No 2022 em que a meta era vencer a pandemia, MS lidou com novas ameaças à saúde
Além de enfrentar ameaça de nova onda, Estado se viu diante da varíola dos macacos e de onda antivacina
Clayton Neves –
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No dia 31 de dezembro de 2021, Mato Grosso do Sul estava com cerca de 380 mil casos confirmados e 9.728 mortes em decorrência da covid-19. No entanto, ficava a convicção de que com o avanço da vacinação, 2022 seria finalmente o ano em que decretaríamos o fim da pandemia após período sem precedentes na história da saúde pública.
Mas quase doze meses depois, dados da SES (Secretaria Estadual de Saúde) apontam que, de lá para cá, o cenário é distante daquele que se projetou e Mato Grosso do Sul se vê diante do aumento de diagnósticos positivos e da ameaça de novo surto da doença.
No acumulado do ano, outras 1.134 vidas foram perdidas para o novo coronavírus, enquanto milhares de outras lutaram contra o vírus.
Mortes em 2022 na pandemia
“Logo após as primeiras confirmações e mortes, se instalou um clima muito grande de temor, mas isso foi muito passageiro. Pouco tempo depois, o que vimos foi muito desrespeito às medidas de proteção que salvavam vidas”, lembra o ex-secretário estadual de saúde, Geraldo Resende, que esteve à frente da gestão da pandemia em Mato Grosso do Sul durante o maior período.
Desde 2020, Resende alertava para forte onda negacionista, apontada como um dos fatores determinantes para que a caminhada rumo ao fim da pandemia não fosse como se imaginava.
“Sempre foi alertado sobre o que deveria se fazer para reduzir a circulação do vírus, mas não foram poucos os casos de festas clandestinas quando o pedido era de isolamento social, por exemplo. Depois de a vacina chegar, também enfrentamos desinteresse e queda progressiva na procura pela imunização”, pontua.
Dados do “vacinômetro” estadual comprovam a análise do ex-secretário. Hoje, mesmo com a segunda dose de reforço disponível para moradores a partir de 18 anos, apenas 293.651 tomaram a quarta dose, o que representa pouco mais de 10% do total de 2.839.188 pessoas aptas a receber a vacina.
Pela análise dos dados, é possível notar tendência de redução no gráfico que faz o comparativo entre público-alvo e o total de imunizados. Receberam a primeira dose 2.263.382 pessoas, o que representa 88,81% do total que se espera atingir. Já em relação a D2 o índice cai para 78,66% dos moradores, um total de 1.975.310. O reforço um, ou terceira dose, foi disponibilizado a 1.189.413.
“A chegada da vacina da covid-19 fez crescer movimentos anti-vacinas que se utilizam de muitas informações falsas. Isso foi um fator que atrapalhou o trabalho do serviço de saúde, que sempre disponibilizou e ampliou o serviço”, comenta Veruska Ladho, superintendente de vigilância em Saúde de Campo Grande, que hoje acumula maior número de mortes e de casos confirmados da covid-19.
Efeito dominó na pandemia
Se não bastasse a baixa na procura pela vacina da covid-19 na pandemia, Mato Grosso do Sul acompanhou tendência nacional de desinteresse pelo imunizante. Movimento que, sem provas, colocou em cheque a segurança da imunização que desde sempre salvou vidas e garantiu saúde ao longo de anos.
Já erradicadas no País, poliomielite e sarampo, por exemplo, voltaram ao foco das discussões por causa da baixa vacinação. Com sinal de alerta aceso, recentemente a OMS (Organização Mundial da Saúde) emitiu aviso sobre o alto risco de que a poliomielite volte ao Brasil após 30 anos do último caso ser diagnosticado no País.
Regionalmente, menos da metade dos municípios de Mato Grosso do Sul conseguiu atingir a meta estabelecida pelo Ministério da Saúde de vacinar pelo menos 95% das crianças contra a poliomielite, conforme prevê o Ministério da Saide. Das 79 cidades, apenas 33 têm o índice de cobertura vacinal que se espera e aparecem na faixa verde do ranking.
