Familiares de um homem de 54 anos com Covid-19, que enfrentou 3 dias de internação e foi intubado nesta madrugada na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Coronel Antonino, em Campo Grande, são um novo retrato da crise hospitalar que atinge Mato Grosso do Sul.
A família alega que tentou judicialmente, sem sucesso, vaga em UTI para garantir os cuidados emergenciais e cobravam providências do Governo do Estado nesse sentido.
Procurada pela reportagem, a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) confirmou neste sábado a transferência do paciente para o Hospital Regional de Mato Grosso do Sul, após liberação de leito e esforço do município na abertura de 10 novas vagas. O procedimento deveria ser concluído nas próximas horas.
Pedido judicial para se obter leito especializado ou mesmo a transferência para fora de Mato Grosso do Sul teriam sido negados em primeira instância, conforme relataram ao Jornal Midiamax, sendo alvo de recurso.
Miguel Novaes Rocha, 54 anos, teria apresentado os primeiros sintomas do coronavírus há cerca de uma semana. A filha, Larissa Gilioli Rocha, disse ter o levado para uma primeira consulta em unidade de Saúde e recebeu orientação para que prosseguisse com o tratamento em casa. “Disseram para a gente esperar 3 dias, afirmou ela”.
No período, o pai teria piorado. “Saí do serviço e fui em casa e ele estava com falta de ar e dificuldade para sentar. Então levei no Proncor e o médico mandou internar ele na hora, mas não tinha leito lá. Então levamos para a UPA e agora estamos nessa luta”, afirmou Larissa, que disse ter pago pelos exames e consulta particulares.
A intubação seria resultado do comprometimento pulmonar, que funcionaria a 70% da capacidade, segundo ela. Com a internação na UPA e a falta de leitos hospitalares para tratamento de Covid-19 no Estado, Larissa disse que também recorreu à Defensoria Pública e à Justiça para tentar a vaga, sem sucesso na primeira instância.
“Negaram pedido para abrir leito de UTI para o meu pai e não estão querendo transportar para fora do Estado. Então por que não abre vaga aqui?”, questionou a filha do paciente, ao cobrar os cuidados especializados.
Sesau confirma transferência e reforça abertura de 10 novos leitos
Procurada na manhã deste sábado (12), a assessoria da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) informou que o paciente seria transferido nas próximas horas em regime de “vaga zero” para o HR. No entanto, informou haver outros pacientes em situação semelhante, que vêm sendo assistidos nas UPAs dentro das possibilidades.
A Secretaria lembrou que as UPAs foram equipadas com leitos de suporte ventilatório, além de passarem por reestruturação para contarem com equipe multidisciplinar com médicos, enfermeiros, técnicos, fisioterapeutas e nutricionistas, além de equipamentos, insumos e materiais para assistência a pacientes críticos. A garantia é que, dentro das limitações existentes, é oferecido atendimento “da melhor maneira possível”.
Além disso, a Sesau também atuou para a abertura de mais vagas de terapia intensiva a fim de mitigar os efeitos da superlotação hospitalar decorrente da Covid-19. Dez leitos foram habilitados no Hospital do Pênfigo, na saída para Sidrolândia, para desafogar os outros hospitais e atender a demanda represada das UPAs.
A situação hospitalar em Mato Grosso do Sul ganhou o noticiário nacional, diante da superlotação nas UTIs em praticamente todas as macrorregiões. A divulgação de índices acima de 100% de ocupação eram reflexo da sobrecarga dos leitos públicos e de esforços de gestores na busca por mais leitos.
Neste sábado, como noticiado pelo Jornal Midiamax, o dia começou com 102,85% de superlotação: são 597 vagas disponíveis para 614 internados, 17 acima da capacidade de pacientes graves. Dos 1.172 leitos clínicos, 898 são ocupados.
Sem leitos de terapia intensiva, Mato Grosso do Sul vem, há alguns dias, despachando pacientes para tratamento em outros Estados. Já são 29 sul-mato-grossenses internados em outras regiões do país por meio de transferência, 4 deles encaminhados nesta sexta-feira (11).