Remédio de R$ 7 mil sem estoque é usado contra superbactéria que causou mortes no HRMS

Estado fez empenho de R$ 606 mil, mas não consegue suprir demanda durante a pandemia

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No meio da pandemia, Mato Grosso do Sul sofre com a falta de antibiótico essencial para casos de pacientes em UTI (Unidade de Terapia Intensiva). A Polimixina B, usada para tratamento de bactérias super-resistentes, como a P. aeruginosa, pode ser encontrada por até R$ 7,8 mil. O HRMS (Hospital Regional de Mato Grosso do Sul) já passou por surto e até mortes causadas por pseudomonas multirresistentes, que são tratados com o medicamento que atualmente está em falta na instituição. 

A falta do medicamento recomendado pelo Guia Médico do HRMS para combate a superbactérias fez o surto de 2003 voltar à memória dos sul-mato-grossenses. Na época, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) fez levantamento e constatou 32 mortes de pacientes do hospital causadas pela superbactéria. 

Naquele ano, a bactéria foi encontrada em lavatórios para mãos das UTIs, na enfermaria, na pia em que os medicamentos eram preparados no 6º andar do HRMS e também na porta das UTIs adulto. O caso ficou entre os destaques nacionais e o MPE (Ministério Público Estadual) abriu investigação em 2003, mas ninguém chegou a ser punido pelas mortes. 

Depois de 18 anos, o hospital passa por superlotação nas UTIs Covid-19 e cenário grave nas UTIs para pacientes não Covid-19. Esses, por estarem em terapia intensiva, podem desenvolver bactérias que resistem aos antibióticos recomendados inicialmente. Assim, precisam fazer o uso de Polimixina B, para combater bactérias super-resistentes. 

Essencial para internados em UTI

O medicamento é extremamente importante em casos de internações em UTI, afirma o Sinmed MS (Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul). De acordo com o médico presidente do Sinmed MS, Marcelo Silveira, o uso é feito quando outros medicamentos já foram utilizados no paciente. “Polimixina é um tipo de antibiótico usado para combater bactérias mais resistentes. Para pacientes internados a longo prazo ele é sim essencial”. 

De acordo com pesquisa de pós-graduação em Medicina da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), as polimixinas são medicamentos descobertos em 1947 e com a mutação e resistência das bactérias, começaram a ser receitadas para combater Pseudomonas aeruginosa. “Com isso, a Polimixina é um dos principais antibióticos para fazer o combate a essas bactérias resistentes”. 

O uso do antibiótico não é exclusivo para pacientes Covid-19 e costuma acontecer em internações de UTI. “No entanto, com a pandemia, esses pacientes [Covid-19] permanecem muito tempo internados e possuem outras infecções além da Covid, esses antibióticos passaram a fazer uma demanda de uso muito grande”, explicou o presidente do Sinmed. 

Nem contrato de R$ 606 mil supre demanda

Mesmo com contrato de R$ 606.900 para aquisição de Polimixina B, Mato Grosso do Sul não consegue atender a demanda dos pacientes, inclusive de Covid-19. O medicamento, que é usado para internações em UTI está em falta no Estado. 

O contrato foi firmado entre o Governo de MS e a Opem Representação Importadora Exportadora e Distribuidora. A vigência vai de 18 de dezembro de 2020 até 18 de dezembro de 2021.

De acordo com o contrato, a empresa deve entregar 10.200 frascos de medicamentos em 10 parcelas, sendo 1.020 em cada mês. O valor de cada frasco é R$ 59,50.

O Governo fez empenho em dezembro de 2020, janeiro, fevereiro e março de 2020 de R$ 60.690 para cada mês. Já em abril, mês em que a falta de remédios foi revelada, foram empenhados R$ 121.380 dos cofres de MS. 

Falta de medicamentos, desespero das famílias

Por ser um medicamento de alto desempenho, ele ainda é receitado para que famílias decidam sobre o uso de forma privada, como no caso de pacientes internados em UTIs do HRMS por causa da Covid-19. 

De acordo com uma das famílias, foi receitado 1,5 frasco de Polimixina B de 12 em 12h, por 10 dias no paciente. “Hoje estivemos no hospital e ele está precisando de um medicamento com urgência que não tem em Campo Grande. Conseguimos achar fora daqui, custa R$ 7.800 as 30 ampolas e estamos precisando de ajuda para compra imediata”, explicou um familiar.

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