Com 4 filhos e 8 cachorros, família foge da Venezuela e mora há 5 dias em canteiro de Campo Grande

O casal se desdobra em uma vida improvisada enquanto busca oportunidade na Capital

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Família venezuelana em Campo Grande (Madu Livramento, Jornal Midiamax)

Na rotatória da Avenida Pref. Lúdio Martins Coelho com a Duque de Caxias, em Campo Grande, uma cena chama atenção de quem passa atento pelo local: quatro crianças brincam e correm pelo gramado, ‘fugindo’ de oito cachorros animados com a energia da garotada.

Descemos do carro e nos aproximamos. Chegando, somos recebidos sob olhares desconfiados. Nos apresentamos e, com um sorriso tímido no rosto, ouvimos da mulher que sai de uma das barracas: “Oi, sou Sinai”, com sotaque estrangeiro.

Sinai Bimari é venezuelana e há cinco dias está acampada com o marido e os quatro filhos – de 14, 12 e os gêmeos de 10 anos – na Capital. São duas barracas: uma para as crianças e a outra para o casal e os pets da família. Neste contexto, já imaginamos que a família seja mais uma integrante da migração em massa causada pela crise política no país.

Conforme a mulher, a família tinha uma vida tranquila na Venezuela. O marido era comerciante, os filhos eram estudantes e ela cursava enfermagem, já muito perto de realizar seu sonho profissional. Devido às crises políticas, econômicas e sociais cada vez mais intensas, o casal se viu sem saída e tomou a decisão mais difícil de suas vidas: deixar a família e o país natal.

Acampamento da família (Madu Livramento, Jornal Midiamax)

Trajeto até o Brasil

Sinai nos conta que, antes de chegar ao Brasil, a família passou pela Colômbia, Peru e Bolívia, sempre com a ajuda de viajantes que ofereciam carona. Eles até tentaram recomeçar a vida na Bolívia, mas não viram muitas oportunidades de crescimento.

Contudo, o casal conhece muitas famílias que vieram ao Brasil, tiveram boas oportunidades, foram acolhidos e conseguiram reestabelecer suas vidas aqui. Então, decidiram atravessar a fronteira com Corumbá e tentar uma vida digna para os filhos.

Da Cidade Branca até Campo Grande, a família caminhou por duas semanas e meia. O trajeto foi exaustivo, incerto e temeroso. Na Capital, eles se alojaram em frente ao Aeroporto Internacional de Campo Grande, mas neste fim de semana mudaram o local do acampamento, indo para a rotatória já mencionada.

“Essa é a primeira vez que deixamos nosso país. São dois meses longe de casa, são dois meses que não trabalhamos, são dois meses que meus filhos não vão para a escola. A situação piorou muito desde as eleições. Meu cunhado foi morto em confronto, ficamos com muito medo, minha família passou a ser perseguida. Então, nos mudamos”, lamenta.

Família está em Campo Grande há 5 dias (Madu Livramento, Jornal Midiamax)

Sonhos para o futuro

Conforme Sinai, o desejo do casal agora é poder oferecer uma moradia segura aos filhos, além de estudos de qualidade. “Viver tudo isso é muito difícil. Não temos celular, não temos como falar com quem ficou. Minha mãe não sabe onde estou, não tem notícias dos netos há dois meses. Não deixamos nossa casa porque queríamos. Deixamos tudo para meus filhos crescerem bem. Ninguém deseja viver isso. Queremos trabalhar e aceitamos qualquer coisa, sabemos fazer de tudo”, pontua.

A venezuelana conta ainda que, desde que chegaram a Campo Grande, muitas pessoas já contribuíram com roupas, alimentos, água e pacotes de ração. Porém, aos poucos alguns itens essenciais começam a faltar e, por isso, qualquer doação é bem-vinda.

“O pessoal passa aqui e nos oferece algumas coisas. Tem algumas pessoas que nos dão dinheiro e ali na frente tem uma loja de piscina que vende água. Pegamos a bicicleta e compramos lá. Tem um militar que passou por aqui e deixou essa caixa com copos de água. Isso é ótimo porque, além da gente, tem nossos cachorrinhos também. Vimos que os brasileiros são generosos, a polícia já passou aqui e não pediu para sairmos. Isso nos deu mais tranquilidade, não queremos fazer nada errado”, acrescenta.

Conforme Sinai, a SAS (Secretaria de Assistência Social) esteve no local duas vezes, oferecendo orientações acerca das documentações que eles precisarão para tentar uma vaga de emprego e vagas nas escolas. O Jornal Midiamax entrou em contato com a Secretaria e aguarda um retorno.

Crianças brincando no gramado (Madu Livramento, Jornal Midiamax)

Ajuda

Como mencionado por Sinai, a família não tem celulares e por isso, quem puder contribuir deve encontrá-los na rotatória da Avenida Pref. Lúdio Martins Coelho com a Duque de Caxias. Tudo é aceito, incluindo mantimentos para os oito cachorros.

“Não pretendemos sair daqui, então, quem puder ajudar nossa família pode nos encontrar aqui. Pretendo sair só quando encontrarmos uma casa para morar. Esse é meu maior sonho”.

Cartaz deixado pela família (Madu Livramento, Jornal Midiamax)

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