“A vida é uma constante oscilação entre a ânsia de ter e o tédio de possuir”. Do filósofo Arthur Schopenhauer, a frase pode ilustrar a necessidade dos motoristas de entregas internacionais que madrugam em frente aos galpões da Shopee, diariamente, em Campo Grande.

Cerca de 200 motoristas chegam todos os dias, por volta das 5h, em um dos galpões da Avenida Duque de Caxias para pegarem as rotas e seguirem para as entregas. Assim, eles organizam no carro os pacotes, que ficam pelas calçadas, de acordo com a rota distribuída.

Para Guilherme, um deles, o volume de entregas e de gente no local tem uma explicação um tanto óbvia: o campo-grandense é um grande consumista. “Hoje, por exemplo, minha rota tem 97 pacotes para entregar em 56 endereços. Todos em uma só região da cidade”, contabiliza.

Cada entregador fica com, em média, 100 pacotes para distribuir pela cidade. Ou seja, na semana, são cerca de 120 mil encomendas aguardadas pelos campo-grandenses que saem somente daquela unidade.

Motorista organiza entregas (Alicce Rodrigues, Midiamax)

Em funcionamento há um ano, o galpão está prestes a mudar de local. Isso porque o espaço ficou pequeno para tantas entregas. “Aqui fazemos a triagem e distribuímos a entrega”, revela um dos supervisores.

Até R$ 4 mil no mês

Para trabalhar com as entregas, muitos motoristas saíram dos aplicativos de transporte de passageiros ou conciliam as duas funções. Para se cadastrar, é feita uma triagem no próprio site de entregas, que credencia ou não o motorista.

Após confirmados, devem comparecer aos galpões para pegar as entregas. Por semana, relatam uma média de ganho de R$ 1 mil. Guilherme explica que com a rota de 97 pacotes, receberá R$ 260 reais na diária. “Eu fazia entregas pelo Mercado Livre há três anos e migrei há três meses para a Shopee. Está muito melhor”, conta.

Sobre as vantagens, Guilherme brinca. “Você não precisa lidar com gente. Só entrar no aplicativo, pegar a rota e distribuir as entregas. Você faz seu horário. É aquela sensação de ser dono do seu negócio, mesmo sem ser”.

Ele relata uma rotina de trabalho de segunda a sábado, finalizando as entregas por volta das 12h todos os dias. “Depois estou com o tempo livre”, comenta.

Aplicativo já mostra rota das entregas, explica motorista (Alicce Rodrigues, Midiamax)

Entregas rápidas e mais tempo para estudar

Outra entregadora, que preferiu não se identificar, explica que gasta em média R$ 20 de gasolina por rota e, até o fim da manhã, também está com o serviço finalizado. “Faço faculdade e foi uma alternativa que encontrei para ter uma renda. É o melhor dos dois mundos, porque gosto de dirigir e termino cedo o trabalho, com tempo livre para estudar”.

Ela relata a mesma média de ganho, de cerca de R$ 4 mil por mês. Mas explica que o aplicativo é muito organizado. “Não é assim de você faz o que quer. Tem que avisar no aplicativo a hora que para para almoço, por exemplo. A hora que demora de uma entrega para outra. São questões de segurança, que eles cobram. É bem organizado”, diz.

E nem mesmo o anúncio de taxação, a partir do dia 1º de agosto, para produtos internacionais com imposto de 20% para compras de até US$ 50, assustou o consumidor. “A gente realmente achou que só de anunciar ia cair o movimento. Mas está a mesma coisa. A vontade de comprar é maior, né?”, finaliza.

Motoristas organizam entregas por região nos carros (Alicce Rodrigues, Midiamax)