Afastamento do trabalho por dor lombar e disco aumenta 37% em Mato Grosso do Sul

Misto de ansiedade e depressão também lideram motivos de afastamentos do posto de trabalho

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dor lombar
Dor na lombar afastou mais trabalhadores do expediente (Ilustrativa, Freepik)

Mato Grosso do Sul registrou no ano passado 44.847 afastamentos temporários do posto de trabalho por doenças, síndromes e ferimentos. A dor lombar, principalmente decorrente de problemas de hérnia de disco nessa região, lideram o ranking dos principais motivos para solicitações da concessão por incapacidade ao Ministério da Previdência Social em 2023.

Comparando os dados do ano passado ao anterior, o aumento corresponde a 37,25%, saindo de 507 para 899 casos de dor na lombar. A lista indica que as doenças mais recorrentes são osteoarticulares, como o transtorno de disco, hérnia, lesões no ombro, tendinite e lesões no punho.

O médico Alexandre de Abreu Lima, presidente da ASMET-MS (Associação dos Médicos do Trabalho de Mato Grosso do Sul), explica que tais distúrbios osteoarticulares e osteomusculares são motivados por condições ergonômicas do trabalho, genética, sedentarismo, obesidade ou vícios, como o tabagismo.

“A gente usa sete perguntas para conseguir identificar se isso está ligado com o trabalho ou não. Em relação ao trabalho, são as questões ergonômicas, então, as empresas devem fazer um programa de controle médico de saúde ocupacional. A gente faz um levantamento dos riscos, inclusive, de riscos ergonômicos. O Governo Federal trouxe o e-Social para obrigar as pessoas ou as empresas a fazerem essas análises para a gente levantar condições ergonômicas para o trabalhador desempenhar sua função”.

Ou seja, apesar de não estar relacionado ao acometimento apenas dentro do local de trabalho, a doença tem fator de risco que indica questões para se considerar durante o expediente, a maneira como se senta, os equipamentos ou ferramentas do serviço, por exemplo, a mesa e cadeira. Os movimentos repetitivos e uso de EPI (Equipamento de Proteção Individual), como a cinta, usados diariamente, também estão relacionados ao surgimento das síndromes.

“Nas questões de ergonomia na empresa, você deve estar sentado a uma mesa de 70 centímetros de altura, apoio de pé que o seu joelho fique a 90° e com o pé apoiado para não contar a circulação. Será que a sua cadeira tem apoio de lombar aprovada nas normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas)? As empresas também devem ter condições para diminuir um dos fatores de risco, que seria a ergonomia”.

Lima ainda reforça que as empresas podem investir na “análise ergonômica” para medições ideais na condição de trabalho, assim, evitando que tais lesões tenham ligação com as atividades no local de serviço ou dos multifatores influenciáveis.

“Falta fiscalização do Ministério do Trabalho para ver se as condições que o funcionário está trabalhando estão adequadas com medidas ergonômicas. A empresa consegue ficar tranquila buscando uma empresa de medicina e segurança do trabalho [para] fazer os programas anuais, como o gerenciamento de risco e o PCM (Programa Controle Médico) de saúde ocupacional. Os órgãos fiscalizadores não têm quantidade suficiente de pessoas para investigar. Porém, se as empresas fizerem os programas e solicitar análises, a gente consegue identificar o risco e atuar na prevenção”.

O que é a hérnia de disco?

Eduardo Migliole Facciolo, ortopedista cirurgião da coluna vertebral, explica que a hérnia de disco é o deslocamento do conteúdo ou de algum fragmento do disco intervertebral. A coluna vertebral é composta de ossos individuais, vértebras e discos intervertebrais, que são discos de cartilagem, que ficam entre as vértebras. A função dos discos intervertebrais é apoiar a coluna e atuar como amortecedores entre essas vértebras.

Normalmente, existem 23 discos na coluna vertebral humana. Cada disco é composto por três componentes: o núcleo pulposo – a parte interna do disco em forma de gel, que confere a coluna flexibilidade e força; o ânulo fibroso, camada externa resistente que circunda o núcleo pulposo; e as placas terminais vertebrais, camadas de cartilagem que ficam entre o disco e suas vértebras adjacentes.

“Quando tem uma hérnia de disco, o ânulo fibroso é rascado ou rompido, e esse dano permite que parte do núcleo pulposo extravase ou algum fragmento do próprio ânulo se desloque para o canal medular. Em algumas situações, o material da hérnia pode comprimir a medula ou pressionar o nervo, causando dor e podendo afetar a sensibilidade e a movimentação dos membros. A cada ano, as hérnias de disco afetam cerca de 5 a 20 pessoas de cada mil indivíduos, entre idades de 20 a 49 anos. Um disco herniado pode ocorrer em qualquer lugar da coluna. Os lugares mais comuns são a lombar e a cervical. Seus sintomas variam conforme a região acometida”.

O Dr. ainda revela que as causas das hérnias de disco acontecem pelo enfraquecimento e desgaste do disco, degenerativo ou por uma causa traumática. A degenerativa é a mais comum e pode se dar pelo envelhecimento natural da coluna vertebral que tem sido observado em pacientes adultos de menor idade. Fatores como má postura, sedentarismo, tabagismo, exposição ocupacional e carga genética influenciam no surgimento da condição.

“Os sintomas das hérnias de disco podem ser locais, ou seja, na própria coluna vertebral, cervical, torácica, lombar, ou irradiadas para membros, como causa de compressão das estruturas neurológicas, medula ou raízes nervosas. Os principais sintomas são dores, dormência, formigamento na coluna e/ou extremidades, piora com movimentação da coluna e pode estar presente perda de força e/ou sensibilidade na extremidade afetada”.

Para a prevenção da hérnia de disco é importante ter uma musculatura e uma coluna vertebral alongada e fortalecida, então evitar levantamento de peso excessivo do chão com joelhos esticados, cuidados com a postura, tomar bastante água, fazer atividades físicas visando alongamento e fortalecimento muscular e evitar os movimentos repetitivos na coluna.

PosiçãoDoençaNúmero de casos
1Dor lombar baixa899
2Transtorno de disco lombar877
3Transtorno misto ansioso e depressivo745
4Lesões no ombro706
5Fratura da extremidade distal do rádio682
6Lumbago (dor lombar)647
7Colelotiase600
8Trastorno de discos invertebrais583
9Episódios depressivos graves575
10Fratura da clavícula489
11Dorsalgia480
12Transtorno depressivo grave recorrente449
Dados: Ministério da Previdência Social.

Transtornos mentais

De acordo com a lista das motivações mais frequentes para afastamentos temporários, as doenças mentais também acometam 6,08% a mais de trabalhados em 2023, saindo de 542 transtornos depressivos e de ansiedade em 2022 para 745. Já os motivados por episódios depressivos graves subiu de 378 para 575.

“Tem crescido muito. São doenças de desordem psiquiátrica, o burnout, ansiedade, depressão (…) que também é uma condição multifatorial, associado a alguns postos de trabalho que existe uma cobrança maior, mas isso também está associado a condições externas, como de preocupações em casa, cobrança no trabalho, endividamento do brasileiro, isso tudo tem contribuído para desordens psiquiátricas”, finaliza Dr. Lima.

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