Longe do asfalto, moradores vivem drama para sair de casa em Campo Grande: ‘Já tomei vários tombos’
Chuvas abrem crateras e ruas sem asfalto ficam com desníveis e pedras, causando transtornos aos moradores
Monique Faria –
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Além de conviver com lama e poeira diariamente, quem mora em ruas de terra em Campo Grande também sofre em dias de chuva. Isso porque, o período chuvoso deixa as vias repletas de crateras, que criam verdadeiros empecilhos para quem precisa sair de casa. A situação é ainda mais complicada para idosos, cadeirantes, quem sai com carrinho de bebê e quem utiliza bicicleta.
A rua Vicentina Coelho Neto, no bairro Vivendas do Parque, por exemplo, é coberta de pedras e desníveis que prejudicam a passagem. O servente de pedreiro, João Batista, 57 anos, precisa empurrar a bicicleta para andar pelo local. “Já tomei vários tombos, é o pneu que entorta o aro, câmara que fura”, reclama o morador.
Segundo João Batista, em períodos de chuva a situação se complica. “Eu sou evangélico. Esses dias nem pude ir [à igreja] porque choveu tanto que atravessou para o outro lado a enxurrada. Como eu ia passar?”, questiona.
Maria Aparecida dos Santos Lima, 51 anos, reside na mesma rua há dois anos, e também reclama das enxurradas. “Como essa rua é descida, quando chove vira valeta essa rua”, afirma a empregada doméstica.
No bairro Noroeste, a falta de asfalto também causa transtornos aos moradores. Na rua Acuri, as poças de água que se formam quando chove são motivos de preocupação para os vizinhos. O aposentado, Joaquim Soares da Silva, 66 anos, afirma já ter tirado dinheiro do próprio bolso para arrumar um pedaço da rua. “A gente liga para a prefeitura, para arrumar a rua, mas ninguém vem. Já cansei de tirar do meu bolso e pagar para passar a máquina aí”, comenta.
O comércio também sai prejudicado na falta de pavimentação. Na rua da Conquista, a funcionária da conveniência, Léia Gonçalves Cardoso, 31 anos, afirma ter muita dificuldade para receber produtos de fornecedores. “Tem dificuldade na entrega de produtos e quebra de veículos”, afirma.
A reportagem do Midiamax esteve no Jardim Noroeste, em outubro de 2022, para noticiar enxurradas em ruas sem asfalto. No cruzamento das rua Indianápolis e Almeida, a situação também é de descontentamento entre os moradores, e segue sem solução até o momento.
‘Nem cascalho eles passam mais’, reclamam moradores
No Santa Emília, a situação é tão precária quanto nos outros bairros já citados na reportagem. Moradores da Rua Coronel Adauto Barbosa, no Bairro Santa Emília, em Campo Grande, sofrem com a falta do asfalto e reclamam que nem a manutenção básica a via está recebendo da prefeitura.
Lucimar Pereira da Silva, de 56 anos, mora há 40 anos no bairro e passa pelos problemas na pele. “É assim para pior. Quando chove [a água] vem até a beira da calçada. É horrível; não para nada limpo”, conta.
“Nem cascalho eles passam mais, só passam a patrola. Antigamente ainda cascalhavam. Quando chove você tem que atravessar um rio para sair”, reclama.
Há mais de 30 anos morando no Santa Emília, a diarista Izolete da Silva, de 55 anos, também sofre com a enxurrada durante as chuvas. “Pior é quando chove. Parece que água do Santa Emília desce todinha nessa rua; é a pior do bairro. Fica alagada de fora a fora”, relata.
’30 anos e nada mudou’, afirma quem mora no Jardim Colúmbia
Afastado, os moradores do Jardim Colúmbia reclamam da falta de atenção do poder público com a região que, mesmo por ser isolada, não seria motivo para abandono.
James mora na Rua Nhamunda, a 50 metros da esquina com a Rua Uraná, que recebeu asfalto e o restante das ruas isoladas ficaram para trás. “Já fizemos abaixo-assinado para asfaltar, pedimos melhorias, mas nada adianta. Eles [Prefeitura] só vem, joga um entulho e vão embora. Falo entulho porque isso não é cascalho o que jogaram aqui, pura pedra pontuda, capaz de rasgar pneu dos carros”, disse.
A reportagem até tentou avançar por mais metros na rua, mas a via é uma armadilha. O morador comenta que uma empresa que fica na região industrial do bairro chegou a pedir para que o restante da Rua Nhamunda fosse asfaltada, mas até hoje nada foi feito.
Mais de um terço das ruas sem asfalto em Campo Grande
Dos mais de 3 mil quilômetros de vias públicas de Campo Grande, mais de 1 mil ainda permanecem sem asfalto. Enquanto isso, moradores de todas as regiões da Capital sofrem com lama, enxurrada e buracos.
Os dados são da Sisep (Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos) e foram informados ao Jornal Midiamax por força da Lei de Acesso à Informação. São 3.071,87 km pavimentados e 1.037,98 de vias de terra.
Entre as sete regiões urbanas, apenas uma é totalmente asfaltada.
Falta de transparência em Operação Tapa-buracos
Com a trégua das chuvas, ações para recuperação de vias em Campo Grande já estão em andamento. A previsão é de que pelo menos 25 bairros recebam a intervenção de tapa-buraco nesta semana.
Entretanto, o Jornal Midiamax solicitou à prefeitura de Campo Grande a relação de bairros e ruas que vão receber o serviço, mas não obteve as informações. Em nota, a assessoria da prefeitura apenas enviou um link, afirmando ser possível consultar todas as ações da secretaria de obras. Porém, a reportagem não conseguiu acessar os dados referentes à operação tapa-buracos anunciada pelo município. Em novo questionamento, a assessoria da prefeitura limitou-se a responder com o link que não traz informações claras novamente.
Em release publicado no site oficial, a prefeitura afirma que a operação tapa-buracos deve durar quatro meses e chegar em todas as regiões de Campo Grande, sem informar especificamente os bairros ou o valor da ação.
De acordo com a Sisep (Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos), junto com a operação, está sendo feito o cadastro de drenagem, um sistema que vai permitir a simulação dos locais de alagamento, direcionando as prioridades nos projetos de infraestrutura.
O Jornal Midiamax também entrou em contato com o secretário de obras de Campo Grande, Domingos Sahib Neto, para questionar sobre a previsão de pavimentação nos bairros Jardim Noroeste e Vivendas do Parque, mas não obteve respostas. O canal segue aberto para manifestação.
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