Indígenas da área ocupada em Douradina, que desde madrugada de domingo (14) enfrentam cerco de fazendeiros na região, estão receosos e se sentindo ameaçados. Neste sábado (20) fazendeiros teriam montado um paredão com veículos para intimidar a comunidade. Na sexta-feira (19) mais um indígena foi ferido a tiros. Ele foi atingido de raspão.

A área é uma parte da Terra Indígena Panambi – Lagoa Rica, em Douradina, que está demarcada desde 2011. Segundo o Cimi (Conselho Indigenista Missionário) no local estão cerca de 100 indígenas.

Ainda nesta manhã esteve presente uma viatura da Força Nacional, que diante da situação, teria alegado que não dá conta da situação, conforme informado pelo coordenador do CIMI (Conselho Indigenista Missionário), Matias Benno.

“Estamos acompanhando desde o início da retomada. É uma situação muito delicada. Nos últimos dias eles têm continuado a denunciar os ataques. Ontem houve tiros e fogo ateados por fazendeiros. Um jovem, que não teve a identificação revelada por atingido de raspão por um dos tiros. Hoje os fazendeiros armaram estratégia de guerra e a Força Nacional disse que não tem como segurar a situação”, explicou.

Cerca de 20 caminhonetes foram colocadas lado a lado em uma formação de paredão em frente a área ocupada. “Fazendeiros se colocaram em linha ameaçadoramente para intimidar a comunidade”. O que preocupa também, segundo Benno, é que a Polícia Militar teria sido acionada para auxiliar na situação. “A PM não tem competência para atuar em situações que envolvem indígenas e como há a questão do Marco Temporal, também não pode haver despejos”, disse, completando ainda que foi acionado o jurídico que informou que não há pedidos de reintegração de posse.

Em vídeo, enviado pelo Midiamax, é possível ver um grupo de indígenas conversando com um agente da Força Nacional, um deles pede ao agente para que desarme os fazendeiros.

Na madrugada de segunda-feira (15) um indígena de 43 anos foi ferido na perna. No período da tarde, homens armados abriram fogo em um local onde os Guarani e Kaiowás estavam. Além dele, uma mulher também com suspeita de estar com braço quebrado e ferimento no pé está sem atendimento na aldeia.

Em nota, o Ministério da Justiça e Segurança Pública informou que o efetivo da Força Nacional enviado ao estado foi estabelecido conforme planejamento da Polícia Federal e da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública). Leia a nota na íntegra:

O Ministério da Justiça e Segurança Pública informa que o emprego da Força Nacional na região do Cone Sul, no estado do Mato Grosso Sul, nas aldeias indígenas do território, cumpre apoio solicitado pela Polícia Federal (PF), nos termos da Portaria MJSP nº 726, assinada na última quarta-feira (17) e publicada no Diário Oficial da União.

 A Força Nacional agirá nas atividades e nos serviços imprescindíveis à preservação da ordem pública e da segurança das pessoas e do patrimônio, conforme planejamento estabelecido pela PF e órgãos de segurança pública do Estado de Mato Grosso do Sul.

Por motivos de segurança dos agentes e da população, não serão divulgados detalhes operacionais específicos sobre o efetivo destacado para a região.

No entanto, vale destacar que o efetivo designado para as ações de apoio à Polícia Federal (PF) já está no local.”

Polícia investiga o caso

Polícia Civil de Douradina abriu uma investigação sobre o ataque ocorrido, que está sendo tratado como tentativa de esbulho possessório. Segundo o delegado Gustavo Mucci, a Polícia Militar foi até o local e ninguém foi detido na ocasião.

Indígenas Guarani e Kaiowá retomavam parte do território em Douradina na madrugada de domingo (14) quando houve um ataque que deixou um indígena ferido. Os indígenas da organização Aty Guasu contam que estavam em uma estrada em frente à aldeia.

“Não provocamos eles. Estávamos fazendo nosso protesto e o fazendeiro passou por nós e atirou”, publicou o líder Guyra Kambiy Ezequiel.

Acionada pelo Jornal Midiamax, a Polícia Federal informou que deu início a fase investigatória para o esclarecimento dos fatos e que acompanha o conflito no local com a Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) e MPF (Ministério Público Federal).

Demarcada desde 2011

Alvo da retomada, a Terra Indígena Panambi – Lagoa Rica é uma terra oficialmente reconhecida, identificada e delimitada com 12,1 mil hectares desde 2011. Seu processo de demarcação, contudo, está paralisado por conta de medidas que tentam instituir a tese do Marco Temporal.

Segundo nota da Aty Guasu, em represália à retomada, durante a tarde de domingo, os indígenas foram atacados por fazendeiros da região, que invadiram a comunidade em bando. Durante o ataque denunciado, no tekoha Guayrakamby”i, o indígena foi alvo de tiros, ficando ferido na perna.

Em 2015, segundo os indígenas, o mesmo grupo de fazendeiros atacaram a comunidade de Guyrakamby”i. Na ocasião o MPF (Ministério Público Federal) interveio no conflito. “Nossa área do Lagoa Rica está delimitada, porém nunca foi entregue a nós. Retomamos para garantir a vida do nosso povo, mas agora estamos temendo a morte”, finaliza.