O CMDDI (Conselho Municipal de Direitos e Defesa dos Povos Indígenas) realiza programação em homenagem a Mulheres Indígenas de Resistência de Lutas e as Mulheres Não Indígenas na Praça Takimore, na frente do Mercadão Municipal, nesta quarta-feira (8), em alusão ao Dia da Mulher. Durante cerimônia, participantes pediram melhorias na praça indígena à prefeita Adriane Lopes.
Além de homenagens, evento promoveu café da manhã e contou com a presença da prefeita, vereadores, secretários e representantes da comunidade indígena de Campo Grande.
Rute Boquibiqui atua há 18 anos como secretária executiva do CMDDI, criado em 2005 pela lei nº 4277. Ao Jornal Midiamax, ela ressaltou a importância de evidenciar as mulheres indígenas, especialmente as que se encontram longe das aldeias e vivem no perímetro urbano. Dessa forma, evento também serve como um pedido de melhorias para as indígenas que trabalham na praça em frente ao Mercadão.

“Campo Grande tem cerca de 20 mil indígenas e muitas mulheres que trabalham aqui [na feira] conseguiram formar seus filhos e netos. Por isso, elas pedem condições mais adequadas para permanecerem aqui”, ressalta.
A praça existe há 40 anos na cidade e é patrimônio tombado na cidade, por isso, qualquer reforma precisa passar por autorizações especiais. Dentre as reivindicações, ressaltam-se: troca de lonas para proteger as trabalhadores das condições climáticas, novos colchões e travesseiros para as que dormem no local.
Dilma da Silva Polidório, de 62 anos, vende seus produtos na feira indígena há 38 anos e construiu uma história no local. Ela vende feijão, quiabo e produtos naturais. “A mulheres sofrem no temporal porque aqui molha tudo, quando venta muito forte empurra tudo, não tem segurança”, ressalta.
Conquistas de anos
A Praça Indígena é um verdadeiro legado em Campo Grande, considerada também um dos principais pontos turísticos. No local, mulheres vendem milho, mandioca, abóbora, maxixe, cenoura, quiabo, remédios naturais e demais produtos artesanais ou provenientes da terra. A diversidade de produtos retrata a riqueza da cultura indígena na cidade.
“As mulheres trazem produtos das aldeias para trabalhar aqui. É uma luta de ano e as conquistas não são fáceis, elas precisam se autoafirmar como indígenas. Aqui também é um espaço onde se apoiam e encontram ali uma família. São 40 mulheres dividias em três quiosques”, pontua Rute.
Aguinaldo Terena, assessor técnico do CMDDI, também ressalta a importância das melhorias.
“Existem as mulheres que vêm das aldeias, que elas dormem ainda aqui e por essa razão o Conselho solicitou que pudesse fazer um dormitório para elas, fazer a mudança e diferença para essas mulheres”, afirma.
Regularização de estatuto
Dentre as melhorias requisitadas, a anciã indígena Vanda disse que a feira precisa ter seu estatuto regularizado. A prefeita Adriane Lopes, que esteve no local, garantiu que vai ouvir as solicitações para dar demais prosseguimentos.
“Empenho minhas palavras para regularizar esse lugar para que tenham segurança no encaminhamento e trabalho que realizam”, disse.

Em seguida, a prefeita homenageou as mulheres presentes e abordou sobre a importância de articulações para a inserção das mulheres no mercado de trabalho. Além disso, também comentou que haverá eleição para escolher a coordenação do CMDDI e reitera sobre a importância do cargo pertencer a uma mulher. Ela não deu detalhes sobre quando será a eleição.
Indígenas querem liderança feminina
O Conselho Municipal dos Direitos e Defesa dos Povos Indígenas de Campo Grande é um órgão de caráter deliberativo, que tem objetivo de promover políticas de apoio à Comunidade Indígena em Campo Grande. Além disso, atua para eliminar a discriminação e defender os interesses da comunidade.
Dessa forma, Rute Boquibiqui reforça que um dos trabalhos é garantir a presença de indígenas em vários espaços, como acontece na Deam (Delegacia Especializado de Atendimento à Mulher).
Por sua vez, a conselheira do CMDDI Silvana Dias de Souza explicou a importância do cargo de coordenação, uma vez que representante pode ser indicado pela prefeita ou entre os conselhos e caciques das aldeias de Campo Grande.

“Não é desmerecendo os homens, mas é importante ter uma mulher indígena nesse cargo. As mulheres estão se organizando e tem coisa para avançar no espaço”, pontua.
Respeito aos povos indígenas
A advogada Tatiana Azambuja Ujacow Martins foi uma das mulheres não indígenas homenageadas nesta manhã. Apoiadora da causa indígena, ela está envolvida a favor do movimento desde criança enquanto morava em Dourados. Por ver a situação das pessoas, se empenha em promover os direitos.

“É uma honra muito grande ser homenageada no Dia da Mulher junto com tantas mulheres indígenas de valores incontestáveis. Eu sempre viso que o protagonismo dos povos indígenas é deles. Nós, não indígenas, estamos ali para ajudar no que for preciso e não nos intrometer na cultura diferenciada”, explica.
À equipe de reportagem, Ujacow ainda conta que tem o sonho de ver a convivência harmônica entre os povos.
“Todos nós temos essa ligação, principalmente aqui no nosso Estado com a terra, mas eles mais que nós porque a terra para o indígena tem o valor espiritual, tem um valor maior, pra eles não tem intenção de negociar a terra, seria negociar seu próprio modo de ser”, conclui.
O mesmo é pontuado pela artista plástica Diana Molento, também não indígena. Ativista na causa feminina, o atual trabalho é focado em servir a comunidade indígena.
“Precisa sempre de muito apoio, então, eu estando presente, é uma forma de homenageá-los e eu estive presente no evento que eles fizeram de desfile Miss Indígena como jurada para contribuir da forma que eu puder”, explica.
Possível mudança de nome
Durante o evento, o vereador Ademir Santana disse que existe a chance da praça ter seu nome alterado. Originalmente em alusão à cultura japonesa, espaço é denominado como Praça Takimore. No entanto, é reconhecido pelo trabalho indígena.
“Existe a intenção de fazer audiência pública para mudar o nome da praça”, afirma. Porém, não há nada definido. Além de Santana, estiveram presentes a secretária da Sectur, Mara Bethânia Gurgel, vereadora Luiza Ribeiro, Funai e demais representantes.