Sofá, pedaços de madeira e incontáveis sacolas de lixo são encontrados em todo prolongamento da Avenida Ernesto Geisel até a Thyrson de Almeida, em Campo Grande. Moradores e comerciantes lidam com o problema crônico de dois jeitos: acostumando-se ou tirando dinheiro do próprio bolso para limpar o lixo.

Josafá Bezerra de Brito escolheu a segunda opção. Há 11 meses, ele apostou na região para abrir a loja de petshop – em parte, pelo bom relacionamento com vizinhos, o que ajuda a tirar a imagem do bairro de “perigoso”. Segundo Brito, o problema ali mora na falta de educação.

“Há alguns dias despejaram alguma carga de açougue no córrego, tinha osso, pedaço de carne. A carniça estava incomodando demais. Eu e a vizinha pagamos um rapaz que teve a coragem de descer e retirar. O mau-cheiro estava insuportável. Quando chove, então, o esgoto estoura e cai no córrego. Daí junta o lixo e fica um caos”, descreve o empresário.

A situação é incômoda até para clientes, como relembra Maria de Lourdes, dona de uma loja de peças para moto. “O cliente levantou e disse: depois eu volto. Foi embora por causa do cheiro”.

entulho
Entulho em um trecho da avenida (Henrique Arakaki, Midiamax)

Tirou do próprio bolso

Desembolsando para limpeza, Maria de Lourdes detalha que o comércio fica menos atrativo diante do cenário sujo. Recentemente, teve que pagar um prestador de serviço para roçar e retirar o acúmulo de lixo nas margens entre o córrego e a avenida.

“Moradores de rua pegam o lixo exposto na frente, jogam o lixo no córrego para ficar apenas com o saco. Temos que limpar duas vezes para tentar manter. É muito complicado conviver, o mau cheiro nos dá dor de cabeça, passamos mal”.

Thiago Lucas Gamarra tem um brechó na vizinhança e precisa mudar a rotina quando observa fumaça nas proximidades dos entulhos. “Moradores de rua colocam fogo em fiação elétrica, o cheiro é forte, mas para mim é péssimo porque pega nas roupas. A prefeitura fez a limpeza, mas jogam lixo de novo. No trecho do meu comércio é menos, tem muito próximo ao [Parque] Ayrton Sena”.

Barranco na avenida acumula lixo (Henrique Arakaki, Midiamax)

Insalubridade

De ponta a ponta e dos dois lados da avenida, é possível notar amontoados. Em um trecho, próximo ao Hospital do Amor, há entulho com odor forte. Teodozio Moraes, de 51 anos, relata que se mudou há 30 anos para a região do Aero Rancho, na época tinha barracos nos barrancos do córrego.

Apesar de acostumado com a situação rotineira, Teodozio não deixa de se incomodar com o abandono. “Aqui é um bom bairro para viver, tem hospital, mercado, feira e o parque perto, mas os imóveis são desvalorizados por isso. Quando anuncia imóvel é no Aero Rancho tem gente que fala ‘é favela, não vale o valor’. Aqui tem asfalto, saneamento e boa vizinhança. Quando me mudei era tudo mato”.

Limpeza

A Solurb disse que realiza apenas a roçada dos canteiros da Avenida Ernesto Geisel, eventuais limpezas de entulhos e barracos do local é realizado pela Sisep (Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos).

A Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano) diz que descarte irregular é crime ambiental, portanto, deve ser denunciado. O morador que presenciar ou notar rotineiramente o descarte irregular de resíduos nas margens dos córregos, pode formalizar denúncias de imediato à Patrulha Ambiental da Guarda Civil Metropolitana via telefone 153 e, quando for possível identificar os infratores, que as denúncias sejam direcionadas à Semadur por meio da central de atendimento 156.

“A responsabilidade da disposição final dos resíduos é do seu gerador. A Prefeitura tem atuado no sentido de coibir tais práticas, realizando diariamente fiscalizações em todas as regiões.
A Secretaria salienta, ainda, que a região do Rio Anhanduí tem sido monitorada pela fiscalização visando coibir tal ação”.

De acordo com o Código de Polícia Administrativa, Lei 2909/92, do município de Campo Grande. As multas podem variar entre R$ 2.727,50 e R$ 10.910,00.