Na sequência, 53 municípios aparecem na faixa amarela com desempenho abaixo do recomendado e outros três, Campo Grande, Bela Vista e Nova Alvorada do Sul, estão na faixa de risco com menos de 50% da meta alcançada.
No caso do sarampo, a história se repete. Segundo a SES, a vacina que protege contra a rubéola, caxumba e sarampo, a SCR, teve média de cobertura de apenas 45,50% neste ano, apenas metade dos 95% preconizados pelo Ministério da Saúde.
“Esse cenário é muito preocupando porque nos coloca novamente em frente a um cenário que já foi o responsável por muitas mortes. Vacinas são seguras e sempre salvaram vidas, mas parecem que muitos se esqueceram disso”, comenta o atual secretário estadual de saúde, Flávio Brito.
Varíola dos macacos e uma nova ameaça
Mal controlou-se a covid-19 e uma nova ameaça sanitária apareceu. Em 2022, Mato Grosso do Sul também precisou lidar com a chegada da Monkeypox, popularmente conhecida como varíola dos macacos.
A primeira notificação no Estado veio em maio e abalou as autoridades de saúde. Mais uma vez, o setor se via diante de uma doença da qual pouco se sabia.
Da primeira notificação, em maio, até o mês de outubro, a situação foi preocupante. Em junho, as notificações aumentaram para duas, em agosto saltaram para 131 e, no mês seguinte, atingiram o pico, com 182 casos em investigação.
No mês seguinte, outubro, o gráfico apresentou a primeira queda e foi para 125 notificações. Novembro 54 e, conforme boletim epidemiológico da segunda semana deste mês, dezembro segue sem novas indicações da Monkeypox, evidenciando controle da doença.
Ao todo, 160 testes feitos no Estado deram positivo para a doença e outros seis estão em investigação.
“Foi um novo momento que nos deixou em alerta. Por sorte, desde o início notou-se que com a varíola seria diferente do que aconteceu com a covid e isso pode-se notar com a queda de casos. A tendência é que esse controle permaneça para o próximo ano e, agora, sabemos que o enfrentamento à covid-19 foi uma escola para o combate a outras doenças”, avalia o secretário de saúde, Flávio Brito.
Uma velha conhecida
O ano que se encerra foi momento de aprender a lidar com doenças novas, mas também enfrentar velhas conhecidas como a dengue.
No início de 2022, o Estado enfrentou surto da doença. Até a segunda semana de dezembro, foram 25.859 casos prováveis da doenças e 22 óbitos confirmados.
No comparativo com o restante do País, Mato Grosso do Sul ocupa o novo lugar em maior incidência, que compara a média de casos com o total da população.
“Foi um ano de novos desafios, mas também de muito aprendizado. Mantivemos o plano de atendimentos de saúde e de oferta de vacinas. Ampliamos os alertas e informativos à população e levamos informação a todos os moradores, até àqueles em áreas mais afastadas. Tudo isso será mantido e até melhorado para o próximo ano e nosso apelo é para que as pessoas se cuidem, se vacinem, não se deixem enganar por fake news e não deixem de tomar medidas de proteção”, avalia Flávio Britto.
Para o secretário, a circulação de doenças como a covid-19 e a dengue ainda deve continuar pelo próximo ano, no entanto, com efeitos mais amenos se as recomendações das autoridades de saúde forem levadas em consideração.
“A covid-19, por exemplo, deve permanecer assim como a gripe, no entanto, a evolução para casos mais graves e mortes vão cair com a vacinação. Da mesma maneira, a dengue vai fazer menos vítimas se a população se atentar a fazer a limpeza de terrenos e não deixar água parada. Tudo precisa ser uma união de esforços”, finaliza.
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