Já teve curiosidade? Confira como é o trabalho dos mergulhadores do Bioparque Pantanal
Bioparque conta com quatro mergulhadores que fazem manutenção dos tanques que abrigam diferentes espécies
Thalya Godoy –
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Quem visita o Bioparque Pantanal, em Campo Grande, se deslumbra com as imagens translúcidas dos tanques e aquários que abrigam dezenas de espécies e milhares de litros de água.
Para alguns sortudos, às vezes é possível acompanhar ao vivo o trabalho dos mergulhadores que são responsáveis pela manutenção e garantem a limpeza desses espaços.
Mas como é feita a limpeza dos 31 aquários que estão em exposição ao público? O Midiamax foi em busca de descobrir as curiosidades sobre esse trabalho, que exigem experiência e preparo.
O primeiro ponto a ser ressaltado é que o trabalho de limpeza é feito por quatro profissionais capacitados em diferentes áreas de formação, como biólogos e aquaristas.
Os mergulhadores possuem anos de prática em mergulho e toda vez que descem em algum aquário contam com um colega na parte de fora do tanque para dar suporte, caso aconteça um imprevisto.
A limpeza em cada tanque exige tempo e trabalhos diferentes, a depender da especificidade do aquário, como mergulhos rasos ou com alguns metros de profundidade.
Por exemplo, no tanque com peixes da Europa, em que a temperatura varia entre 18°C e 20°C o ano inteiro, são usadas três camadas de roupa de material neoprene para garantir o conforto térmico do mergulhador.
Já no aquário com peixes amazônicos, que precisam de temperaturas elevadas, o serviço não exige tantas camadas de vestimenta.
Se o espaço é pequeno, a manutenção é finalizada no mesmo dia. Caso seja maior, como é o caso dos tanques externos, a limpeza pode levar até dois dias para ser concluída. Cada mergulhador pode ficar até quatro horas por dia dentro da água.
Como é feita a limpeza dos tanques do Bioparque Pantanal?
Um leitor compartilhou com o Midiamax o vídeo de um mergulhador fazendo a limpeza de um dos tanques durante a frente fria em meados de junho, quando os termômetros marcavam 12°C, o que despertou a curiosidade sobre como é feita a limpeza em dias de baixa temperatura.
Conforme explica a diretora-geral do Bioparque Pantanal, Maria Fernanda Balestieri Mariano de Souza, o complexo possui um sistema que monitora o dia inteiro a situação em cada tanque, para assegurar que os animais tenham a temperatura adequada com o uso de aquecedores ou resfriadores, a depender da necessidade.
Também há um planejamento de manutenção, que considera até mesmo a previsão do tempo para garantir conforto aos animais e aos mergulhadores.
“A nossa preocupação com os mergulhadores nessa época de frio é que a água já está gelada e a temperatura é baixa, então é frio com frio. Então, a gente diminui a quantidade de dias de manutenção porque tem todo um um procedimento que a gente faz que analisa a necessidade desse mergulhador estar lá”, explica a diretora.
Como exemplo, Maria Fernanda explica que o planejamento considera a previsão do tempo da semana seguinte. Caso os próximos dias sejam gelados, os animais recebem um preparo nutricional com a aplicação de imunoestimulantes para garantir a saúde, já que em dias de frio os peixes reduzem a alimentação para conservar energia.
Essa estratégia influencia no trabalho dos mergulhadores, visto que haverá redução de alimentos que se acumulam no fundo dos tanques. Os mergulhadores são responsáveis pelo sifonamento, limpeza dos acrílicos e da cenografia.
O sifonamento é a limpeza do fundo do aquário com um sugador para evitar proliferação de algas ou mudança no ecossistema depois que algumas partículas da alimentação do peixe descem para o fundo, escapando dos filtros do aquário.
“Esse trabalho é como se fosse um sugador mesmo em que eles ficam tirando os resíduos da areia ou do cenário. Tendo diminuição da alimentação, também há redução da partícula ali embaixo e no serviço do mergulhador”, explica a diretora.
Já na higiene dos acrílicos e da cenografia são usadas escovas, como as de lavar roupa, em que eles passam por todo espaço para garantir a limpeza.
Vocação
Andrei Klar, de 41 anos, mudou-se de Santos (SP) para Campo Grande há um ano e meio para trabalhar como mergulhador no Bioparque Pantanal.
Ele mergulha desde que tinha 14 anos e vê que o interesse pela área é uma vocação, já que ninguém da família de servidores públicos teve a mesma paixão.
Santos é uma cidade litorânea e Andrei acredita que a ida às praias pode ter despertado o gosto pelo mergulho.
“Eu sou aquarista, comecei a fazer engenharia de apicultura, mas parei. Eu mergulho desde 1999, 2000. Já trabalhei também no Oceanic em Balneário e já tive loja de aquário em Santos”, conta.
Aquarista é um profissional que tem experiência no manejo e manutenção de aquários, como é o caso de Andrei que está há mais de 20 anos na área.
Questionado sobre o tanque que seria mais difícil para a limpeza, Andrei avalia que cada um tem especificidades que exigem serviços diferentes. Para trabalhar, ele usa cilindro, roupa de neoprene, regulador e um colete flutuador.
“Varia bastante durante o ano, mas acredito que talvez seja o tanque externo que tem mais incidência de luz”, ele conta.
Medo de arraias e jacarés?
O tanque Neotrópico de 180º no circuito de visitação encanta os visitantes pela sensação de estar debaixo da água.
Entre as espécies do aquário que suporta 1,2 milhão de litros de água estão as arraias. É um animal que para algumas pessoas poderia ser fonte de medo no ambiente externo devido ao ferrão, mas dentro do Bioparque são tranquilas e até já estão acostumadas com a rotina.
De acordo com a diretora do espaço, Maria Fernanda, as arraias precisam receber alimentação na boca três vezes na semana porque não conseguem pegar o alimento que é despejado por cima, já que os pacus, com quem dividem o tanque, chegam antes que elas.
“É tão tranquilo que hoje na hora que eles descem é a coisa mais bonitinha, elas já estão mais ou menos acostumadas a saber que é hora da alimentação e ficam em volta e aí os mergulhadores dão a comida na boca mesmo”, ela explica.
E os jacarés nos oito tanques ao ar livre? Dão medo? A alimentação desses répteis é feita na parte externa para reduzir o trabalho de limpeza, visto que esses aquários são alguns que dão mais trabalho para manutenção devido ao tamanho e por estarem mais sujeitos às folhas e à poeira.
“Os jacarés na hora que descem eles não mexem. A alimentação é mais robusta e é feito todo um trabalho de chamar com um barulhinho para eles comerem ali na parte seca para aquela alimentação já não ir pro tanque”, afirma Maria Fernanda.
Curso de mergulho
Os mergulhadores do Bioparque são certificados com um curso de mergulho, com horas teóricas e práticas.
Na formação é ensinada a maneira correta de colocar o equipamento e como fazer um mergulho correto para o bem-estar dos profissionais e dos animais.
O Bioparque Pantanal conta atualmente com quatro mergulhadores para fazer a manutenção, mas a diretora afirma que a equipe de manejo, que cuida da alimentação e também já fez o curso de mergulho, também pode complementar o trabalho nos tanques.
“São equipes integradas, porém cada um tem suas particularidades. Mas a equipe de manejo também fez o curso de mergulho e, eventualmente, se precisar, eles podem dar um suporte”, conta.
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