A devoção pelo veículo, principalmente o clássico e mais popular ‘quadrado’ — que parou de ser fabricado em 2013 —, é tamanha que foram criados grupos que reúnem amantes do veículo em Campo Grande. Há quatro anos com seu Uno Mille Way Economy preto, o professor de musculação Paulo Henrique de Bortoli, de 24 anos, é o criador do grupo UNO , que tem até página no Instagram.

A história de Paulo com o carro é de amor e ódio. “Eu antigamente, nos meus tempos de adolescência, não gostava do uno. Odiava ele. Aí, depois que tive um meu mesmo, aprendi a gostar, peguei amor e vi que o sal era doce e me apeguei”, contou ele ao Jornal Midiamax. O professor já está em seu segundo Uno. “Tive um antes desse, aí bateram em mim e comprei esse depois com o dinheiro do seguro”, disse. 

Paulo e seu Uno inseparável. (Fotos: Arquivo pessoal)

 

A paixão e cuidado pelo carro fizeram o educador físico Felipe de Sá, de 26 anos, até apelidar o seu Uno: branquelão, que está há quase seis anos ‘na família’ e também já ganhou um Instagram próprio. “Eu e meus amigos somos apaixonados por carros, praticamente todos têm dos carros deles”, revelou ele à reportagem. 

O Uno entrou na vida de Felipe pela acaso da necessidade. “Ele era o Uno de firma com escada em cima. Aí meu tio comprou e usou por alguns meses e me vendeu. No começo, eu só queria um carro, aí o Uno foi o que estava mais acessível, já por ser do meu tio, mas depois que eu comecei a usar todos os dias peguei gosto por ele”, relembrou. 

Famoso Branquelão do Felipe. (Fotos: Arquivo pessoal)

 

Para todas as horas

Tanto para Paulo quanto para Felipe, o Uno é o tipo de carro ‘que não te abandona’. “Temos uma chácara e por causa do seu porte médio e suspensão dura ele aguenta mais em estrada de chão e por ser um carro leve e ágil, é excelente em todas as ocasiões”, opinou Bortoli. “É um carro que aguenta tudo”, definiu Felipe. 

Ambos também concordam que uma das vantagens do carro é a economia. “É um carro diferente dos demais, tanto por ser econômico, a manutenção ser barata e também quase nunca estragar”, disse Felipe. “[Optei por ele] por causa da manutenção e viabilidade de peças e preços. Economia, robustez e beleza. Aprendi a ver isso depois que tive o carro”, comentou Paulo. 

Felipe rebaixou o Uno. (Foto: Arquivo pessoal)

 

Modificações

Outro atrativo para os amantes do Uno é a vasta possibilidade de modificar o carro. Modificações essas, feitas por Felipe, deixaram o Branquelão famoso. “O meu é bem diferente dos outros da cidade porque é praticamente um dos únicos desse modelo que está rebaixado e tem uns adesivos atrás, onde eu passo e meus amigos me veem tiram foto e já me mandam no WhatsApp. Já troquei a iluminação dele, a altura, o som e agora estou vendo um jogo de rodas maiores pra colocar nele”, relatou ele ao Jornal Midiamax.

O Uno de Paulo também é ‘tunado’ e as modificações deram um ar mais robusto e imponente ao carro. “Suspensão eu mexi para erguer o carro, automaticamente fica mais alto que o original. Rodas coloquei uma polegada maior e pneus automaticamente coloquei pneu maior, cerca de 80% maior que o original. Escapamento mudei totalmente, aumentei a polegada de cano e deixei ele sem abafadores nenhum. Faróis e iluminações também mudei e deixei tudo em ”, descreveu o professor de musculação. 

Ao contrário de Felipe, Paulo deu uma levantada no carro. (Foto: Arquivo pessoal)

 

Legado 

Com os dias contados, o Uno deixará a linha de produção por não se enquadrar nas novas leis de emissão da sétima fase do Proconve (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores), que serão implantadas em janeiro de 2022.

De acordo com dados levantados pelo Jornal Midiamax junto ao Detran/MS (Departamento Estadual de Trânsito de ), existem 24.787 Unos ativos em Campo Grande. Desse número, 3.086 são do Uno Mille Economy — o  modelo com mais veículos na Capital. Em segundo, aparece o Uno Mille Fire, com 2.786 carros rodando. 

Apesar de sair de linha, diferente do Palio e do VW Fox, que saíram de linha pela ‘porta dos fundos’, o Uno terá um final feliz. A Fiat dará ao clássico modelo uma edição especial de despedida, com unidades limitadas.

“Por um lado uma enorme tristeza, pois é um ótimo carro, a minha verdadeira paixão. E, por outro lado, vai valorizar. Ultimamente deu uma valorizada nos modelos. Futuramente vai ser carro de colecionador”, disse Felipe.

Já para Paulo, a e tristeza mesmo ficam a cargo do antigo modelo ‘quadradão’. “Esse novo uno não é tão bom quanto o quadrado. Esse modelo quadrado fez história e ficará marcado até daqui a 40 anos devido a um projeto bem feito de motor e lataria, suspensão e principalmente mercado”, opinou ele. 

E é justamente esse modelo que a Fiat pode usar na despedida, mas nada foi confirmado oficialmente. A nossa reportagem apurou no site especializado Mobiauto que a ideia da marca é criar uma série à la “Grazie Mille”, a edição de despedida da primeira geração do Uno, vendida em seus últimos dias como Mille.