Em 22 de setembro é celebrado o “Dia Mundial Sem Carro”, a data foi criada para provocar uma reflexão sobre o uso excessivo de automóveis. No entanto, com quase um veículo para cada habitante, Campo Grande está distante do ideal de sustentabilidade. Até mesmo aqueles que não possuem veículo próprio aspiram pelo dia que não precisarão mais depender do transporte público.

Nas ruas de Campo Grande, a resposta de quem depende do transporte público é sempre a mesma, se pudessem nunca mais usariam o ônibus.

“Uso o ônibus diariamente, tanto para lazer quanto para ir e voltar do trabalho. Os problemas são inúmeros: pagamos caro, os ônibus são velhos, demoram para passar, além do calor insuportável nos dias quentes. Se pudesse, trocaria sem pensar duas vezes”, afirma Florença Ruis, de 52 anos.

Ônibus
Demora é um dos principais problemas relatados (Henrique Arakaki, Midiamax)

Moradora do bairro Santa Emilia, Yasmin Mariana Resende, 24, enfrenta a jornada de seis ônibus diários para se locomover entre casa e trabalho. Para ela, o principal problema está na desassistência de quem mora nos bairros, que contrastam com os investimentos feitos no centro da cidade. Enquanto o centro recebe novos veículos e pontos equipados, nos bairros mais distantes o povo sofre com a precariedade e frota insuficiente.

“Tem rotas que mal têm ônibus, enquanto em outros locais, como o centro, sobram ônibus. O horário de espera é muito longo; se perco um, espero mais de uma hora até o próximo, e às vezes fico em pontos sem nenhuma segurança”, relata.

Seni Gratis
Seni Gratis, moradora de Campo Grande (Henrique Arakaki, Midiamax)

Para a aposentada Seni Grati, 61, Campo Grande não é uma cidade que incentiva alternativas de transporte sustentáveis, segundo ela para que as pessoas optem pelo transporte público ainda é necessário investir em muitas melhorias.

“Em cidades mais desenvolvidas, como Curitiba, eu pegaria ônibus sem problemas. Sei que é melhor para o meio ambiente, mas em Campo Grande a situação é difícil. O serviço é tão precário que só uso em emergência. Hoje, precisei pegar três ônibus só para ir ao médico porque não tinha ninguém para me levar”, ressalta.

Mobilidade Urbana

As demandas de quem vivencia transtornos diários, evidenciam a necessidade urgente de melhorias no sistema de transporte público em Campo Grande. Para o vereador e presidente da comissão de mobilidade urbana da Câmara Municipal, Professor André Luis, a resistência da população ao uso de transporte coletivo está diretamente ligada a falta de investimentos.

“Não temos uma política de estímulo ao uso do transporte público aqui. Hoje, Campo Grande é a cidade com a maior proporção de veículos por habitante, o que indica que o serviço não atende à população”, enfatiza o parlamentar.

Em relação ao custo pago pelos usuários, o vereador observa que a baixa demanda de passageiros contribui para o aumento das tarifas.

“A concessionária é remunerada com base na venda de passagens. Quando o número de passageiros é elevado, a concessionária obtém lucro; caso contrário, a prefeitura precisa subsidiar. Dado que a qualidade é precária, a população prefere investir em veículos particulares”, explica.

Campo Grande têm quase um veículo por habitante

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Centro de Campo Grande (Foto: Arquivo, Midiamax)

Dados do Detran-MS apontam que Mato Grosso do Sul possui uma frota atual de 1.798.452 veículos. Deste total, 35%, o que corresponde a 645.165 veículos, estão em Campo Grande. Levando em conta que a Capital possui 897.938 habitantes, a proporção é de aproximadamente 0,77 veículos para cada morador da cidade. Isso significa que há quase um veículo para cada morador da cidade.

Se comparado ao ano anterior, a frota de veículos subiu 4,84%, com 82.966 novos veículos nos últimos doze meses. Em 2022, o Estado contava com 1.715.486 veículos, sendo 617.691 somente em Campo Grande.

Tarifa zero

O vereador Professor André Luis destaca que, para que as pessoas passem a considerar o ônibus como uma alternativa viável, é necessário implementar políticas públicas de incentivo, como transporte rápido, preços acessíveis e veículos de boa qualidade.

“Para tornar o transporte mais rápido é preciso investir em linhas exclusivas, corredores de ônibus, que é algo que está sendo implantado aos poucos em Campo Grande”, enfatiza.

Para o parlamentar, uma proposta que poderia mudar a percepção ruim dos campo-grandenses, seria estabelecer horários específicos com tarifa zero, uma vez que o valor da passagem pago em Campo Grande, R$ 4,65, é um dos mais caros do país.

“Se tivesse tarifa zero em alguns horários, como das 19h às 23h, quem usa o ônibus entre 17h e 19h vai esperar um pouco mais para não pagar a tarifa. Isso diminui a lotação nos horários de pico e estimula que as pessoas usem os ônibus. O ideal seria um mês de tarifa zero”, disse o vereador.

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