Desde segunda-feira (15), conflitos são registrados em várias terras indígenas em Mato Grosso do Sul. Em Aquidauana, a 139 quilômetros de Campo Grande, disputa por liderança da ‘Aldeia Retomada Esperança’, no distrito Taunay, mobiliza equipes policiais e tem feridos.

Essa suposta disputa de poder teria motivado um conflito entre indígenas, com briga generalizada e feridos, na “Aldeia Retomada Esperança”. Essa terra foi retomada pelos povos originários em 2013, no distrito de Taunay, e pertence ao município de Aquidauana, distante aproximadamente 200 quilômetros de Campo Grande. Ela é tratada como ‘Retomada’, pois ainda não foi homologada, mas conforme a Funai a área já teve os estudos de identificação e delimitação aprovados. Os documentos aguardam a portaria demarcatória.

O Jornal Midiamax apurou que o atual cacique, Mauro Paes, estaria descontente com o fato de outro indígena, João Firmino, querer dividir a propriedade em duas aldeias. Isso teria soado como uma provocação e afronta à liderança tribal.

A liderança é composta pelo cacique e outros membros. Já o outro homem é morador da Aldeia Ipegue, também no distrito, e está na Retomada há apenas 4 meses, desde março de 2024, quando levou o seu gado para o local.

Reunião entre lideranças

No último domingo (14), a reportagem teve conhecimento de reunião entre os líderes e moradores sobre o Marco de demarcação da ‘Área de Retomada Esperança’ e outros assuntos, com a presença do coordenador da Funai em Mato Grosso do Sul, Elvisclei Polidório.

Na ocasião, foi levantada a situação envolvendo João Firmino. O cacique Mauro mencionou aos presentes sobre a conduta do indígena em provocar e financiar a divisão das terras, para fundar uma aldeia “fictícia”, para obter, segundo a liderança, vantagens financeiras e divisórias.

Dessa forma, as lideranças pediram que João, que também é pastor, se retirasse da aldeia com seus bens, incluindo gado. Uma outra indígena também foi convidada a se retirar das terras, já que segundo o cacique estaria provocando a desordem na comunidade ao concordar com o pastor.

Mauro Paes ainda frisou que tem autonomia para solicitar que pastor João e sua família se retirem, já que há um regimento interno e uma organização social indígena Terena existente no território que é de sua responsabilidade, além de responder pela terra retomada aos órgãos públicos como Ministério Público Federal, Fundação Nacional dos Povos Indígenas, AGU (Advocacia-Geral da União), entre outros.

Ainda na reunião, o cacique pontuou que a decisão da comunidade deve ser respeitada, já que a organização na ‘Aldeia Retomada’ é legítima tradicional Terena e que o pastor João tem provocado todo o “alvoroço” desde que resolveu colocar seu animais por lá, tirando a ordem da retomada.

Conflito

As lideranças então acordaram que a retirada de João Firmino e seu gado iria acontecer nesta terça-feira (15) e, se fosse necessário, a comunidade estaria apta para agir através dos guerreiros e guerreiras indígenas, ao lado do cacique.

Tal ação gerou conflito culminando com o filho de Mauro Paes agredido com um porrete, com possível fratura em um dos braços, além de outro indígena que também foi lesionado em um dos joelhos, sendo encaminhados para o pronto-socorro do Hospital de Aquidauana.

A Polícia Militar está no local e tenta mediar a situação. Por se tratar de terra indígena, a responsabilidade é do Governo Federal, mas o tenente-coronel Carlos Magno, comandante do 7º Batalhão de Polícia Militar, enviou uma equipe até o local e pediu que as lideranças indígenas conduzam a situação sem violência.

Também é apurada a identificação dos agressores, para que eles sejam levados para a Delegacia de Aquidauana.

Retomadas e confrontos

Além de Mato Grosso do Sul, o Paraná e Rio Grande do Sul também registraram casos de ataques a indígenas em uma crescente onda da violência nos últimos dias. No Estado, Caarapó, Douradina e Dourados foram marcados por confrontos desde domingo (14).

Conforme divulgado pelo Cimi (Conselho Indigenista Missionário), os atentados atingiram a comunidade Pekuruty, do povo Guarani Mbya, no RS, a comunidade Guarani e Kaiowá da aldeia Kunumi Vera, localizada na TI (Terra Indígena), em Dourados e a comunidade Avá-Guarani da aldeia Tatury, parte da TI aldeia Guasu Guavirá, no oeste do Paraná.

Neste final de semana, já haviam sido registrados ataques a outras três comunidades nestes mesmos estados: um contra o povo Kaingang da retomada Fág Nor, em Pontão (RS); outro contra o povo Avá-Guarani dos tekoha Arapoty e Arakoé, também da TI Guasu Guavira; e ainda um terceiro, no território da TI Panambi – Lagoa Rica, em Douradina, contra os Guarani e Kaiowá.