Idealizada para ser um local de para as famílias campo-grandenses, a Orla Morena se tornou um ponto de venda e consumo de drogas. Nos últimos anos, os moradores também viram a criminalidade e a insegurança crescer na região, com assaltos e invasões de comércios e residências, mesmo durante o dia.

A pedido dos moradores, eles não serão identificados nesta reportagem. Desistindo de morar na região, uma mulher, de 36 anos, encerrou o contrato com a imobiliária da casa que alugava porque não aguentou lidar com a insegurança. Até então, ela morava perto da pista de skate, localizada na Orla. 

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Nas casas da rua, cerca elétrica e concertina são itens frequentes (Foto: de França / Jornal Midiamax)

“Vim morar aqui em fevereiro deste ano e hoje estou limpando a casa para entregar. Há algumas semanas tinha um jovem roubando o celular das pessoas. Aqui ficam traficantes e pessoas usando drogas, passam muitos moradores de rua e sempre tem muita bagunça, não me adaptei”, disse ela.

Indignada, ela acredita que o espaço é muito bom para a população, mas afasta muitas famílias em razão da criminalidade. “É um bom lugar, mas você não consegue usufruir. Algumas famílias vêm pra aproveitar e não conseguem porque ficam pessoas usando drogas”, explicou.

Ataques ao comércio local 

Com experiência de anos na região, comerciante de 70 anos conta que já foi assaltado mais de 10 vezes e notou um aumentou considerável da criminalidade nos últimos anos. “Os clientes falam de ladrão roubando as casas da região, de cinco anos pra cá a ‘ladroagem' aumentou muito. Já sofri vários assaltos a mão armada no meu comércio. Em uma das vezes, fui agredido pelo criminoso que ainda me chamou de vagabundo”, disse ele.

Para a sócia de uma conveniência, os criminosos têm sempre o mesmo perfil e agem da mesma forma, deixando uma sensação constante de insegurança. “Acho que eles roubam para usar drogas, é sempre a mesma característica. É sempre de madrugada e, esse ano, já invadiram o meu comércio, levaram o que estava ao alcance das mãos, mas fugiram com o alarme. No grupo dos moradores, os vizinhos sempre falam desses casos”, disse a empresária de 38 anos.

Assaltos e invasões de dia

Para quem estava em casa e teve a residência invadida às 10 horas da manhã, fica o sentimento de desamparo e insegurança no bairro. “No dia anterior, um vizinho teve a casa invadida. Na sexta-feira, 27 de agosto, eu e minha mãe estávamos dormindo, um homem arrombou o portão do vizinho, roubou a casa dele e depois pulou para a nossa casa. Ele arrombou o portão da nossa varanda e levou minha bicicleta”, disse a fotógrafa de 20 anos.

Depois da invasão, o medo se tornou constante e a família virou prisioneira da própria casa, criando um trauma na rotina das duas. “Em casa, estamos usando cadeados até nas janelas. Emocionalmente, a sensação é de aprisionamento. Não me sinto segura no meu próprio quintal. Desenvolvi um pânico que não conhecia, pela manhã costumava ficar no quintal com meus cachorros, deixava a porta da cozinha aberta para ventilar a casa durante o dia, hoje isso já não é possível. Abrimos as portas somente para entrar e sair. Ficar de bobeira na garagem ou no quintal não é a mesma coisa, ficamos em estado de alerta o tempo todo”, explicou.

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Criminoso arrombou o portão e invadiu algumas residências (Foto: Arquivo Pessoal)

 

A fotógrafa conta que o problema é recorrente no bairro, e que a população já não aguenta mais lidar com a situação. “No ano passado, invadiram a casa da minha vizinha da frente, com ela e os filhos dentro. O rapaz estava sob efeito de drogas e manteve eles reféns. Ela aumentou a segurança da casa elevando os muros e colocando cercas. Vejo meus vizinhos cada vez mais presos dentro de suas casas e com medo”, finalizou.

Às 11h da manhã, no dia 16 de agosto, uma artista, de 29 anos, foi assaltada perto da região que recebe a feira da Orla, enquanto se deslocava para chegar a casa de seus pais. “Estava andando e vi dois caras atravessando a rua e um deles me olhando. Estava a uma quadra da casa dos meus pais e com celular na mão. Senti um impacto e alguém puxando meu punho pra baixo. Ele me jogou no chão e me deu um chute. Depois, vi ele correndo em direção a um carro preto”, disse ela.

Desolada e ainda abalada, ela almeja por um bairro com mais segurança e que não seja necessário ter medo de andar na rua. “Eu vivo, quero paz. Não quero ter que andar nas ruas a espera de um assalto”, finalizou a artista. 

O que diz a PM

Ao Jornal Midiamax, a Polícia Militar informou, por meio da assessoria de imprensa, que o batalhão que atende a região está ciente dos casos relatados pelos moradores. “O policiamento na Região da Orla Morena é realizado diuturnamente pelas radiopatrulhas do 1º BPM. No mês de agosto, foram realizadas cerca de quatro operações policiais militares por semana nas regiões consideradas mais sensíveis do Centro, dentre elas a Orla Morena”.

Ainda segundo a corporação, para este mês de setembro estão previstas operações diárias para coibir os crimes.