A greve dos professores da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) completou 48 dias nesta quarta-feira (19), mas já dá indícios de encerramento. Em assembleia realizada pela Adufms (Associação dos Docentes da UFMS), nesta terça-feira (18), os docentes aprovaram a saída coletiva da greve e debateram o calendário de reposição das aulas.

Presidenta da Adufms, Mariuza Guimarães, explica que apesar da saída coletiva ter sido aprovada, o encerramento só ocorrerá mediante a assinatura de um acordo entre o Governo Federal e os grevistas. A greve visa à recomposição salarial, ou seja, a correção dos salários conforme a inflação, além de melhorias nas condições de trabalho e na qualidade da educação pública.

“Na assembleia aprovamos a saída coletiva da greve, com a condicionante de que só haverá retomada das atividades após a assinatura de acordo do Andes SN com o Governo Federal e a aprovação do calendário de reposições das aulas”, diz.

Entre os dias 21 e 23 de junho, haverá reuniões do Comando Nacional de Greve para consolidar o resultado das assembleias de base. Na sequência, os docentes irão expedir um comunicado com os encaminhamentos para a saída da greve ou sua manutenção, além de uma nova rodada de assembleias para execução dos procedimentos de retomada das atividades e demais orientações sobre o calendário de reposição.

Conforme a Adufms, os comandos locais de greve irão promover reuniões junto à gestão acadêmica para elaborar o calendário de reposição.

“Queremos garantir a qualidade das aulas, bem como os direitos dos docentes quanto à carga horária semanal e o intervalo de pelo menos 15 dias entre os semestres. Além disso, há outras questões acadêmicas e funcionais necessárias para a retomada das atividades na comunidade universitária”, explica Mariuza.

Conselho Universitário rejeitou suspensão do calendário acadêmico

Greve UFMS
Votação da Adufms para adesão da greve (Lethycia Anjos, Midiamax)

Em reunião realizada no dia 12 de junho, o Coun (Conselho Universitário) votou por manter o calendário de aulas da UFMS. A medida vale para os 9 campus espalhados no interior do Estado.

Com a decisão, os docentes que optaram por não aderir à greve da UFMS seguem o calendário letivo, no entanto, terão que esperar a reposição das aulas suspensas para dar continuidade à grade que compreende o 2° semestre de 2024.

Conforme Mariuza Guimarães, a continuidade do calendário contou com 49 votos, contra 13 que pediam pela suspensão.

“A votação foi 13 favoráveis e 49 contrários, mas ainda assim, os docentes que seguem com o calendário terão que esperar a reposição das aulas no fim da greve para dar continuidade à greve do 2° semestre. Não tem outro jeito”, afirmou.

Reajuste zero trava avanço das negociações

Greve UFMS
Greve iniciou no dia 1° de maio (Ana Laura Menegat, arquivo Midiamax)

Os professores reivindicam um reajuste de 22,71%, em três parcelas anuais de 7,06% cada, começando em 2024, além de auxílios alimentação e creche. Em contrapartida, o Governo propôs 9,0% em janeiro de 2025 e 3,5% em maio de 2026, mas com reajuste zero em 2024. Por maioria, os docentes rejeitaram a proposta.

Desde o início da greve, o Governo Federal se reuniu diversas vezes com os docentes para debater as reivindicações da categoria. Apesar dos avanços, o Andes (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior) reforça que as propostas estão aquém das necessidades reais da categoria.

“O governo insiste em manter os 0% para 2024, não acata a solicitação de reajuste linear da contraproposta do CNG do ANDES-SN para o conjunto de nossa categoria, e desconsidera as reivindicações dos aposentados”, destaca a nota do Andes.

