As grades no entorno do Lago do Amor de Campo Grande, no campus da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), continuam barrando a passagem de animais silvestres da região, como é o caso das capivaras. Segundo especialistas, as barreiras confundem os animais que têm o local como habitat natural. Apesar de toda a polêmica envolvendo o caso, o que chama atenção é a instalação ter sido feita pela própria instituição de ensino, reconhecida por seus projetos e pesquisas em prol da preservação das capivaras em Campo Grande.

Vale destacar que a UFMS sempre esteve envolvida em estudos sobre a espécie. Recentemente, em abril deste ano, pesquisadores da universidade criaram o Guia de Identificação dos Vertebrados no Lago do Amor.

Conforme publicado pela UFMS, o objetivo é ajudar no reconhecimento e preservação dos diversos animais presentes na região – inclusive as capivaras. Para conferir a pesquisa, acesse aqui.

A universidade, por meio do Instituto de Biociências, também lidera projetos de pesquisa e monitoramento de capivaras que vivem em torno do campus e do Lago do Amor. Estudo virou até tema de dissertação de mestrado publicada há cerca de três anos.

O monitoramento continua vigente na UFMS conforme apurado pelo Jornal Midiamax.

Em 2017, a Universidade também entrou como parceira do Projeto QUAPIVARA, junto com o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul). Ação foi criada para reforçar a missão ecológica para diminuir o atropelamento de animais silvestres, bem como proteger as espécies que vivem em torno do perímetro urbano.

Além disso, o próprio corpo docente da universidade é composto por pesquisadores afincos do tema e ainda conta com Laboratório de Ecologia. O questionamento que fica é se, mesmo munida de tanto conhecimento, a UFMS pensou em outras formas de preservar o Lago do Amor sem interferir diretamente no trânsito de animais silvestres da região.

Cercas no lago impedem passagem de animais

A UFMS cercou o Lago do Amor, mas aparentemente se esqueceu que lá é rota de animais. Imagens gravadas por leitores do Jornal Midiamax mostram uma capivara tentando entrar no Lago do Amor e batendo nas grades instaladas recentemente. Ainda conforme a pessoa que gravou as imagens, a cena se tornou rotina no local.

Confira o vídeo:

Capivara tenta entrar no lago do amor, mas é impedida por cercas

O caso se tornou tão polêmico que a instalação da cerca pode virar alvo de investigação do Ministério Público de Mato Grosso do Sul. O advogado especialista em direito animal protocolou procedimento pedindo que o órgão abra inquérito para apurar no dia 31 de outubro.

O advogado Pablo Neves Chaves pontua que, pela Lei, a dignidade dos animais é princípio legal da mesma maneira como acontece com os seres humanos. “A Constituição protege o ambiente como bem ecologicamente equilibrado e determina que é tarefa do Poder Público e dever da coletividade proteger a fauna, impedindo as práticas cruéis contra a vida de animais”, pontuou.

Assim, solicitou a abertura de inquérito civil público para “averiguar a lesividade ao meio ambiente” e pediu que órgãos competentes realizem estudo de impacto ambiental na área com a instalação do cercado.

Possíveis impactos às capivaras

O biólogo José Milton Longo afirma que os bandos de capivara têm um aprendizado de rotas por onde passam para comer e as grades confundem os animais. “Poderia fazer uma passagem de fauna, essa é minha sugestão, que deixasse um espaço para os animais passar, visto que ali é um habitat deles”.

Além disso, especialista aponta que a ação pode trazer riscos a curto e longo prazo. “São necessários estudos mais direcionados para avaliar os possíveis impactos a curto e longo prazo, mas eles, os impactos negativos, já se mostram evidentes”.

Dentre esses pontos negativos, Milton destaca a interferência na paisagem, aumento de risco de atropelamento dos animais, tendo em vista que a cerca tem 250 m e só possui dois pontos de passagem, em seus extremos.

“Agora, a longo prazo, é possível que o cercamento contenha as populações dos animais da área do lago, após ‘aprendizado’, nos seus limites”, ressalta o biólogo.

O que diz a UFMS

De acordo com a UFMS, a instalação das grades contempla a extensão de 250 metros, com o objetivo de evitar o descarte de lixo no Lago do Amor e ampliar a proteção da biodiversidade, da fauna, da flora e das pessoas. Haverá trechos abertos para a circulação dos animais.

Assim, a equipe de reportagem acionou novamente a universidade a respeito das cercas no local, se houve estudo para a instalação e se as barreiras continuarão no espaço, mas não houve resposta até a publicação desta matéria. O espaço do Jornal Midiamax segue aberto para eventuais manifestações.