Após o caso da criança com pneumonia atendida cinco vezes na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da Vila Almeida, famílias denunciam idas e vindas em unidades de saúde de Campo Grande por negligência e diagnósticos errados.

De acordo com relatos colhidos pela reportagem do Jornal Midiamax, crianças com suspeita de virose estariam sendo liberadas, sem exames ou receita médica, enquanto o quadro clínico piora.

A avó de uma criança de seis anos procurou a UPA Universitário no dia 25 de maio, por volta das 7h30, com febre alta. Ao meio-dia, a criança relatou fortes dores no peito e barriga. A mulher conta que houve troca de plantão e outra médica verificou a menina, por volta das 13h30, encaminhando a paciente para o raio-x.

“O primeiro médico disse que seria virose, quando uma médica enviada por Deus viu ela [criança] reclamando de dores nas costas. O rosto estava inchado. O exame mostrou que ela estava com pneumonia e tinha tomado o pulmão esquerdo. Hoje ela está melhor, estamos no Hospital Regional, ela com um dreno no pulmão”.

Raio-x da criança de seis anos, com posicionamento médico inicial de suspeita de dengue (Foto: Fala Povo / Midiamax)

Em outro caso, que também preferiu o anonimato, a mãe esteve do dia 17 a 20 de maio na UPA Leblon, com a filha de quatro anos. Ela alega que a menina foi diagnosticada com apendicite em uma unidade particular. Porém, antes, a criança estava com febre alta, diarreia e dor na barriga. A paciente teria emagrecido 5 kg em quatro dias.

“Cheguei a levar ela duas vezes num dia e nas duas médicas, manhã e noite, nem examinaram ela, só olharam e disseram que era virose. Relatei as dores que ela sentia na barriga e perguntei se poderia ser apendicite, a médica muito grosseira falou num tom alto, ‘apendicite não é porque ela não tem idade de ter apendicite não’. Ela receitou remédio para cólica e paracetamol. Minha filha só estava piorando, quando fui para médico particular constatou apendicite e o estado dela não era brincadeira. Ela foi encaminhada para Santa Casa e precisou passar por uma cirurgia de emergência”.

Em nota, a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) disse que irá apurar possíveis falhas nos atendimentos por parte das equipes de saúde nos referidos casos. “Contudo, reforçamos que as pacientes foram atendidas dentro do tempo protocolar, havendo a garantia da assistência à saúde das mesmas, onde foram feitos exames, clínicos e laboratoriais, que auxiliaram no diagnóstico das mesmas”, concluiu.

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UPA Universitário. (Foto: Ilustrativa/Sesau)

Criança vai parar na UTI após ir cinco vezes na UPA

O menino de 10 anos que esteve por cinco vezes na UPA da Vila Almeida com sintomas gripais, está internado no CTI (Centro de Terapia Intensiva) do Hospital Evangélico de Campo Grande, por pneumonia. A família informou nesta sexta-feira (2) que o estado de saúde do menino é grave.

Segundo a mãe, Flávia Camilo Amorim da Silva Pereira, ele está estável. “Graças a Deus a pressão melhorou, está urinando, os batidos melhor. A médica solicitou mais exames, exames de sangue e outros. O doutor que acompanhou ele primeiro ficou indignado com a situação”, disse.

Desde o dia 26 de maio, a família procurou a UPA por cinco dias diante das dores da criança, que apresentava tosse, dor no corpo e garganta e falta de ar. Foram receitados xaropes e antibiótico. Entretanto, diante do grave relato do filho, a mãe levou ele ao hospital, onde foi constatado o quadro clínico grave.

“Não fizeram nenhum raio-x nele. Eu pedi exame, pedi para receitar antibiótico, mas só passaram xarope pra ele”. O exame feito em hospital particular mostra que os pulmões estão comprometidos com uma pneumonia severa.

A mãe ainda reclama que não houve procura da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde). “Estamos reunindo todos os documentos e vamos procurar nossos direitos. O que aconteceu foi negligência”.

Sesau investiga caso

Confira na íntegra nota da prefeitura sobre o caso: “É importante ressaltar que na UPA, o atendimento é para casos de urgência e emergência, com o objetivo de estabilizar condições agudas e graves. No caso descrito, a criança apresentava sintomas respiratórios, mas o diagnóstico de pneumonia pode muitas vezes não ser evidente no início. Por isso é sempre recomendado ao paciente buscar o acompanhamento ambulatorial para casos crônicos ou com sintomas persistentes. No caso, o atendimento em uma unidade básica e de saúde da família, para que haja o devido acompanhamento e diagnóstico preciso. A pneumonia pode evoluir rapidamente, exigindo internação hospitalar para tratamento adequado, como aconteceu”.

“A prescrição de medicamentos ou realização do exame é de autonomia do profissional médico que pode verificar a necessidade ou não de adotar tal conduta, diante do quadro apresentado. O serviço de Raio-X da UPA Vila Almeida está sendo realizado na UERD, em razão da reforma da unidade. Portanto, o mesmo encontra-se disponível aos pacientes. Cabe ressaltar que a Secretaria Municipal de Saúde (Sesau) tem realizado diversas capacitações aos seus profissionais, visando dar uma assistência mais adequada aos pacientes. De todo modo, será aberto um procedimento interno para apurar as circunstâncias em que se deu o atendimento e a Sesau se coloca à disposição da família para eventuais esclarecimentos”.

*Atualizada às 15h01 para acréscimo de posicionamento da Sesau