Um dia após o trágico rompimento da barragem no loteamento do Nasa Park, entre Jaraguari e Campo Grande, famílias que tiveram a propriedade atingida tentaram, ainda na manhã desta quarta-feira (21), retirar a lama e o entulho arrastado pela enxurrada. Confira tudo o que se sabe sobre rompimento de barragem que inundou casas e BR-163.

O rompimento

Por volta das 9h30 da terça-feira (20), moradores começaram a registrar imagens do início da enxurrada. A força da água já ocupava propriedade, arrastando o matagal, barro e entulho.

A vizinhança também passou a ficar alerta, avisando os moradores diante da tragédia. “Nos vídeos mostra e isso é só o começo da água que está chegando na BR-163. Vai fazer um estrago na rodovia”, previa um morador.

Em um curto período, a água havia invadido casas. O Jornal Midiamax conversou com moradores que, por pouco, escaparam com vida da enchente. “Só tive tempo de colocar a família no carro e fugir”, contou o morador, ainda em choque com toda a situação. Os trabalhadores ainda contam que ouviram um estrondo muito alto, pouco antes da água se espalhar.

O morador da região conta que mora com a mãe e três crianças. Ele recebeu um aviso do cunhado sobre o rompimento da barragem, mas em 4 minutos a água invadiu toda a casa.

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Cratera se formou em rua próxima a barragem que rompeu (Foto: Fala Povo)

Estragos

A barragem rompida no lago do loteamento do Nasa Park deixou um rastro de destruição por quilômetros. A água desceu em correnteza forte, destruindo tudo que encontrava pelo caminho. É possível ver a marca da passagem da água que ficou em cerca de um metro da casa, destruindo móveis, eletrodomésticos e deixando muita lama pelo local.

Imagens mostram uma cratera formada no lado após o rompimento da barragem. A água não invadiu residências do loteamento de luxo, entretanto, destruiu a avenida de acesso para as casas após a formação de um ‘sumidouro’.

Com o rompimento, formou-se uma correnteza que bloqueou a BR-163 e, subsequentemente, causou estragos significativos nas propriedades rurais ao longo do seu caminho.

 A enxurrada invadiu casas e a BR-163. A CCR MSVia, concessionária responsável pela regulação da estrada, chegou a emitir um alerta para a interdição na pista entre os dois sentidos, do km 500 ao 501, por conta do alagamento.

Ainda nesta manhã, a rodovia registra congestionamento, apesar de liberada com o sistema pare-e-siga.

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Entulho e lama foram arrastados por enxurrada (Alicce Rodrigues, Midiamax)

Licenças ambientais

Na terça-feira, o Corpo de Bombeiros informou que “O condomínio está com a licença atrasada. Ou seja, não tinha o documento regular para o funcionamento do lago”, diz o Tenente Coronel Fabio Pereira Lima, do CBMMS. Segundo informações da corporação, não há vítimas e pelo menos três residências foram atingidas.

 A empresa A&A Empreendimentos Imobiliários S/C Ltda – proprietária dos loteamentos Nasa Park I e II -, já havia sido multada pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais) por irregularidades ambientais.

E mais: a construção da barragem para o lago nunca foi autorizada pelo Imasul. Conforme apurado pela reportagem do Jornal Midiamax, em 2008, o Ibama aplicou multa de R$ 160 mil em nome do proprietário, Alexandre Alves de Abreu. A infração constatada pelos técnicos foi: “Ocupar irregularmente área de preservação permanente no Loteamento Nasa Park I e descaracterizar e danificar área de preservação permanente no Loteamento Nasa Park II, através de raleamento de vegetação ciliar e não adoção de técnicas de contenção de processos erosivos, em uma área total de 8,0 ha”.

Represa seca

Por vários trechos é possível encontrar peixes mortos. Moradores rurais ainda relatam morte de animais, como porcos e destruição de plantação. Foram minutos de desespero até a represa secar.

Imagens aéreas mostram o antes e depois, com a represa seca. Imagens registradas por moradores revelam a tragédia ambiental e estrutural na região. “Acabou tudo, só galho e peixe. Tomara que não tenha ninguém em cima dessa ponte”, descreve.

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Imagens aéreas mostram lago seco (Defesa Civil)

Vítimas sem apoio

“Estamos num esgoto a céu aberto”, o relato da moradora Gabrielle do Prado Lopes revela que o cenário ainda é desastre nas propriedades rurais atingidas pela enchente causada pelo rompimento da barragem do loteamento Nasa Park, entre Jaraguari e Campo Grande. Na manhã desta quarta-feira (21), as vítimas tentam limpar a lama e retirar o entulho.

Aos prantos, Gabrielle observa o pai na busca por animais que morreram com a enxurrada, às margens da BR-163. A família mora no local há mais de 40 anos. Agora, lamentam a falta de assistência, tanto do poder público, quanto do loteamento particular que seria responsável pela barragem.

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Carro destruído (Alicce Rodrigues, Jornal Midiamax)

O que diz a Nasa Park

A empresa AA EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS afirmou que possui projeto regularizado da barragem rompida nesta terça-feira (20). A empresa alega que possui manifestação favorável do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) e certificados ambientais.

Apesar de alegar possuir a documentação, a empresa não apresentou documentos comprobatórios à reportagem. A assessoria de imprensa da AA Empreendimentos disse que irá apresentar os registros posteriormente, em coletiva de imprensa ainda sem data definida.

Asfalto cedeu com a força da enxurrada (Nathalia Alcântara, Midiamax)

Investigada

A empresa foi investigada pelo MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) em 2018. Assim, naquele ano, o órgão apurou “ocorrência de degradação ambiental consistente em ocupar irregularmente área de preservação permanente no Loteamento Nasa Park I”.

Além disso, foi investigada descaracterização e possível danos na área de preservação permanente no Loteamento Nasa Park II. Ambos os loteamentos são localizados em Jaraguari.