Pesquisa diz que 61% das pessoas fuçam celular do parceiro e campo-grandense admite: “foi patético”
Levantamento ainda apontou que 41% dos entrevistados bisbilhotaram sem permissão
Thalya Godoy –
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Uma pesquisa da empresa Avast, do setor de segurança digital, mostra que 61% dos entrevistados acessaram o celular do companheiro, sendo 41% sem permissão.
Entre os principais motivos entre os mil brasileiros que participaram do levantamento estão suspeitas de traição, curiosidade e até para instalar aplicativos sem conhecimento do dono do telefone.
Uma moradora de Campo Grande, que preferiu não se identificar, relembra que nos primeiros meses de relacionamento era comum que os dois compartilhassem as senhas um com o outro.
No caso dela, tinha o hábito de monitorar o celular do namorado por desconfianças e pelas próprias inseguranças depois que sofreu traições em relacionamentos anteriores. Com frequência, ela checava o Google Maps, aplicativos de mensagens e a galeria de fotos.
A pesquisa da Avast indica que as galerias de fotos e vídeos foram os mais acessados (49%), seguidos por aplicativos de mensagens de texto ou apps de mensagens similares (39%), e por aplicativos de redes sociais como Facebook ou Instagram (37%).
Um quarto dos entrevistados admitiu ter brigado sobre algo descoberto no telefone do parceiro e 16% entre os que bisbilhotaram os telefones encontraram evidências de que o parceiro escondia algo.
Depois de vasculhar e não encontrar nada, a campo-grandense até chegou a “clonar” o WhatsApp escondido para ter acesso às mensagens em tempo real.
“Foi patético. De início, ele não se importava, porque o que eu tinha de ciúmes, ele não tinha nada, mas as brigas se desencadearam pelo transtorno que eu causava comiga mesmo, frustrava as expectativas de confiança e relacionamento saudável”, se recorda.
Ela conta que só conseguiu diminuir o hábito nocivo quando a confiança no relacionamento aumentou depois que se casaram e de muitas sessões de terapia.
“Hoje em dia eu realmente não aconselho a desdobrar seu tempo para cuidar muito mais da vida do outro do que da sua. Para se ter uma ideia, quando eu vasculhava e não achava nada, culpava ele por acreditar que estava escondendo ou apagando mensagens. Olha o grau de paranoia?”, questiona a mulher.
Em qual ponto o ciúme se torna tóxico?
A pesquisa da Avast também indica que 69% dos brasileiros que verificaram o telefone do parceiro admitem que não têm direito de acessar o dispositivo sem permissão.
Dos 41% dos entrevistados que espionaram o celular do companheiro sem autorização, a maioria são mulheres (45%) na comparação com os homens (36%).
Outra campo-grandense conta que, desde a época de namoro com o atual marido, tinha o hábito de olhar escondido o celular do companheiro para bisbilhotar as mensagens no Facebook, WhatsApp e Instagram. Assim como a outra mulher que abriu essa reportagem, ela tinha traumas de confiança devido a relacionamentos anteriores que terminaram em traições.
“Eu ia questionar e aí ele [ex-namorado] sempre dizia que eu era doida, que era mentira, que eu estava inventando, que eu não estava entendendo a situação. Aí isso isso me deixava insegura, né? E aí, claro que o relacionamento acabava e meus próximos relacionamentos eu achava que ia ser do mesmo jeito”, ela lamenta.
A mulher relata que depois do casamento a confiança melhorou e que hoje não olha o celular do companheiro como antigamente, apesar dos dois ainda saberem a senha um do outro. “Hoje a gente já tem uma intimidade maior, já tem uma confiança e aí eu não olho mais escondida. Eu tenho o meu Instagram logado no aparelho dele e o dele no meu, mas não por desconfiança, eu acho que foi acontecendo”, admite.
A psicóloga e professora na Anhanguera Campo Grande, Flávia Milanez, explica que o ciúme começa a ficar preocupante quando invade a privacidade individual e chega ao nível de gerar brigas e violências físicas e psicológicas, o que leva à destruição da confiança entre o casal.
“Chegar no nível de olhar os pertences individuais, como celular, pode significar que a confiança e cumplicidade entre o casal já está comprometida, pois é uma atitude que invade a individualidade, já não tendo mais uma construção saudável na relação”, explica a profissional.
A psicóloga acrescenta que o ciúme faz parte da história individual de cada ser humano desde a infância e que, Sigmund Freud, o pai da psicanálise, relaciona o sentimento com o medo da perda e abandono. Porém, o ciúme pode tornar-se patológico e atingir um nível não saudável e preocupante.
Para trabalhar a confiança no relacionamento, Flávia Milanez recomenda que os dois busquem se conhecer melhor. O conselho é que os casais conversem sobre os limites, sentimentos e seguranças de cada um para que possam chegar a um consenso sobre o que funciona na relação. Essa é uma forma de respeitar a individualidade de maneira saudável para ambos.
“O segundo ponto importante é procurar um acompanhamento profissional da psicologia, tanto individual quanto de casal”, ela recomenda.
Questionada sobre a quantidade de registros de boletim de ocorrência sobre invasão de privacidade entre casais em Mato Grosso do Sul, a Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública) informou que não tem dados específicos sobre o tema.
Invasão de privacidade é crime
O direito à privacidade é garantido a todos os brasileiros pela Constituição Federal, de 1988.
No quinto artigo da CF é previsto que “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”, diz o texto.
Desde a Lei Carolina Dieckmann, de 2012, é proibido invadir, bisbilhotar e publicar conteúdo de dispositivos conectados ou não à internet alheio sem autorização do dono. A lei prevê multa e reclusão de três meses a dois anos.
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