Na segunda semana de vida, a recém-nascida Olívia já enfrenta as dificuldades do sistema público de saúde de Campo Grande. Com apenas 12 dias, a menina espera transferência para um hospital na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Jardim Leblon, mesma situação pela qual passa o pequeno Luiz Davi, de 3 anos, que também aguarda vaga no CRS (Centro Regional de Saúde) Tiradentes. 

“Ela está com manchas no pulmão e dificuldade para respirar. Colocaram ela no oxigênio e disseram que não conseguem fazer muita coisa aqui porque o remédio que ela precisa só tem no hospital”, comentou o pai da Olívia, o motoentregador Diego Camilo Leal, de 34 anos. 

Segundo ele, transferência da UPA já foi solicitada nesta quarta-feira (29), mas ainda sem previsão. Para a família, os últimos dias têm sido de aflição. “É muito difícil, a gente se sente de mãos atadas”, finaliza. 

Para Luiz, a espera é ainda maior. Segundo a tia, o menino espera há 5 dias por um leito em hospital. “Ele está com problema no pulmão e não tem vaga no hospital. Essa noite ele passou mal, está queimando de febre. Precisamos dessa vaga no hospital pelo amor de Deus”, comenta.

Sobre Olívia, a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) informou que “o pedido de transferência entrou hoje pela manhã e, por enquanto, não há previsão de transferência”. 

“A Secretaria Municipal de Saúde está em contato com os hospitais para tentar dar celeridade no encaminhamento. Cabe ressaltar que a paciente encontra-se com quadro estável e está recebendo toda a assistência possível na unidade de saúde”, informou o Município por meio de nota. 

Quanto a Luiz, a Secretaria afirmou que ele “está sendo acompanhado pela equipe da unidade de saúde enquanto aguarda vaga”. 

“Vale ressaltar que, no local, ele possui o atendimento adequado, sendo monitorado e reavaliado constantemente, com atualização do quadro e nova atualização do pedido de vaga no sistema todo momento em que o paciente passa por avaliação”, finalizou.

Sobrecarga no sistema de saúde

Mato Grosso do Sul tem 1.396 pacientes hospitalizados em decorrência de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave), são 170 a mais que há uma semana. As crianças seguem sendo as mais afetadas, representando 50% dos casos entre zero e 9 anos de idade.

Em Campo Grande, estão 755 notificações de SRAG e em Corumbá são 84, sendo os dois municípios com maior número de casos notificados. A incidência de SRAG é alta também em Alcinópolis, Fátima do Sul e Chapadão do Sul.

De acordo com a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), nos últimos 15 dias, houve aumento de 30% na demanda por atendimento nos postos de saúde de Campo Grande. A volta das aulas é o que explica o pico nos atendimentos.

A superlotação, com horas e horas de espera, se tornou rotina diária em unidades de saúde pública de Campo Grande, mas não se resume a elas. O cenário é parecido em hospitais particulares, que também vivem dias de superlotação, principalmente na ala pediátrica.

De acordo com a superintendente de Vigilância em Saúde de Campo Grande, Veruska Lahdo somente na semana passada, 53 crianças de zero a nove anos estavam internadas em decorrência da SRAG. Várias outras crianças aguardam em UPAs, por uma vaga em hospital.