Na favela, ar-condicionado é item de luxo e famílias ‘se viram’ como podem em onda de calor

Moradores usam sombra, tereré e evitam ficar dentro de casa para enfrentar calor extremo

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Fabiana mora com nove pessoas em barraco na Favela do Mandela. (Foto: Alicce Rodrigues, Jornal Midiamax)

No lugar onde ter o que comer é prioridade, ar-condicionado e climatizador são luxos que nem entram na pauta de discussões e desejos. Entre os barracos espremidos das favelas de Campo Grande, a maioria com pouco mais de dois metros de altura, o efeito do sol forte fica tão evidente que permanecer dentro de casa é praticamente impossível durante o dia. Diante da onda de calor instalada em Mato Grosso do Sul, o jeito para esses moradores é ‘se virar’ como pode e torcer para que a chuva chegue para refrescar os dias. 

“Eu molho o chão de contrapiso para tentar dar uma amenizada, mas está quente demais. A gente não consegue ficar dentro de casa, tem que sair para a varanda ou procurar alguma sombra de árvore”, comenta Devanilson da Silva Dorvino, de 42 anos, que há 7 mora na Favela do Mandela, na região norte de Campo Grande. 

Segundo ele, muitos moradores, inclusive crianças, se arriscam e tomam banho em um córrego que passa na região, tudo para tentar reduzir os efeitos do ‘calorão’. “O pessoal vai para cima, mais perto da nascente onde a água é menos suja”, revela.

Na comunidade, a prioridade é buscar maneiras de se manter em meio a falta de recursos. Sem dinheiro para piscina ou passeios refrescantes, o desejo mesmo é de que a chuva finalmente chegue e amenize as altas temperaturas. “Enquanto não vier a chuva para acabar com esse mormaço, a coisa vai ser difícil, fora as doenças que aparecem com esse tempo”, finaliza. 

De acordo com o Cemtec (Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima), ontem (25) Campo Grande registrou temperatura de 36,7°C com umidade do ar na casa de 28%. Nesta terça-feira (26), a Capital está sob alerta de onda de calor emitido pelo Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia). O grau de perigo é elevado e os termômetros podem atingir 38°C. 

“Nunca vi um calor desse jeito e para a gente é muito difícil porque já acorda no meio do mormaço. Ontem no final da tarde me bateu um mal estar, fiquei com o corpo ruim e tive de sentar para respirar”, comenta a dona de casa Fabiana Cezar, de 39 anos. Há sete anos, ela e outras nove pessoas vivem na Favela do Mandela e dividem pequeno barraco construído com pedaços de madeira, telha e lona.

Para tentar driblar o calor, tereré, água e sombra são aliados da família. “A gente não tem muito para onde correr, é sair de dentro de casa, sentar embaixo de uma árvore e tomar um tereré”, finaliza.

Onda de calor

Cidades de Mato Grosso do Sul permanecem entre as mais quentes e secas do Brasil nas últimas 24 horas, segundo o monitoramento do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) divulgado nesta terça-feira (26). Além do calor extremo que chegou aos 42,9°C em Porto Murtinho, a umidade relativa do ar também bateu recordes em Rio Brilhante, que é a segunda cidade mais seca do País com o índice em 9%.

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Imagem ilustrativa (Nathalia Alcântara, Midiamax)

Porto Murtinho ocupou o segundo lugar no ranking nacional de maior temperatura. Nesta segunda-feira (25), o município alcançou máxima de 42,9°C. Três Lagoas marcou calorão de 42°C, ficando na 6ª posição nacional das 20 cidades mais quentes. Paranaíba e Água Clara também estão listadas por marcar calor de 41,6°C.

Cemtec (Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima) indica que 15 cidades do Estado ultrapassaram 40°C na segunda-feira, entretanto, todas as regiões marcaram altas temperaturas acima de 35°C. A umidade relativa do ar variou de 9 a 35%.

O monitoramento aponta que Porto Murtinho enfrenta situação crítica, com calor e umidade do ar em 15%. Três Lagoas registrou umidade em 16% e Água Clara 23%, ambas cidades listadas entre as mais quentes e secas do país.

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