Conforme o Andes, desde a deflagração da greve, o movimento conquistou as seguintes reivindicações:
  • Recomposição parcial do orçamento das instituições federais;
  • Conquista de 5.600 bolsas permanência para estudantes indígenas e quilombolas;
  • Implementação do reajuste de benefícios (auxílio-alimentação, auxílio-saúde suplementar e auxílio-creche), apesar de ainda não haver equiparação com os benefícios dos demais poderes;
  • Início da Mesa Setorial Permanente de Negociação do MEC;
  • Elevação do reajuste linear oferecido até 2026 de 9,2% para 12,8%, sendo 9% em janeiro de 2025 e 3,5% em maio de 2026;
  • Elevação dos steps de 4,0% para 5,0% até 2026 (com exceção de Adjunto/DI e DIII-I, que passam de 5% para 6% até 2026);
  • Elevação do valor salarial para ingressantes na carreira docente (MS e EBTT);
  • Proposta de revisão da IN nº 66/2022;
  • Revogação da Portaria nº 983/2020;
  • Isonomia entre docentes da carreira EBTT e do Magistério Superior no que tange ao controle de frequência, com a alteração do Decreto nº 1590/1996;
  • Suspensão de recursos judiciais pelo MEC frente a decisões que conferiram o RSC para aposentados;
  • Retomada da participação de entidades sindicais no Conselho Permanente de RSC.

Essas conquistas representam passos importantes, mas ainda insuficientes para atender plenamente às necessidades das instituições e dos docentes, segundo o Andes.

Incremento de R$ 5,5 bilhões

Após diversos protestos e reivindicações, o MEC (Ministério da Educação) anunciou o incremento de R$ 5,5 bilhões no orçamento da Educação Federal. O montante, anunciado em 10 de maio pelo ministro Camilo Santana, será dividido entre universidades, institutos federais, cefets e hospitais universitários federais até 2026.

Vale lembrar que, em maio de 2024, o MEC já tinha feito uma recomposição do corte realizado no orçamento, no valor de R$ 347 milhões, sendo R$ 242 milhões para as universidades e R$ 105 milhões para os institutos federais. Agora haverá nova ampliação do orçamento, na ordem de R$ 400 milhões, para custeio de despesas das IFEs, sendo R$ 279,2 mi para universidades e R$ 120,7 mi para institutos federais.

Em contrapartida, o Andes defende que a recomposição de R$ 747 milhões – sendo R$ 347 milhões instituídos em 10 de maio e R$ 400 milhões anunciados em 10 de junho – não se aproxima dos R$ 2,5 bilhões reivindicados inicialmente para as universidades e dos R$ 1,5 bilhões necessários para a educação básica, técnica e tecnológica, fundamentais não apenas para recompor o orçamento, mas também para garantir investimentos nas instituições de ensino federal.

Mais de 20 mil alunos afetados

UFMS Campo Grande
UFMS Campo Grande (Arquivo, Midiamax)

A greve dos servidores federais da UFMS alcançou uma adesão de 65% dos docentes em todo o Estado. Com isso, apenas 35% dos professores mantêm o cronograma de aulas. Em Mato Grosso do Sul, são 25 mil estudantes matriculados em 138 cursos da UFMS.

Vale lembrar que a paralisação das aulas depende de cada curso e os docentes não tem obrigação de aderir à greve, por isso nem todos os estudantes foram afetados pela greve.

Além disso, o reitor Marcelo Turine criou um grupo de trabalho para tratar dos impactos da greve dos professores na UFMS, assim como realizado com o movimento de greve dos servidores técnico-administrativos.

💬 Receba notícias antes de todo mundo

Seja o primeiro a saber de tudo o que acontece nas cidades de Mato Grosso do Sul. São notícias em tempo real com informações detalhadas dos casos policiais, tempo em MS, trânsito, vagas de emprego e concursos, direitos do consumidor. Além disso, você fica por dentro das últimas novidades sobre política, transparência e escândalos.
📢 Participe da nossa comunidade no WhatsApp e acompanhe a cobertura jornalística mais completa e mais rápida de Mato Grosso do Sul.