhecimento acerca da violência contra a comunidade, podendo assim ampliar as políticas públicas oferecidas, existe atualmente em o Centro Estadual de Cidadania LGBT, que oferece atendimento para denúncias de crimes de LGBTfobia.

Essas denúncias podem ser feitas via email e WhatsApp. Tanto na Subsecretaria de Políticas Públicas LGBTQIA+, quanto no Centro, existe a Comissão Especial Processante, que integra especialistas de diversos órgãos especializados em apuração de denúncias, como a Defensoria Pública, a Polícia Militar e o Ministério Público.

Segundo Gabrielly, ao ser relatado um crime de violência, estes profissionais avaliam se a denúncia se trata de um crime de LGBTfobia, ou não. Sendo confirmado, “eles acompanham o caso, dão os devidos encaminhamentos, podendo gerar uma multa administrativa ao agressor. Uma pessoa que comete o crime de LGBTfobia pode ser privada de ter acesso a cargos públicos por um ano, por exemplo”.

Acolhimento no interior do Estado

Quando se trata de pessoas LGBTQIAP+ morando nas cidades do interior, existe uma necessidade ainda maior na ampliação de políticas de todas as esferas que proporcionem atendimento e acolhimento.

Vagner Campos Silva, subsecretário de Políticas Públicas LGBTQIA+, explica que, para isso, é fundamental levar programas e projetos de implementação dessas políticas públicas aos municípios do interior de MS. Principalmente, através das secretarias de assistência social, de saúde e de educação.

“Se uma pessoa LGBT chega lá na Unidade Básica de Saúde ou no CRAS, qual é o atendimento e acolhimento que ela terá? Precisamos que hajam nestes lugares, profissionais que abracem essas pessoas, que elas consigam o amparo que muitas vezes não encontram nem na própria casa. Por isso é tão importante que essas políticas públicas cheguem até os outros municípios”, explica.

Enfrentamento

Para o subsecretário, a melhor forma de lidar com a violência que a comunidade vive diariamente, além da garantia de segurança, é criando e ampliando os instrumentos de enfrentamento. Ou seja, com oferta de empregos, estudos e saúde de qualidade.

“Existe uma lei no Estado que é de capacitação e qualificação dos policiais civis no trato da população LGBT e agora, o próximo passo, que é uma ansiedade nossa, é a criação de uma delegacia especializada”, conta.

A delegacia, por sua vez, ainda não tem previsão para sair do papel. O projeto continua sendo discutido, mas, ao se concretizar, vai oferecer um atendimento mais humanizado e específico.

“Hoje em dia a gente acha que todas as delegacias do Estado têm capacitação para atender a nossa população (LGBT), mas isso é uma ilusão. Daí essas pessoas chegam lá e não recebem todas as orientações e acolhimentos necessários”, acrescenta.

Além da delegacia, a subsecretaria estuda abrir um ambulatório e uma Casa de Acolhimento, ambos para o atendimento exclusivo da comidade LGBT do Estado.

Campanhas e ações

Em alusão ao ‘Maio da Diversidade’, algumas ações e campanhas são realizadas em Campo Grande. Confira:

  • Audiência Pública

Nesta sexta-feira (17), vereadores da Câmara Municipal farão audiência pública para discutir a criação do Conselho Municipal de Políticas LGBTQIAPN+ em Campo Grande. O debate está marcado para às 14h no Plenário Oliva Enciso, na sede da Casa de Leis.

Vale lembrar que a audiência é pública e aberta a toda a população. Interessados também podem acompanhar através da transmissão ao vivo pelo canal aberto da TV Câmara (canal 7.3) e pelas redes sociais (Facebook e YouTube).

  • Roda de Conversa

Também nesta sexta (17), acontece uma roda de conversa para discutir políticas públicas para a população LGBTQIA+, realizada pela Secretaria de Estado da Cidadania e pela Subsecretaria LGBTQIA+ MS, no Ponto Bar.

O Ponto Bar fica na R. Dr. Temistocles, 103 – Centro. A ação começa às 19h.

  • Campanha ‘Sangue LGBTQIA+ Salva Vidas’

Neste sábado (18) acontece a primeira campanha ‘Sangue LGBTQIA+ Salva Vidas’, em comemoração ao ‘Maio da Diversidade’. Das 7h às 17h o Hemosul estará aberto, acolhendo os doadores de sangue e atualizando os dados para cadastro de medula óssea.

Para conferir os critérios básicos de doação, clique aqui.

💬 Receba notícias antes de todo mundo

Seja o primeiro a saber de tudo o que acontece nas cidades de Mato Grosso do Sul. São notícias em tempo real com informações detalhadas dos casos policiais, tempo em MS, trânsito, vagas de emprego e concursos, direitos do consumidor. Além disso, você fica por dentro das últimas novidades sobre política, transparência e escândalos.
📢 Participe da nossa comunidade no WhatsApp e acompanhe a cobertura jornalística mais completa e mais rápida de Mato Grosso do Sul.

Compartilhe

Notícias mais buscadas agora

Saiba mais

Obra de R$ 123 milhões: TCE-MS manda Agesul suspender pagamento à empreiteira

Farmácia Popular

De 429 para 224: credenciadas do Farmácia Popular em MS caem e sindicato alega falta de reajuste

JBS abre inscrições para vagas de estágio em Naviraí

Acidente que matou servidor da Câmara Municipal é tratado como homicídio culposo

Notícias mais lidas agora

Em Nova Alvorada, promotor do MPMS é alvo de denúncia por suspeita de ‘aliviar’ para prefeito

Juíza condena sete por caso de roubo de propina flagrada na Vostok

Acompanhe AO VIVO: STF inicia julgamento de Bolsonaro e mais sete aliados

‘Brasil Soberano’ será tema do desfile de 7 de setembro em Brasília

Últimas Notícias

Política

União Progressista anuncia saída da base de Lula em coletiva com Rueda e Tereza Cristina

Federação afirmou que aplicará punições disciplinares aos parlamentares em caso de descumprimento

Trânsito

Mulher atropelada por companheiro passa por cirurgia na Santa Casa após fraturar braço, joelho e bacia

O atropelamento ocorreu na madrugada do último sábado (30)

Cotidiano

Juíza manda Consórcio Guaicurus apresentar imagens de acidente que afastou diarista do trabalho

Passageira pede pagamento de pensão após negligência da empresa de ônibus de Campo Grande

Famosos

Mergulhou nas incertezas do amor? Vídeo mostra queda de cantor Leonardo

Em cena que voltou a viralizar nas redes, cantor escorrega nas escadas após deixar palco